Um Natal de Ó. J.
Escrevi na semana passada sobre corrupção e a responsabilidade do voto proporcional nesse desastre. Mas ninguém quer saber de nada disso em dezembro, mês das festas, quando começamos a ouvir os sinos do Natal.
Quem me alertou foi Eduardo Haickel, que é um repositório de pequenas histórias, acontecidas no interior do Maranhão, quando ainda nem se pensava nas transformações tecnológicas na comunicação. Ele me dá como exemplo a longa distância entre os vídeos escondidos nos botões que gravam até a alma das pessoas e as velhas bocas de alto-falantes dos nossos tempos de infância, colocados em postes, quase torres, nas praças do interior, fazendo a vez do rádio, televisão e cinema, tocando música e dando notícias de aniversários, crimes, festas e fofocas, intercaladas entre anúncios de produtos e empresas que o tempo matou. Um, muito batido, era o do “Rum Creosotado”, um milagroso remédio contra bronquite, saído dos bondes:
“— Oh! Ilustre companheiro, que belo tipo faceiro o senhor tem ao seu lado. Mas, acredite, quase morreu de bronquite. Salvou-o o RUM CREOSOTADO!”
Os programas tinham os seus patrocinadores:
“— Estas belas guarânias e boleros são um mimo oferecido a você pelo LABATIL!” — que nada mais era do que uma farmacêutica que fazia exame de urina, Laboratório de Análises Clínicas Ltda.
E outro:
“— Estas notícias em primeira mão, vindas da capital, são ofertas da Agrofol.” Simplesmente um pequena vacaria que tinha o pomposo nome de Agro-Pecuária Fonseca Limitada. Em Pinheiro, onde os alto-falantes eram dois, um dos bons padres da Prelazia e outro do Centro Espírita, o prefeito, criticado porque mandara podar as árvores da cidade, anunciou:
“— Aos meus munícipes comunico que a desgalhação das árvores logo vai passar. Quando chegarem as chuvas, elas voltarão a copular e a cidade voltará a ficar verde e bonita.”
O anúncio do supositório “JÁ VAI”:“— Os purgantes já eram. Agora a ciência recomenda o supositório JÁ VAI. Quando menos a gente espanta, já foi.” Mas a memória que mais ficou, e permanece na lembrança da cidade de Pindaré, foi quando o Prefeito Mundico Rêgo, ele mesmo como locutor, anunciou:
“— Ôlo, ôlo, Pindaré. Venho de São Luís e trago um presente de Natal para o povo. Vamos ter um Ó. J. Viva nosso Natal com Ó. J.”
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisbo
jose-sarney@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário