Lula contra a ganância de olhos azuis
Que me desculpem os tucanos (e demo-pefelês), mas a cada gesto ou palavra do nosso imprevisível torneiro mecânico sem dedo e monoglota que choca o mundo, menos por soar ofensivo do que por oferecer a franqueza dura da verdade, não consigo deixar de pensar na humilhação de FHC, o farol de Alexandria, que se orgulha de ter feito tanto para enfeitar a imagem de seu país aos olhos dos ricos do mundo.
Essa reflexão é sugerida pela coluna bem humorada de Maureen Dowd (foto ao lado), no New York Times de domingo (leia AQUI), sobre o desabafo de Lula contra os banqueiros gananciosos de olhos azuis que criaram a atual crise mundial (título: “Blue Eyed Greed?”). Referiu-se ainda ao ataque do império Murdoch de mídia (New York Post, Fox News), que chamava Saddam de “açougueiro de Bagdá” e agora chama Lula de “Brazil nut” e “Lula lulu”.
Pobre FHC, deve estar corado de vergonha. É admirável o esforço dele para vender um Brasil culto aos ricos e sofisticados, convencendo-os de que não somos bugres como eles imaginam. Não viveram aqui Villalobos, Machado, Drummond, Niemeyer, Portinari? E quantos países tiveram a honra de eleger presidente um sociólogo, PhD e tudo, ainda hoje ativo e faturando feitos acadêmicos, honorários ou não?
Uma mudança de qualidade
Era comovente, no passado recente, o esforço da presidência FHC para paparicar a banda desenvolvida do mundo - como se isso nos tornasse parte dela, com nossa respeitável bagagem intelectual. Clinton conseguiu dele, pelo telefone, o contrato do Sivam para a Raytheon. Bush não falava diretamente mas mandava bagrinhos tipo John Bolton exigir a cabeça de embaixadores como José Maurício Bustani.
Uma vez, ao desembarcar nos EUA, FHC deparou com anúncio de página inteira da indústria farmacêutica no Wall Street Journal acusando o Brasil de “pirata de patentes”. Prometeu dobrar o Congresso e aprovar a lei exigida pela indústria. Cumpriu. Depois veio a onda de privatizações, uma orgia romana. E o que resultou de tantos agrados? Elogios a ele na TV. De Barbara Walters, Lou Dobbs, essa gente.
Tem sido assim há décadas com governantes do que os EUA chamam de “países amigos” do continente. Hoje é diferente. O recado mudou. Passamos dos agrados com lamúrias ao realismo da cobrança, em outro tom. Quando o país faz o dever de casa, pode falar grosso - e questionar. E se passou a exercer papel relevante em fóruns internacionais e sua liderança política é respeitada, o quadro muda.
Ironia é bom mas não imprime
No Brasil, ao receber o primeiro-ministro britânico Gordon Brown (foto ao lado, de Ricardo Stuckert), Lula contou que nunca tinha visto banqueiro negro ou índio. Antes, dia 14 no gabinete Oval de Obama (veja os dois no alto, em foto de Pete Souza que ilustrou o website da Casa Branca) Lula tinha falado (leia AQUI) como um presidente que já tem o que mostrar no campo da energia alternativa (...)
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