De forma compreensível, as discussões públicas sobre a parceria França-Brasil estão se centrando no pacote de armamentos, mas as suas repercussões estratégicas na presente reconfiguração do cenário mundial vão muito além do salto qualitativo que a incorporação dos novos submarinos, helicópteros e aviões de combate avançados irá por si só proporcionar às Forças Armadas brasileiras (no caso da licitação do Projeto FX2, embora a decisão oficial ainda não tenha sido anunciada, poucos acreditam que ela poderá mudar depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a sua preferência pelo Dassault Rafale).
O Brasil tem antigas relações com a França nas áreas de organização e tecnologia militares. Entre 1918 e 1940, coube à Missão Militar Francesa catalisar uma importante atualização organizacional e na visão estratégica do Exército brasileiro, inclusive no tocante ao emprego militar da aviação. No final da década de 1920, foi lá que estudou Engenharia Aeronáutica o tenente do Exército Antonio Guedes Muniz, que projetou os primeiros aviões brasileiros construídos em série, os biplanos de treinamento Muniz M-7. Mais tarde, na década de 1960, o engenheiro Max Holste chefiou o projeto do Bandeirante, o avião que motivou a criação da Embraer. E também foi a França que proporcionou à Força Aérea Brasileira (FAB) um dos grandes saltos tecnológicos de sua história, com os caças supersônicos Dassault Mirage III, na década de 1970. Assim, os aspectos tecnológicos e militares da parceria estratégica estabelecida entre os dois países em dezembro de 2008, assim oficialmente denominada e referendada pelos presidentes Lula e Nicolas Sarkozy, em 7 de setembro, têm antecedentes históricos e relevância própria, mas o alcance potencial da proposta ultrapassa em muito as repercussões daquelas iniciativas anteriores e dos armamentos em si.
De fato, não é todo dia que um megapacote de aquisição de armamentos como esse é anunciado e este tem sido o aspecto mais ressaltado pela mídia brasileira e internacional, principalmente a francesa, que deu grande destaque às declarações de Lula favoráveis ao caça francês, no que seria a primeira venda do Rafale no exterior. Em termos estritamente militares, embora os aviões de combate costumem chamar mais atenção da mídia e do público em geral, e os 51 helicópteros Eurocopter EC-725 irão sem dúvida proporcionar um importanteupgrade às três forças singulares quanto ao uso deste tipo de aeronave, os submarinos são os destaques do acordo.
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terça-feira, 29 de setembro de 2009
Parceria Brasil-França
Implicações estratégicas
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