segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Entrevista do jornalista Cléber Barbosa com o gen. Newton Álvares Breide

“A França será o primeiro a nos ajudar na defesa da Amazônia”

O comandante da 8ª Região Militar visitou Macapá para a troca de comando do 34º BIS. Não é todo dia que o Amapá recebe um general do Exército Brasileiro, razão pela qual o Diário do Amapá decidiu ouvir os argumentos do atual comendante da 8ª Região Militar, a qual está subordinado do 34ºBatalhão de Infantaria de Selva, uma unidade sediada em Macapá e que acaba de trocar de comandante. Para o general-de-divisão Newton Álvares Breide, o Exército deve mesmo ser muito criterioso na escolha dos comandantes de suas unidades, especialmente para locações como a fronteira que o Amapá possui com a Guiana Francesa. Para Breide, em caso de um conflito internacional provocado pela cobiça mundial pela Amazônia, a França será a primeira a se ombrear ao Brasil na proteção e defesa da maior floresta tropital da Terra. Conheça mais sobre os generais dos dias atuais nessa entrevista exclusiva com o jornalista Cleber Barbosa.

"Eu já tive vivência em comandos de Brigadas e agora estou tendo vivência emcomando de Divisão de Exército e nunca tive problemas com nossos comandantes, exatamente porque essa seleção é muito bem feita. Dos melhores, alguns são selecionados para o comando, então a capacitação do coronel Alan é a melhor possível"

Diário do Amapá - Como foi para o senhor vir ao Amapá para a troca de comando do 34º Batalhão de Infantaria de Selva, uma unidade que para o Exército tem importância estratégica?

General Breide - A minha presença aqui é praticamente uma obrigação, porque o Batalhão é diretamente subordinado à 8ª Região Militar e 8ª Divisão do Exército e nessa condição eu tenho por imposição do nosso cerimonial militar de presidir a passagem de comando do coronel Batista para o tenente-coronel Alan.

Diário - A partir das informações que o senhor dispõe sobre essa unidade, com a troca do seu comandante, qual a maior recomendação que o senhor fez ao novo comandante de fronteira do Amapá?

Breide - Prosseguir na missão. Eu tive a oportunidade de acompanhar o coronel Batista nos seus últimos dois anos de comando e posso afirmar que ele fez um trabalho excelente, especialmente na preocupação nossa da presença do Exército na faixa de fronteira, no relacionamento com as forças armadas da Guiana [Francesa] e também no cumprimento da Lei 97.117 que dá poder de polícia ao Exército para o combate aos crimes transnacionais, fronteiriços e ambientais. Nesse escopo, é muito importante a Companhia de Clevelândia do Norte, que é subordinada ao Batalhão, no trabalho que ela tem feito de coibir o apoio ao garimpo ilegal no Siquiní, no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque e na própria Guiana Francesa.

Diário - Já que o senhor falou da fronteira, há uns anos atrás uma emissora de televisão mostrou em rede nacional a situação da Vila Brasil, onde a moeda corrente seria o euro e até as missas eram celebradas em francês. Isso motivou o Comando do Exército a anunciar a instalação de um pelotão naquela região. Como está esse processo?

Breide - Exatamente. Hoje nós ainda não estamos com o pelotão completo em Vila Brasil porque nós necessitamos do aeródromo. Primeiro nós precisamos ter essa pista de pouso porque a dificuldade de singrar as águas do Oiapoque, especialmente na época em que o rio está baixo, é muito grande, ele é muito empedrado e dificulta muito o transporte de material e de apoio àquele pessoal que fica naquele destacamento. Mas assim que a pista for construída pela Comara (órgão da Aeronáutica) nós pode-remos, sem dúvida nenhuma, agregar aquele destacamento mais efetivo e as obras necessárias para que ali se consolide um pelotão especial de fronteira nos moldes que nós temos em toda a Amazônia.

Diário - Mais uma vez os olhos do mundo estão voltados para a Amazônia, então a pergunta é como militares como o senhor, que comandam como oficiais generais, faixas importantes da nossa floresta, qual deve ser o mote para salvaguardar essa fronteira estratégica que o Amapá possui com exclusividade com a União Européia através da Guiana Francesa?

Breide - É, e essa fronteira precisa ser tratada com muito carinho e com o respeito especialmente à Guiana Francesa porque eu entendo que a França tem o interesse de preservar e defender a Amazônia da mesma maneira que nós. E sem dúvida nenhuma que em um contencioso que possa vir a ocorrer por terras amazônicas no futuro, dos grandes países do mundo, a França será o primeiro que deve ombrear-se conosco na defesa da Amazônia.

Diário - Depois da tragédia do Haiti, as pessoas hoje estão se perguntando no Brasil o porquê do envio de tropas brasileiras aquele país, muito antes do terremoto. O que o senhor acha desse questionamento?

Breide - É uma decisão de governo, do presidente Lula, sobre a nossa participação lá. Existem interesses diplomáticos, interesses de uma maior participação do Brasil no conserto das nações, uma presença maior do Brasil na ONU (Organização das Nações Unidas) e isso certamente impõe novas responsabilidades no campo internacional. Essa missão de paz nossa lá é muito bem sucedida porque o soldado brasileiro se caracteriza pela sua adaptabilidade. O soldado brasileiro não é arrogante, ele é cordato, ele transita com desenvoltura em qualquer ambiente operacional, nós não temos uma casta no Exército, que tem segmentos de toda a sociedade. Nós andamos bem no tapete vermelho, como também andamos bem nas favelas e essa característica do soldado brasileiro é que trouxe o sucesso para a missão de paz no Haiti. O próprio americano [do Exército dos Estados Unidos] ele admira o nosso trabalho e pergunta como que nós conseguimos captar a população do Haiti para o nosso lado, pois ela [a população] vê o soldado brasileiro como um amigo.

Diário - A gente viu bem esse clima durante a Copa do Mundo e também em uma partida amistosa que a seleção brasileira fez no Haiti, não é mesmo?

Breide - É claro que o futebol ajuda bastante, mas o comportamento profissional, ético do nosso pessoal e porque não dizer humanitário, afinal isso também faz parte dos direitos humanos, especialmente para a população do Haiti, um país pobre, a maioria numa situação abaixo da linha de pobreza e que tem no soldado da ONU, especialmente o soldado brasileiro, um apoio, e neste momento então de desastre, sem dúvida nenhuma as nossas bases viraram verdadeiros acampamentos e hospitais improvisados para apoiar o pessoal que lá está. Foi a nossa maior perda, a maior baixa que já tivemos desde a segunda guerra mundial, foi no Haiti, por ocasião desse terremoto, então os nossos militares que lá estiveram e que lá morreram, nós temos que reverenciá-los como heróis que realmente foram. E isso é tão verdadeiro que o Brasil agora pretende aumentar a Força de Paz para apoiar o Haiti e nós temos candidatos voluntários do Exército Brasileiro de todos os lugares querendo ir para lá ajudar e esse ambiente demonstra o comprometimento da sociedade brasileira com o povo sofrido do Haiti.

Diário - Sob seu comando o senhor certamente virá novamente a Macapá então até lá espera ver que tipo de notícia sobre o coronel Alan o novo comandante do 34º BIS?

Breide - Olha, o coronel Alan é um oficial como tantos outros que o Exército tem selecionado muito bem seus comandantes. Eu já tive vivência em comandos de Brigadas e agora estou tendo vivência em comando de Divisão de Exército e nunca tive problemas com nossos comandantes, exatamente porque essa seleção é muito bem feita. Dos melhores, alguns são selecionados para o comando, então a capacitação do tenente-coronel Alan é a melhor possível para dar prosseguimento ao trabalho desenvolvido aqui pelo coronel Batista. E nós estamos ali em Belém, de olho, sempre que possível para ajudar e para se antecipar aos problemas quando eles surgirem.

Diário - General, uma curiosidade: o senhor fica em Belém até quando?

Breide - Só o comandante do Exército sabe... (risos).

Diário - Outra curiosidade é saber para qual time torce esse general gaúcho?

Breide - Eu sou Grêmio, tranqüilo. Sou um gaúcho que já serviu em todas as regiões do Brasil então acho que até o sotaque eu já perdi... (risos)

Diário - O senhor é quem acha general...Breide - (mais risos)

Do Diário do Amapá

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