quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Argemiro Ferreira


Veemência de Lula forçou a ação da ONU

Poucas horas depois de seu veemente discurso (leia AQUI) na Assembléia Geral da ONU, o presidente Lula já poderia fazer ontem um balanço surpreendentemente favorável do episódio do “abrigo” dado pela embaixada do Brasil em Tegucigalpa ao presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya – expulso há três meses do palácio presidencial e do país pelo golpe que instalou Roberto Micheletti no poder.
A volta a Honduras do presidente legítimo criou um fato novo. O governo Obama – devido à diplomacia sinuosa conduzida pela secretária de Estado Hillary Clinton, antes ambígua e apoiada em personagens duvidosos herdados do governo Bush, como Hugo Llorens e Thomas Shannon – parecia disposto a fazer corpo mole até ser consumido todo o restante do mandato de Zelaya (leiaAQUI, AQUI e AQUI) numa tática destinada a favorecer os objetivos golpistas.
O regime do golpe não conseguiu ser reconhecido por qualquer país, mas sabotou e fez fracassar a mediação do presidente costarriquenho Oscar Árias – uma idéia infeliz de Washington, marginalizando a OEA. Agora, ao contrário, o Brasil revigorou o processo, forçou compromisso do governo Obama com a democracia e mobilizou a OEA e em especial a ONU, que afinal tomou suas primeiras medidas concretas (o debate no Conselho de Segurança é previsto para amanhã).
O secretário geral Ban Ki-moon (foto ao lado) suspendeu temporariamente a assistência técnica atualmente dada pela ONU ao Supremo Tribunal Eleitoral de Honduras, por não acreditar que haja condições neste momento de se fazer eleições com um mínimo de credibilidade e capazes de devolver a paz e a estabilidade ao país. O regime do golpe tentava impingir a votação com os adversários acuados e a imprensa sob controle.

O fato novo que mudou tudo

O secretário geral citou a preocupação da ONU com as denúncias de violações dos direitos humanos (o regime também reprime a mídia contrária ao golpe, como acusou o grupo Repórteres Sem Fronteiras). Ao mesmo tempo, conclamou os golpistas a respeitarem os tratados e convenções internacionais ratificados por Honduras, inclusive – e principalmente – a inviolabilidade da missão diplomática do Brasil.
Convencido de que o fim da crise hondurenha exige acordo consensual, Ban Ki-moon apoiou as tentativas regionais de mediação e conclamou todos os atores políticos a redobrarem esforços nessa direção. Uniu-se ainda à OEA e aos líderes regionais e fez apelo em favor de um acordo, conclamando à busca ao diálogo – para o qual a ONU está pronta a colaborar (leia a cobertura da Reuters no New York Times AQUI).
Nada disso aconteceria sem a cobrança enfática de Lula, ante o cerco dramático à embaixada brasileira, ao abrir a Assembléia Geral. Mas no Brasil isso é pretexto para a nova campanha da mídia golpista – para variar, contra o país mais do que contra o presidente. Às explícações claras e lúcidas do ministro do Exterior Celso Amorim sobre a chegada de Zelaya à embaixada de Tegucigalpa, ela prefere imaginar seus próprios complôs fantasiosos.
O que o ministro relatou na entrevista – em Nova York, duas horas e meia após a chegada de Zelaya à embaixada – a jornalistas brasileiros e estrangeiros desmente a versão intrigante da mídia golpista, que apóia o golpe de Honduras como em 1964 apoiava o do Brasil e, depois, os 20 anos de ditadura. Na visão distorcida dela, o governo Lula foi parte de uma trama da Venezuela de Hugo Chávez com Zelaya.

A irresponsabilidade sem limite

O quadro exposto por Amorim na primeira entrevista sobre o caso em Nova York (clique no YouTube ao fim deste post para ouví-lo) não deixava margem a dúvida. Mas a mídia golpista, habituada a fabricar estratégia para a oposição demo-tucana de virgílios, agripinos, maias & freires, anunciou nas horas seguintes outra de suas desastradas e pândegas investigações parlamentares – do tipo mensalão, dossiê fajuto, apagão aéreo, marolinha, Sarney, Petrobrás, etc.
Nada resultou de nenhuma, já que elas tinham em comum seu caráter destrutivo. Sistematicamente contra o Brasil e os brasileiros, só buscam prejudicar os interesses do país e comprometer sua imagem no mundo. Como o esforço (que ainda persiste) contra a Petrobrás no momento mesmo em que essa empresa, orgulho nacionl, faz sua maior e mais consagradora descoberta.
Comparem o relato de Amorim com as manchetes irresponsáveis de O Globo na terça-feira (“Brasil abre embaixada para Zelaya tentar retomar o poder em Honduras”) e na quarta (“Ação do Brasil acirra crise e tensão cresce em Honduras”). A “Folha”, ao menos, limitou as manchetes ao factual: terça, “Zelaya volta e se refugia na embaixada brasileira”; quarta, “Honduras sitia a Embaixada do Brasil”. De certa forma é também o caso do Estado de S.Paulo hoje, ao sugerir o que parece fazer sentido: Zelaya, por sugestão de Chávez, teria percebido ser a embaixada brasileira a que melhor serviria a seus propósitos (leia o texto na íntegra AQUI).
A obsessão golpista do império Globo gera jornalismo de esgoto. No jornal, TV e penduricalhos. Não há limite para a leviandade. Bom exemplo é a gravação de áudio ridículo no qual uma brasileira, Eliza Resende Vieira, vocifera contra Zelaya – e contra o Brasil, por defender a democracia e a vida dele, o que cria embaraços para gente como ela. Parecia comercial, repetido à exaustão pelos irmãos Marinho em diferentes programas, veículos e horários.
(Clique abaixo para ouvir a explicação e as respostas de Celso Amorim)


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