sábado, 26 de setembro de 2009

Poesia brasileira...



Catulo da Paixão Cearense

Nasceu Catulo da Paixão Cearense em 8 de outubro de 1863, em São Luiz ,Estado do Maranhão, à rua Grande, (hoje Oswaldo Cruz) nº 66. Filho de Amâncio José Paixão Cearense (natural do Ceará) e Maria Celestina Braga ( natural do Maranhão). Sua infância até os 10 anos se passou em São Luiz do Maranhão. Transferiu-se para o sertão agreste cearense onde seus avós maternos portugueses eram fazendeiros, permanecendo por lá até os 17 anos. Em 1880 em companhia de seus pais e irmãos (Gil e Gerson) mudou-se para o Rio de Janeiro, na rua São Clemente nº 37, Botafogo. Aos 19 anos interrompeu os estudos e abraçou o violão, instrumento naquela época, repelido dos lares mais modestos.Iniciante tocador de flauta, a trocou pelo violão, pois assim, podia cantar suas modinhas. Nesse tempo passou a escrever e cantar as modinhas como, “Talento e Formosura”, “Canção do Africano” e “Invocação a uma estrela”. Moralizou o violão levando-o aos salões mais nobres da capital. Em 1908, deu uma audição no Conservatório de Música. Catulo foi autodidata autentico. Suas primeiras letras foram ensinadas por sua genitora e toda sua grande cultura foi adquirida em livros que comprava e por sua franquia à Biblioteca do Senador do Império, por ser professor dos filhos do Conselheiro Gaspar da Silveira . “Aprendi música, como aprendi a fazer versos, naturalmente”, dizia o Velho Marruêro. Seu pai faleceu em 1 de agosto de 1885, desgostoso por seu filho ter abandonado os estudos para ser poeta, sem tempo de assistir a moralização do violão, o que veio a marcar tremendamente Catulo. À medida que envelhecia mais se aprimorava. Catulo homem, não se modificava, sempre fiel ao seu estilo. “...Com gramática ou sem gramática, sou um grande Poeta..”. A sua casinhola em Engenho de Dentro, afundada no meio do mato era histórica. Alí recebia seus admiradores, escritores estrangeiros, acadêmicos nacionais, sempre com banquetes de feijoada e o champagne nunca substituía o paratí, por mais ilustre que fosse o visitante. As paredes divisórias eram lençóis e sempre que previa a presença de pessoas importantes, dizia para a mulata transformada em dona de casa. “Cabocla , lave as paredes amanhã , que Domingo vem gente!” Sua primeira modinha famosa “Ao Luar” foi composta em 1880. Em algumas composições teve a colaboração de alguns parceiros: Anacleto Medeiros, Ernesto Nazareth, Chiquinha da Silva, Francisco Braga e outros. Como interprete, o maior tenor do Brasil, Vicente Celestino. Catulo morreu aos 83 anos de idade, em 10 de maio de 1946,a rua Francisca Meyer nº 78, casa 2. Seu corpo foi embalsamado e exposto a visitação pública até 13 de maio, quando desceu a sepultura no cemitério São Francisco de Paula , no Largo do Catumbí, ao som de “Luar do Sertão”. Catulo deixou inúmeras obras, tais como; Canções musicadas - Luar do Sertão - Choros ao Violão - Trovas e Canções - Cancioneiro Popular - A Canção do Africano - O Vagabundo - Etc...


Livros de Poemas: - Meu Sertão - Sertão em Flor - Poemas Bravios - Mata Iluminada - Poemas Escolhidos - O Milagre de São João - Etc....

Obras teatrais; - O Marroeiro - Flor da Santidade - E o clássico “Um Boêmio no Céu “.


Um Boêmio no Céu
(O boêmio com temor à S Pedro)

Meu Pai, será um crime imperdoável

Perguntar-vos por onde vaga o Monstro,

O Judas , vendedor do Pai Divino ?

Queres que eu seja franco?

Nem eu mesmo

Posso informar-te sobre o seu destino!

Através de seu cérebro bizarro

Que pensas desse tigre, dessa hiena? !

Eu lhe voto rancor, ódio profundo,

Mas lamento, Senhor , sua desgraça,

E desse vil herói chego a ter pena !

Senhor , ouso dizer , humildemente

Á vós que renegastes Jesus Cristo,

A vós, que o grande

Mestre bendiz que não existe coração perverso,

mas coração feliz ou infeliz .

Vós deveis ser a Judas muito grato,

Perdoar de coração esse bandido,

O maior dos maiores condenados,

Que ficam para sempre relembrados,

Esses homens fecais feitos de pús,

Pois se foi certo que vendeu a Cristo,

Também foi certo, que, ao beijar-lhe a face,

Lhe deu glória universal da cruz !

Sem esse grande miserável, ...

Judas, Existiria Deus, .... mas não , Jesus.


CHICO BELEZA

Pulas areia da istrada,

Cum as perna já meia bamba,

Um dispotismo de gente

Vinha cantando num samba,

Fazendo grande berrêro!

Quem puxava a istruvunca

Era o Manué Cachacêro,

O mais grande dos violêro,

Que im todo sertão gimia!

E era ansim que ele cantava

E no canto ansim dizia:

"Diz os véiu de outras éra que quando

São João sintia sôdade de Jesú Cristo e de sua cumpanhia,

garrava logo na viola, prá chorá sua sôdade

e a sua malincunía!

Entonce logo os apóstro,

Assombrando o istruvío,

Cada um seu pé de verso

Cantava no desafío

A Mãe de Cristo chorava e as agua que derramava da fonte do coração,

caia nas corda santa da viola de São João!

Pru via disto é que o pinho,

instrumento sem rivá,

quando se põe-se chorando,

se põe-se a gente a chorá".

Foi aí, nesse festêro, que vi o Chico Sambêro,

um sambadô sem sigundo, mas porêm feio ,tão feio,

que toda gente dizia que foi o hôme mais feio que Deus butou neste mundo!

Tinha cara de preguiça, cabeça de mono véio, e pescoço de aribú!

A boca, quando se ria, taquarmente parecia a boca de um cangurú!

Tinha as oreias de porco e os dentes de caitetú!

Tinha barriga de sapo, e o nariz, impipocado, figurava um genipapo!

Os braços era taliquá dois braços sirigaitado d' um veio tamanduá!

Os óios - dois berimbau! As pernas finas alembrava as pernas d' um pica pau!

O queixo de capivara tinha um bigode pru riba, que quase tapava a cara!

O cabelo surupinho era, sem tirá nem pô, cabelo de porco espinho!

Im conclusão, prá findá, tinha os dedos de gambá,

os hombros redondo e chato e os pé que nem pé de pato!

Inda mais prá cumpletá aquela xeringamança e feiúra de pagóde,

o hôme quando se ria, era um cavalo rinchando,

e quando táva suando, tinha um ôroma de bóde.

Apois bem. Esse raboeza, que era prú todas as bocas chamado: Chico Beleza;

esse horríve lobizome, que era mais feio que a fome,

mais feio que o Demo inté quando as pernas sacudia,

sambando nargum banzé enfeitiçando as viola,

apaixonando as muié, trazia tôda as cabôca,

cumo um capaxo, dibaxo, das duas sóla do pé!!!


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