Minc e o modismo indiano
Geógrafo de formação e ativista político profissional desde a juventude, o ministro do Meio Ambiente, o carioca Carlos Minc Baumfeld, parece querer tratar o Amazonas como o modismo da novela das 8 propõe tratar as vacas sagradas na Índia. Ao menos é isso que o presevacionismo equivocado de suas posições sobre a recuperação da BR 319 sugere. Uma postura que carece de fundamentos e revela um danoso descomprometimento com os interesses sócio-ambientais de nossa gente. Ele acusa o ministro dos Transportes de transformar em bandeira política a recomposição da estrada e – ironicamente - disso tem feito um barulho bem ao gosto de ambientalismo carioca de Ipanema, no Rio de Janeiro, onde se concentram seus eleitores.
Não precisa ser especialista em engenharia ambiental para detectar que não há precedente na história da engenharia de tráfego do país em termos de cuidados ambientais para a recuperação de uma rodovia como a BR 319, cujo entorno será transformado em Unidades de Conservação Ambiental na proporção de 95% da área de influência. Os estudos de impacto ambiental, feito por respeitáveis técnicos da academia local, são de vanguarda e já demonstraram que a área não é adequada à pecuaria nem à extração predatória de madeira. Daí a falta de lenha para a pirotecnia ambiental do ministro.
Além do mais, excelência, há que se respeitar sempre os anelos do povo. Os amazonenses, nascidos e adotados, querem a estrada e tem autoridade e credencial ambiental para exigir este direito. Temos mais de 95% da cobertura vegetal original preservada, e as derrubadas para o traçado viário em questão já foram feitas. Pagamos, é vital que se diga, a logística mais cara do país e nossa população – a negócios, saúde ou férias - só viaja para o resto do país por barco ou avião. Dados recentes da UNICEF, a propósito, dizem que 160 mil adolescentes no interior da Amazônia estão fora da escola em grande parte por falta de transporte. A pobreza polui, ministro, moral e ambientalmente, por isso a infra-estrutura do progresso - sustent ável, é claro - se impõe. É hora de mobilizar o Estado numa cruzada de indignação e esclarecimento, com todo respeito, contra esses modismos, descompromissos e omissões sócio-ambientais que nos atingem... como a novela das 8.
Zoom-zoom
· Exclusão e promiscuidade – Os dados da UNICEF, publicados nesta semana, falam ainda de 90 mil adolescentes analfabetos, e, entre eles, as taxas elevadas de exclusão social no beiradão amazônico detectam milhares de crianças e jovens sem certidão de idade, a absoluta ausência da cidadania e um prato suculento de escravidão e promiscuidade.
· Chefes de Família – No Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre e Amapá, mais de dez em cada mil famílias são chefiadas por adolescentes. E no país passa de 233 mil o número de adolescentes que já são chefes de família. Gravidez precoce, orfandade e ausência do poder público são alguns dos fatores apontados como causas pelo IBGE.
· Educação e constrangimento – Estamos virando pauta, com freqüência, nas manchetes do constrangimento global com as baixas taxas de desempenho do país no conjunto das nações e seus investimentos em educação e qualificação de recursos humanos. Daí os indicadores perversos da UNICEF e do IBGE no que diz respeito à infância e adolescência amazônica.
· Copa e Futebol – Teve excepcional acolhida a Mira sobre Manaus e a Copa, da semana passada, com insistentes apelos para que houvesse uma mobilização de todos os atores sociais para resgatar as tradições do futebol amazonense, há mais de duas décadas ausente da elite do futebol brasileiro. Eis um sedutor desafio!
Belmiro Vianez Filho é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.
belmirofilho@belmiros.com.br
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