Em palestra na comemoração do 46º aniversário do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Veloso alertou para a volta da vulnerabilidade externa, expressa no crescente déficit em transações correntes. Com juros altos e câmbio sobrevalorizado, ele não crê na inversão desse quadro. "Estamos ameaçados da volta da "velha senhora" (a crise cambial), com as importações crescendo 46% nos primeiros nove meses do ano", advertiu. Para o ex-ministro, a questão do Brasil não é a guerra cambial, mas a taxa de juros, que ajuda a depreciar o dólar. "Precisamos evitar falsas dicotomias, como a opção entre commodities e a produção de maior valor agregado. O Brasil precisa fazer os dois. E os setores intensivos em recursos naturais podem ser alavanca para o desenvolvimento tecnológico", disse, defendendo a formação de grupos executivos para gerenciar o trabalho de instituições em torno de projetos estratégicos de desenvolvimento, "a exemplo do que aconteceu no Plano de Metas do presidente Juscelino Kubitschek". Ressaltando que "desenvolver é diferente de crescer", o ex-ministro comparou a crise de 1929, da Grande Depressão, com o cenário atual, que ele classifica como Grande Recessão. Veloso defendeu que, tal como nos anos 30, o Brasil aproveite a crise para se desenvolver de maneira autônoma. "Por que não somos desenvolvidos? Porque fizemos opções erradas e perdemos a corrida, que é de longa distância. Em 1820, a relação renda per capta do Brasil com os Estados Unidos era de 1 para 1,7. Nós optamos pelo modelo agroexportador escravagista. Os EUA, já em 1914, eram a maior economia do mundo. Naquele ano, a relação renda per capta passou para 6,5", resumiu.
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