Cerrado, "bola da vez" do ambientalismo geopolítico
Nilder Costa
(Alerta em Rede) Dia 11 passado, quando foi comemorado o Dia do Cerrado, o performático ministro do Meio Ambiente Carlos Minc aproveitou para divulgar um estudo mostrando que quase a metade do bioma em festa já havia sido “destruído” e que, comparado à Amazônia, já emite o mesmo nível de CO2 e desmata o dobro.
Evidentemente, a pecuária extensiva e o plantio da soja para exportação são apontados como os vilões da degradação do Cerrado.
A partir do ano que vem, o MMA pretende deslanchar um plano inédito de combate ao desmatamento no Cerrado e Minc já avisou que a “queda de braço” com seu colega da Agricultura, Reinhold Stephanes, será ainda maior que maior que aquela travada em meio às ações de monitoramento das áreas devastadas na Amazônia:
“É claro que a primeira reação será a de que é um absurdo, de que querem asfixiar o cerrado, mas isso não é verdade. A intenção é criar mecanismos que deem um estímulo econômico a atividades sustentáveis que produzam muita carne, muito grão, mas sem acabar com nossa biodiversidade.”, disse Minc. [1]
Nos próximos dias, o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado – ou PPCerrado, deverá ser colocado em consulta pública e pretende conferir ao bioma o mesmo tratamento dado à Amazônia.
Como seria de se esperar, na festa comemorativa ao Cerrado, em Brasília, não faltaram indígenas de diversas etnias que fizeram o ritual da corrida de toras na rampa do Congresso Nacional e chegaram mesmo entrar com elas no Salão Negro, onde foram recebidos por alguns parlamentares.
Cabe recordar que, a cerca de 50 anos atrás, o Cerrado era descrito nos livros escolares como uma região de vegetação rala e pouco propícia para a agricultura. A revolução que se deu a partir de então foi fruto de intensos estudos e trabalhos científicos e tecnológicos para “corrigir” a natureza, onde destacaram-se a Embrapa e pesquisadores do quilate de Johanna Döbereiner, que descobriu que bactérias poderiam ser utilizadas para diminuir a necessidade de gastos com adubos químicos, permitindo a expansão de culturas subtropicais em direção ao Equador. Não menos importante foi a verdadeira “marcha para o Oeste” empreendida por Getúlio Vargas, ainda na década de 1940 com as expedições Roncador-Xingu, posteriormente amplificada no governo Juscelino Kubistchek com a construção de Brasília e artérias viárias como a Belém-Brasília, cujo traçado original era conhecido como o “Caminho das Onças”. Foi esse impulso civilizatório que propiciou a transformação do Cerrado no que o prêmio Nobel da Paz e mentor da “revolução verde”, Dr. Norman Borlaug, cunhou de Celeiro do Mundo, algo muito distante da “destruição” da região apregoada pelos ambientalistas. Lamentavelmente, Borlaug faleceu na semana passada aos 95 anos, a maior parte dos quais dedicada à produção de alimentos para erradicar a fome no mundo. [2]
De fato, essa renovada ofensiva dos ambientalistas e aliados para “salvar” o Cerrado obedece a uma lógica perfeitamente inteligível: como obtiveram êxito relativo em obstaculizar o avanço socioeconômico na Amazônia, a ordem agora é fazer recuar a fronteira agrícola o mais ao Sul que consigam, seja por meio da criação de reservas ambientais para tamponar as ligações Cerrado-Amazônia, seja por meio da elevação do Cerrado à condição de patrimônio ecológico segundo a Proposta de Emenda Constitucional que já tramita no Congresso. Em suma, o desenho é empreender uma espécie de “contra-marcha para o Oeste” e, se pudessem, fazer restaurar o antigo “Caminho das Onças”.
Notas:
[1]Ambientalistas e ruralistas travam novo round com o plano de combate ao desmatamento no cerrado, Correio Braziliense, 12/09/2009
Nilder Costa
(Alerta em Rede) Dia 11 passado, quando foi comemorado o Dia do Cerrado, o performático ministro do Meio Ambiente Carlos Minc aproveitou para divulgar um estudo mostrando que quase a metade do bioma em festa já havia sido “destruído” e que, comparado à Amazônia, já emite o mesmo nível de CO2 e desmata o dobro.
Evidentemente, a pecuária extensiva e o plantio da soja para exportação são apontados como os vilões da degradação do Cerrado.
A partir do ano que vem, o MMA pretende deslanchar um plano inédito de combate ao desmatamento no Cerrado e Minc já avisou que a “queda de braço” com seu colega da Agricultura, Reinhold Stephanes, será ainda maior que maior que aquela travada em meio às ações de monitoramento das áreas devastadas na Amazônia:
“É claro que a primeira reação será a de que é um absurdo, de que querem asfixiar o cerrado, mas isso não é verdade. A intenção é criar mecanismos que deem um estímulo econômico a atividades sustentáveis que produzam muita carne, muito grão, mas sem acabar com nossa biodiversidade.”, disse Minc. [1]
Nos próximos dias, o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado – ou PPCerrado, deverá ser colocado em consulta pública e pretende conferir ao bioma o mesmo tratamento dado à Amazônia.
Como seria de se esperar, na festa comemorativa ao Cerrado, em Brasília, não faltaram indígenas de diversas etnias que fizeram o ritual da corrida de toras na rampa do Congresso Nacional e chegaram mesmo entrar com elas no Salão Negro, onde foram recebidos por alguns parlamentares.
Cabe recordar que, a cerca de 50 anos atrás, o Cerrado era descrito nos livros escolares como uma região de vegetação rala e pouco propícia para a agricultura. A revolução que se deu a partir de então foi fruto de intensos estudos e trabalhos científicos e tecnológicos para “corrigir” a natureza, onde destacaram-se a Embrapa e pesquisadores do quilate de Johanna Döbereiner, que descobriu que bactérias poderiam ser utilizadas para diminuir a necessidade de gastos com adubos químicos, permitindo a expansão de culturas subtropicais em direção ao Equador. Não menos importante foi a verdadeira “marcha para o Oeste” empreendida por Getúlio Vargas, ainda na década de 1940 com as expedições Roncador-Xingu, posteriormente amplificada no governo Juscelino Kubistchek com a construção de Brasília e artérias viárias como a Belém-Brasília, cujo traçado original era conhecido como o “Caminho das Onças”. Foi esse impulso civilizatório que propiciou a transformação do Cerrado no que o prêmio Nobel da Paz e mentor da “revolução verde”, Dr. Norman Borlaug, cunhou de Celeiro do Mundo, algo muito distante da “destruição” da região apregoada pelos ambientalistas. Lamentavelmente, Borlaug faleceu na semana passada aos 95 anos, a maior parte dos quais dedicada à produção de alimentos para erradicar a fome no mundo. [2]
De fato, essa renovada ofensiva dos ambientalistas e aliados para “salvar” o Cerrado obedece a uma lógica perfeitamente inteligível: como obtiveram êxito relativo em obstaculizar o avanço socioeconômico na Amazônia, a ordem agora é fazer recuar a fronteira agrícola o mais ao Sul que consigam, seja por meio da criação de reservas ambientais para tamponar as ligações Cerrado-Amazônia, seja por meio da elevação do Cerrado à condição de patrimônio ecológico segundo a Proposta de Emenda Constitucional que já tramita no Congresso. Em suma, o desenho é empreender uma espécie de “contra-marcha para o Oeste” e, se pudessem, fazer restaurar o antigo “Caminho das Onças”.
Notas:
[1]Ambientalistas e ruralistas travam novo round com o plano de combate ao desmatamento no cerrado, Correio Braziliense, 12/09/2009
[2]A "marcha para o Cerrado", Alerta Científico e Ambiental, 27/09/2004
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