segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Inviabilizando o Brasil


A “Eco-finança” das ONGs

Em um furo de reportagem, o jornalista Daniel Rittner, do jornal Valor, antecipou algumas conclusões da mais recente ‘lista negra’ mundial elaborada pela Banktrack – uma espécie de ‘central de inteligência financeira’ comandada pelas ONGs WWF e Friends of the Earth (Amigos da Terra) - contra importantes projetos industriais e de infra-estrutura que estão sendo implantados em países do ‘Sul’. [1] Segundo Rittner, 32 projetos e empresas estão na mira ‘ecofinanceira’ do aparato ambientalista controlado pelo Establishment anglo-americano, dos quais três no Brasil: o Complexo do Rio Madeira, fábricas de celulose da Aracruz e a Pará Pastoril e Agrícola (Pagrisa). Essa última foi incluída simplesmente porque ‘não havia ainda casos de semi-escravidão (sic) na lista e trata-se de um setor em evidência - o dos biocombustíveis’.Fica explícito na matéria que o objetivo da ofensiva não é defender o meio ambiente, mas impedir a implantação dos projetos:
A intenção das ONGs, ao divulgar os impactos negativos desses projetos e das empresas responsáveis por eles é evitar - ou pelo menos atrasar - o crédito a esses empreendimentos, bem como manchar a imagem das instituições financeiras envolvidas.
A tática de ‘guerra irregular moderna’ ou de ‘quarta geração’ a ser utilizada nessa ofensiva é descrita sem pejo por Gustavo Pimentel, especialista em ‘ecofinanças’ da seção tupiniquim da ONG Amigos da Terra:"No caso de obras não iniciadas, que estão em fase de projeto, fazemos uma pressão que causa dificuldades em tornar a obra viável ou, no mínimo, algum constrangimento aos seus empreendedores e financiadores... No caso das obras que já foram iniciadas, continuamos vigilantes em cima dos financiadores. Mostramos os riscos financeiros e de reputação."
Chama a atenção que, além da Aracruz, outra empresa do ramo de celulose faz parte da ‘lista negra’, a finlandesa Botnia, por causa de sua fábrica recém-concluída no Uruguai e que foi alvo de uma intensa – mas derrotada - campanha ambientalista para impedir o projeto. Ocorre que a implantação do poderoso pólo florestal-industrial no Mercosul está incomodando – e muito – seus concorrentes do ‘Norte’ que exploram florestas de clima temperado e encontram grandes dificuldades para competir com as ‘vantagens comparativas’ proporcionadas pelo eucalipto e outras espécies tropicais. Não por acaso, grandes e tradicionais empresas européias do ramo, como a citada Botnia, a Stora Enso e a Ence, implantaram ou estão implantando grandes projetos no âmbito do Mercosul. A espanhola Ence, por exemplo, está iniciando a construção de outra grande ‘papelera’ no Uruguai. O Rio Grande do Sul, onde se desenvolve uma grande parte desse pólo, tem sido particularmente visado pelo aparato ambientalista e pelas ‘tropas de choque’ auxiliares do MST e da Via Campesina. Os detalhes sobre essa campanha podem ser encontrados no documento ‘‘A geopolítica 'verde' para o Mercosul’, já publicado por este Alerta. O que não faltam são evidências que a ‘preocupação ambiental’ das ONGs com o setor de celulose se restringem aos países ‘tropicais’ que produzem celulose de fibra curta (eucalipto). Por exemplo, a Urgewald, uma ONG satélite alemã que integra a Banktrack, mantém um portal dedicado para essas campanhas dirigidas:
Até mesmo o badalado FSC – selo criado pelas ‘Três Irmãs’ (WWF, Greenpeace e Amigos da Terra) nitidamente concebido para ‘certificar’ florestas em países do antigo Terceiro Mundo – anunciou que irá ‘mudar as regras’ (provavelmente de forma retroativa) depois que o Wall Street Journal revelou que a Ásia Pulp & Paper Co. (APP), uma das maiores empresas do setor sediada na Singapura, é certificada pelo FSC mas foi acusada por ONGs de devastar enormes áreas de florestas tropicais na ilha de Sumatra, Indonésia, colocando em ‘risco de extinção’ várias espécies de orangotangos, tigres e elefantes. Foi o suficiente para que Heiko Liedeker, ex-WWF e diretor-executivo do FSC, cancelasse imediatamente a certificação da APP e anunciasse um ‘aperto’ nas regras, mas muitos críticos classificaram a medida como tardia para evitar o dano causado na ‘credibilidade’ do selo. O episódio serve para ilustrar o que muitos já sabem, que o FSC é um selo baseado em critérios políticos - e não técnicos – e ostensivamente patrulhado pelas ‘Três Irmãs’. [2] O mais escandaloso é que a Banktrack, convenientemente sediada em Amsterdã, na Holanda, é abertamente financiada pelo WWF, Amigos da Terra e as onipresentes fundações ‘filantrópicas’ que atuam como agentes de influência de interesses do Establishment anglo-americano: Banktrack, financiadores(fonte: Banktrack, Annual Repost, 2005)

Por conseguinte, todas as ONGs que integram a Banktrack têm ‘estado-maior’ na Europa ou nos EUA: Quem com ferro fere...Ao se analisar as advertências do ‘ecofinancista’ Pimentel, que beiram a uma verdadeira chantagem, e cotejá-las com as origens das fontes de recursos da Amigos da Terra e outras ONGs integrantes da Banktrack, não é difícil concluir que elas têm ‘pés de barro’. Em outras palavras, a ‘reputação’ das ONGs perante a opinião pública é tão ou mais sensível que a das instituições financeiras ou empresas que ameaçam enxovalhar. À medida em que a visível ‘coincidência’ entre financiamento de campanhas ambientalistas e interesses geopolíticos de doadores chegarem à opinião pública, conjugado ao necessário aperfeiçoamento da legislação brasileira para regular a farra de ‘ecodólares’ que entram à vontade no País, mais os processos de licenciamento ambiental de grandes projetos correrão sem espúrias ingerências externas. Ou seja, é a 'eco-finanças' das ONGs que precisa ser exposta.


Notas:[1]Três projetos do Brasil integram "lista negra", Valor, 10/01/2008

[2]FSC, um selo neocolonialista, Alerta Científico e Ambiental,

http://www.alerta.inf.br/

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