(Alerta em Rede ) – Vem da Alemanha um novo termo para designar a recente e frenética corrida tecnológica pelo carro elétrico: eletromobilidade. Reconhecidamente, a Alemanha é um dos países que melhor está se preparando para a chegada do carro elétrico. Em maio passado foi lançado lá o chamado plano nacional de desenvolvimento da eletromobilidade, quando foram criados vários grupos de trabalho envolvendo equipes de governo, associações dos fabricantes de veículos e da indústria de produtos elétricos. Esses grupos de trabalho estão engajados não só no preparo da infraestrutura necessária como também na transição para essa mudança na mobilidade. [1] As autoridades alemãs estimam que, em 2020, metade das vendas de veículos no país será de modelos elétricos ou híbridos. Só que, nesse longo período de transição, a Alemanha precisa encontrar meios de reduzir as emissões de CO2 para atender à legislação, uma vez que existe um acordo entre os países industrializados para reduzi-las em 50% até 2050. Por isso mesmo, o governo alemão começou a aproximar-se do Brasil para saber mais sobre o uso do etanol: "Teremos que usar os motores a combustão durante um bom tempo até a chegada do carro elétrico", disse o secretário do Ministério de Transportes da Alemanha, Rainer Bomba, que esteve por aqui recentemente, explicando ser importante a colaboração do conhecimento brasileiro numa energia alternativa utilizada em larga escala. A eletromobilidade envolve ao menos dois setores imbricados e onde reconhecidamente temos deficiências notáveis: inovação tecnológica e industrialização. Apesar dos esforços recentes, o Brasil, por exemplo, ainda está em posição ruim no ranking mundial de patentes, e o crescimento das pesquisas ocorreu em velocidade menor do que nos países asiáticos, como Coreia do Sul, China e Índia. Especialistas dizem que o Brasil corre o risco de perder oportunidades nas novas fronteiras do conhecimento, caso o próximo presidente não reforce o setor. Só para ter uma idéia, em 1994 o Brasil pediu o registro de 60 patentes no escritório americano de propriedade intelectual (USPTO); no ano passado, foram 106 pedidos. Entretanto, a produção do país, nesses dois momentos, representou apenas 0,06% do total mundial. A Coreia do Sul saltou de uma participação de 0,93% das patentes mundiais em 1994 para 5,24% no ano passado, e o mesmo se repetiu com a China, a Espanha, a Rússia e a Índia. [2] Um dos reflexos da nossa carência em inovação tecnológica pode ser verificado em 2009 quando, pela primeira vez desde os anos 70, seis produtos básicos (soja, farelo, petróleo, açúcar, minério de ferro e carne de frango) responderam por um terço das exportações brasileiras. O peso dos manufaturados nas exportações, que sempre ficava entre 50% e 60% nos anos 90 e 2000, está desde 2007 abaixo de 50% das exportações - fechou 2009 no piso, 44,02%. Com relação ao processo de industrialização – ou o risco de desindustrialização, como muitos preferem se referir – não existem muitas dúvidas que a eletromobilidade pode promover rapidamente as cadeias metal-mecânica, a mais importante das chamadas “indústria centrais”, como já citado por este Alerta:
“A solução da crise então passa por um aumento constante dos gastos e déficit público ou por uma revolução tecnológica radical que destrua boa parte da capacidade produtiva mundial e abra espaço para um grande volume de investimentos privados. O carro elétrico pode cumprir esse papel. Primeiro porque exigirá a completa reformulação das cadeias metal-mecânicas, eletroeletrônicas e químicas para ser produzido em grande escala. Além disso, será necessário uma mudança radical nas cidades, que precisarão se adaptar a esses carros e sua diferente dinâmica”. [3]
Assim, se a Alemanha precisa do nosso conhecimento na área de etanol, nós precisamos do conhecimento dela na da eletromobilidade. Eis uma boa oportunidade para o Brasil entabular um novo e promissor acordo tecnológico com a Alemanha.
Notas:
[1]Alemanha pode usar etanol na transição para carro elétrico, Valor, 13/07/2010
[2]Brasil produz pouca inovação tecnológica e perde mercado, O Globo, 11/07/2010
[3]Sobre carros elétricos e o "dínamo" nuclear, Alerta Científico e Ambiental, 21/08/2009
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