Aumentam as perdas do país com as remessas de lucros ao exterior
Em 10 dias do mês de março, transferência de US$ 3,266 bilhões pelas multis foi maior do que em todo o mês de janeiro: US$ 2,251 bilhões
Os resultados divulgados pelo Banco Central na quarta-feira, referentes aos primeiros dez dias de março, mostram que a sangria dos recursos do país tende a se agravar rapidamente, se não forem tomadas as necessárias providências.
Ao todo entraram no país US$ 7 bilhões e 169 milhões, somando o dinheiro meramente especulativo (que tem como destino a Bolsa ou os títulos públicos), o “investimento direto estrangeiro” (dinheiro para comprar empresas, ampliar a participação acionária externa ou empréstimos da matriz a uma filial de empresa estrangeira) e os empréstimos externos a empresas brasileiras. Segundo o BC, a maior parte do que entrou deveu-se, principalmente, a “operações financeiras”.
Porém, saíram US$ 10 bilhões e 435 milhões em remessas de lucros e dividendos (tanto especulativos quanto remessas de lucros de filiais de empresas externas às suas matrizes, além de juros, renda fixa e outros rendimentos).
Portanto, o país perdeu US$ 3 bilhões e 266 milhões em apenas 10 dias.
Repare-se que a perda é maior ainda, pois a tabela divulgada pelo BC na quarta-feira, que é preliminar, não especifica as várias espécies de entradas, portanto estamos supondo que nelas foram somadas também as chamadas “transferências unilaterais”, que não são capital estrangeiro, mas dinheiro que brasileiros, vivendo no exterior, enviam para suas famílias. São, portanto, fruto do trabalho de brasileiros, isto é, dinheiro brasileiro.
Além disso, não é possível saber, pela tabela do BC, se dessa entrada foi descontado o “investimento” estrangeiro que se retirou, isto é, o “desinvestimento” daqueles que estão numa situação tão má nos EUA e outros países que preferem liquidar seus negócios aqui para tentar salvar alguma coisa na matriz. Tanto por uma razão quanto por outra, é justo presumir que a entrada de US$ 7 bilhões e 169 milhões é mais do que aquilo que efetivamente entrou em “investimentos” estrangeiros.
Entretanto, a saída de US$ 10 bilhões e 435 milhões está claramente designada, ainda que não discriminada em detalhe. Referem-se às remessas de “rendas” e “serviços”, que compõem a “conta financeira”, quais sejam: 1) remessa de lucros e dividendos de “investimento direto estrangeiro” e de aplicações especulativas; 2) pagamento de juros: de empréstimos externos a empresas brasileiras, de empréstimos da matriz à filial das companhias estrangeiras, de títulos com renda fixa e de crédito de fornecedores; 3) pagamento de fretes, viagens internacionais, royalties, licenças, seguros, serviços governamentais e aluguel de equipamentos.
Ainda que com as imprecisões que apontamos, os números divulgados pelo BC são suficientes para se perceber o que está acontecendo.
Observemos que US$ 3 bilhões e 266 milhões é mais do que o país perdeu em todo o mês de janeiro, tal como publicamos em nossa matéria da edição de 11/03. Lá, constatamos perdas de US$ 2 bilhões e 251 milhões em janeiro, devido à saída de US$ 2 bilhões e 542 milhões contra entradas líquidas (isto é, já descontado o “desinvestimento” estrangeiro) de US$ 291 milhões (números retirados do Boletim do BC de fevereiro).
É também mais do que a perda de fevereiro, cujo resultado preliminar está em US$ 2 bilhões e 30 milhões.
Por último, note-se que nem o saldo comercial do mesmo período (US$ 1 bilhão e 80 milhões) foi suficiente para cobrir a perda.
O que isso mostra?
Que as empresas estrangeiras estão acelerando a drenagem de recursos do país. Que a conta do entreguismo de Fernando Henrique e comparsas – com suas comemorações aos bilhões de dólares que entravam no país para comprar empresas públicas e privadas brasileiras – tende a ser cobrada de forma dramática.
Evidentemente, só abilolados do tipo Gustavo Franco podiam achar que o “investimento direto estrangeiro”, isto é, a compra e desnacionalização de empresas nacionais por atacado, não teria como consequência a espoliação do país. Para que uma empresa instala uma filial em outro país se não for para remeter lucros para a matriz – e lucros que superem o que ela gastou para instalar a filial ou comprar uma empresa desse outro país?
E, se essa empresa estrangeira é um monopólio multinacional, aí mesmo é que a extração de lucros – isto é, de recursos do país onde se instala a filial – é implacável, cruel e impiedosa
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