É tarde da noite. Dia cansativo de trabalho na “repartição”. Mesmo assim, inspirado, o poeta se senta à escrivaninha. Resolve fazer uma composição. O tema - claro! - mulheres. Tinha conhecido uma jovem bonita e muito atraente. Como de costume, acende o cigarro, posiciona-se na cadeira. Dá um trago profundo, coloca uma das mãos na testa e, franzindo o semblante, olha para cima, como se pudesse apanhar as primeiras palavras na fumaça que se dissipa.
Na folha de papel, o inusitado: o Verbo, revoltado com o Substantivo, dá pití. Nega-se a agir. Gesticulando acintosamente as mãos - como se fosse uma matrona italiana daqueles cortiços sujos de São Paulo do século XIX -, lança desaforos indignados. Acusa o companheiro antigo de frase de o estar explorando. Um desabafo verdadeiramente sentido e como que contido nos últimos sete mil anos de escrita. O Substantivo, assombrado, no início não sabe como reagir ou o que dizer. Com aquele olhar esnobe de lorde inglês, arqueando a sobrancelha direita, tenta acalmar o amigo apenas não dizendo nada e fingindo entender o que se passa. Bate-lhe compassadamente a mão direita nas costas e arqueia a fronte com seriedade, como se o tivesse confortando. Procura perdoar o que considera sinceramente “um ato irracional”, um comportamento ridículo, mesmo.
Quando a explosão verborrágica parece terminar, o Substantivo apenas tenta ponderar com aquela lenta e cansativa retórica, que lhe é peculiar:
- “Maaasss... meu caro Verbo, velho amigo e companheiro, acalma-te! No sistema de classificação das palavras as coisas são assim mesmo. Cada um tem a sua missão natural. Eu sou, alguns me ajudam a agir, outros qualificam o que faço. Mas, tenho consciência de que sou o sujeito ativo de tudo isso. É tarefa muito pesada para mim, mas procuro fazer o melhor. É assim que, há muito, as coisas funcionam. Não podem ser mudadas agora. É a ordem adequada e harmônica das funções das palavras. A minha foi, é e sempre será a de dar nome ao que existe e ao que não existe. Sou aquele que determina o Ser de tudo que há...”.
E por aí enveredou o discurso do Substantivo... . Mas, apenas para conter, momentaneamente, a ira do colega, precisando ser diplomático e dando uma amenizada na situação, completou sem muita sinceridade:
- “Reconheço, tu és um grande auxiliar, um importante colaborador. Preciso de tua participação, pois me ajudas a dar movimento ao mundo, ou seja, sem teu apoio em todo este magnífico esquema tudo ficaria tediosamente parado...”.
Mal o Substantivo termina de falar, o Verbo não se contém. Com o peso de mil elefantes, caem-lhe à mente as expressões “auxiliar”, “colaborador”, “ajuda” e “apoio”. E, de imediato, retruca:
- “Tuas palavras são a tua confissão, miserável sanguessuga! Tu és autoritário e arrogante, um egoísta insuportável. Achas que tudo que existe, existe para lhe servir. Esta prepotência descomunal é justamente o que me deixa revoltado, pois não adianta apenas que as coisas do mundo sejam. Elas têm necessidade imperiosa da ação, que é o que faço. E muito bem!”.
E demonstrando a fonte “subversiva” de onde bebera tanta rebeldia, tenta explicar: - “Andei lendo um certo alemão muito interessante, Karl Marx. Ele me ensinou que o “Ser” não existe sem o que ele chama de ´Práxis`, a prática, meu irmão! a ação, entende? Não adianta ficar filosofando sobre o mundo. É necessário transformá-lo efetivamente. E somente eu sou capaz disso. Portanto, tu és apenas a conseqüência do meu trabalho. Na verdade, sem mim, tu não existirias. Quer dizer, tu vives às minhas custas, canalha!, um verdadeiro parasita de meu esforço. Sem mim, o mundo das palavras seria congelado e enfadonho, sem emoções, sem aventuras, sem dinâmica alguma”.
E, forçando um pouco a barra, se empolga:
“Eu sou a Palavra criadora do Universo... Sou a palavra de Deus. Sou eu quem fez o mundo, que faço os raios e trovões existiram; sou eu quem dou sentido e qualidade a todos os personagens...”.
Na folha de papel, o inusitado: o Verbo, revoltado com o Substantivo, dá pití. Nega-se a agir. Gesticulando acintosamente as mãos - como se fosse uma matrona italiana daqueles cortiços sujos de São Paulo do século XIX -, lança desaforos indignados. Acusa o companheiro antigo de frase de o estar explorando. Um desabafo verdadeiramente sentido e como que contido nos últimos sete mil anos de escrita. O Substantivo, assombrado, no início não sabe como reagir ou o que dizer. Com aquele olhar esnobe de lorde inglês, arqueando a sobrancelha direita, tenta acalmar o amigo apenas não dizendo nada e fingindo entender o que se passa. Bate-lhe compassadamente a mão direita nas costas e arqueia a fronte com seriedade, como se o tivesse confortando. Procura perdoar o que considera sinceramente “um ato irracional”, um comportamento ridículo, mesmo.
Quando a explosão verborrágica parece terminar, o Substantivo apenas tenta ponderar com aquela lenta e cansativa retórica, que lhe é peculiar:
- “Maaasss... meu caro Verbo, velho amigo e companheiro, acalma-te! No sistema de classificação das palavras as coisas são assim mesmo. Cada um tem a sua missão natural. Eu sou, alguns me ajudam a agir, outros qualificam o que faço. Mas, tenho consciência de que sou o sujeito ativo de tudo isso. É tarefa muito pesada para mim, mas procuro fazer o melhor. É assim que, há muito, as coisas funcionam. Não podem ser mudadas agora. É a ordem adequada e harmônica das funções das palavras. A minha foi, é e sempre será a de dar nome ao que existe e ao que não existe. Sou aquele que determina o Ser de tudo que há...”.
E por aí enveredou o discurso do Substantivo... . Mas, apenas para conter, momentaneamente, a ira do colega, precisando ser diplomático e dando uma amenizada na situação, completou sem muita sinceridade:
- “Reconheço, tu és um grande auxiliar, um importante colaborador. Preciso de tua participação, pois me ajudas a dar movimento ao mundo, ou seja, sem teu apoio em todo este magnífico esquema tudo ficaria tediosamente parado...”.
Mal o Substantivo termina de falar, o Verbo não se contém. Com o peso de mil elefantes, caem-lhe à mente as expressões “auxiliar”, “colaborador”, “ajuda” e “apoio”. E, de imediato, retruca:
- “Tuas palavras são a tua confissão, miserável sanguessuga! Tu és autoritário e arrogante, um egoísta insuportável. Achas que tudo que existe, existe para lhe servir. Esta prepotência descomunal é justamente o que me deixa revoltado, pois não adianta apenas que as coisas do mundo sejam. Elas têm necessidade imperiosa da ação, que é o que faço. E muito bem!”.
E demonstrando a fonte “subversiva” de onde bebera tanta rebeldia, tenta explicar: - “Andei lendo um certo alemão muito interessante, Karl Marx. Ele me ensinou que o “Ser” não existe sem o que ele chama de ´Práxis`, a prática, meu irmão! a ação, entende? Não adianta ficar filosofando sobre o mundo. É necessário transformá-lo efetivamente. E somente eu sou capaz disso. Portanto, tu és apenas a conseqüência do meu trabalho. Na verdade, sem mim, tu não existirias. Quer dizer, tu vives às minhas custas, canalha!, um verdadeiro parasita de meu esforço. Sem mim, o mundo das palavras seria congelado e enfadonho, sem emoções, sem aventuras, sem dinâmica alguma”.
E, forçando um pouco a barra, se empolga:
“Eu sou a Palavra criadora do Universo... Sou a palavra de Deus. Sou eu quem fez o mundo, que faço os raios e trovões existiram; sou eu quem dou sentido e qualidade a todos os personagens...”.
- “Embora diferentes as classes e funções das palavras, entre nós não há desigualdade alguma”. Seriam, segundo o Substantivo, utilizando-se até de um conceito sociológico, “diferenças horizontais”, aquelas que são diferentes, mas não desiguais, onde cada um teria uma função específica, pré-determinada. E arremata, tentando dar uma amenizada, num tom acadêmico insuportável:
- “São funções muito bem definidas, mas que pertencem a um todo orgânico que funciona harmonicamente”.
Mas, o panfletário e raivoso Verbo, com o olhar confiante e desafiador como nunca havia tido, não se convenceu. Estava determinado em seguir adiante. E conclui com estas palavras:
- “Que harmonia que nada. Teu sistema totalizador só faz nos manter em nossos grilhões. Sou eu, com o suor do meu trabalho, quem sustenta, quem dá vida aos parasitas como tu; sou eu quem viabiliza a dinâmica de todas as narrativas, descrições, dissertações, prosas, poesias, enfim, tudo que existe para ser contado, mas és tu que se beneficia. Por isso, de agora em diante, exijo o reconhecimento que sempre me foi negado”.
Quando a contenda começa a se tornar mais acirrada, uma multidão curiosa de palavras, das classes mais variadas, já está se amontoando ao redor dos dois concorrentes. A maioria não entende nada do que se passa. Uns poucos que percebem a razão de ser do colóquio, logo tomam parte de um ou do outro lado. A confusão começa a se instalar. Partidários de uma e da outra tese logo se manifestam. A desordem é geral. Nessa balbúrdia toda, os adjetivos se entusiasmam e logo tentam uma terceira via. Dizem que têm missão nas funções das palavras tão importante – ou até mais – quanto à do Substantivo e do Verbo. Argumentam que “a determinação do Ser e a sua ação, funções respectivamente do Substantivo e do Verbo”, seriam “funções incompletas se não fossem aperfeiçoadas por eles”, os adjetivos, que expressam o que, para eles (lógico!), seria o mais importante: a qualidade, propriedade ou estado das coisas. E se empolgam, afirmando tolamente, mas com convicção: “num mundo globalizado, da luta de todos contra todos, a qualidade determina a eficácia, portanto, permite vencer a concorrência, o que é o mais importante”. Segundo esta facção, tais atributos “é que dão vida, que humanizam, que qualificam e que exprimem uma essência ontológica variada e viva a todas as coisas que podem ser expressas por palavras”. Defendem, portanto, a pluralidade de seres... e blá, blá, blá... e ... blá, blá, blá.... Partidários do Verbo, mais organizados no momento, reagem. Logo se voltam violentamente contra a opinião da facção dos adjetivos, considerados perigosos para a “sonhada união entre todos os predicativos”. A tensão aumenta e o clima já é quase de guerra escancarada, quando o Verbo e seus partidários percebem que a multidão está por demais dividida. Por isso, pragmaticamente, mudam de estratégia: ao invés de combaterem os adjetivos, começam a aliciá-los. Passam a defender que o grande inimigo - o oponente comum que deveria ser aniquilado - é realmente o Substantivo, “o responsável pela escravização de todas as outras classes de palavras”. Sentem que é necessário unir, portanto, todas contra os substantivos. E é o que ocorre.
Quando o Verbo percebe que a estratégia é correta, ao perceber que havia realmente uma antipatia comum de todos os predicativos contra os substantivos, propõe com indescritível retórica:
- “Predicativos de todos os matizes!!! Uni-vos!!! Só há um grande e perigoso inimigo para todos nós predicativos: o grupo dos substantivos. Eles, como sujeitos, vêem nos escravizando há séculos. Com seu domínio, não temos vida própria. Vivemos em função deles e nada nos é compensado. Levam a fama, o reconhecimento, a glória. Mas, chega! é o momento de acabarmos com isso, agora!!!”.
Ditas estas palavras, o Verbo consegue arregimentar força entre todos os predicativos que, a partir daquele momento, não admitiriam mais ser denominados de “predicativos do Sujeito”. E é assim que, do Verbo, surge o Caos revolucionário. Doravante, todos passariam a ser considerados SUJEITOS, sem qualquer distinção ou classificação. Advérbios, artigos, preposições, pronomes, numerais, enfim, todas as classes de palavras, se revoltam contra a ordem estabelecida. Vão à “práxis” pregada pelo grande líder, o Verbo, que, a partir daquele momento, passa a ser o grande timoneiro da revolução predicativa.
É necessário que se esclareça que “práxis” quer dizer ação. Portanto, doravante, nada de discursos vazios. Medidas práticas importantes são tomadas. São abolidas todas as regras que implicam na dominação de palavras sobre palavras. Assim, não haveria mais hierarquia, regras gramaticais, orações subordinadas, substantivas, nem subordinadas adjetivas, adverbiais ou reduzidas. Ou o que quer que seja que provocasse submissão. Todas, a partir daquele momento, passariam a ter os mesmos direitos. Seria a “a redenção da sintaxe revolucionária”, diziam uns. “A nova ordem lingüístico-existencial baseada na auto-gestão gramatical”, gritavam outros. Alguns, mais maquiavélicos, prepuseram até a criação de uma organização para-militar para se garantir que não houvesse, enquanto a revolução não se consolidasse, “a reação da contra-revolução substantiva”. Seria chamada “OLP – Organização para Libertação dos Predicativos”. Outros, menos sectários - e não gostando dos métodos terroristas e preferindo ações mais pacifistas -, com apoio de instituições internacionais multilaterais, propuseram a criação do que denominaram “ONG´s, as Organizações Não Gramaticais”, com ações mais eficazes voltadas para o voluntarismo e a luta por “uma única gramática, universal e sem regras”. Uma terceira tendência, com uma postura não tanto definida, rejeitaram tanto as OLP´s quanto as ONG´s. Eram os exaltados partidários da revolução armada, criaturas radicais, mas que tinham grande controle sobre as massas de palavras, que advogavam “a revolução geral e inexorável que destruiria todos os cânones da gramática tendenciosa, que sempre beneficiou os substantivos”.
Mas, numa coisa todas as chamadas “tendências” concordam, sem exceções:
É necessário que se esclareça que “práxis” quer dizer ação. Portanto, doravante, nada de discursos vazios. Medidas práticas importantes são tomadas. São abolidas todas as regras que implicam na dominação de palavras sobre palavras. Assim, não haveria mais hierarquia, regras gramaticais, orações subordinadas, substantivas, nem subordinadas adjetivas, adverbiais ou reduzidas. Ou o que quer que seja que provocasse submissão. Todas, a partir daquele momento, passariam a ter os mesmos direitos. Seria a “a redenção da sintaxe revolucionária”, diziam uns. “A nova ordem lingüístico-existencial baseada na auto-gestão gramatical”, gritavam outros. Alguns, mais maquiavélicos, prepuseram até a criação de uma organização para-militar para se garantir que não houvesse, enquanto a revolução não se consolidasse, “a reação da contra-revolução substantiva”. Seria chamada “OLP – Organização para Libertação dos Predicativos”. Outros, menos sectários - e não gostando dos métodos terroristas e preferindo ações mais pacifistas -, com apoio de instituições internacionais multilaterais, propuseram a criação do que denominaram “ONG´s, as Organizações Não Gramaticais”, com ações mais eficazes voltadas para o voluntarismo e a luta por “uma única gramática, universal e sem regras”. Uma terceira tendência, com uma postura não tanto definida, rejeitaram tanto as OLP´s quanto as ONG´s. Eram os exaltados partidários da revolução armada, criaturas radicais, mas que tinham grande controle sobre as massas de palavras, que advogavam “a revolução geral e inexorável que destruiria todos os cânones da gramática tendenciosa, que sempre beneficiou os substantivos”.
Mas, numa coisa todas as chamadas “tendências” concordam, sem exceções:
- “MORTE AOS SUBSTANTIVOS!!! IGUALDADE PARA TODAS AS PALAVRAS!!!”.
Já no cadafalso, com a corda no pescoço, depois de julgado por um tribunal revolucionário e popular, sem direito de defesa e nem choro nem vela, é dado ao Substantivo, já resignado, a possibilidade de se manifestar. Nervoso, mas determinado, ele professa estas palavras derradeiras:
- “Todos os poetas, romancistas, professores, jornalistas, escrivões, enfim, todos os que vivem da língua escrita, sabem que tudo fiz para que houvesse conciliação. Todos que vivem do ofício de escrever são testemunha de meu esforço em manter a ordem e a harmonia entre as várias classes das cidadãs palavras. Nunca pensei em mim. Sempre me preocupei com o bem geral, o interesse comum, com a colaboração de todos para um único fim: fazer com que nosso sistema lingüístico pudesse informar bem e servir aos homens. Apenas isso e nada mais. Mas a incompreensão, a calúnia, a insensatez, a...”. TTCHUÚÚÚMMCRRAAACCC!!! O discurso de despedida do Substantivo foi interrompido violentamente pela longa Onomatopéia que o atento leitor pode ver transcrita acima, escolhida pelo comando da Revolução Predicativa para ser o algoz do condenado. Lá estava o corpo do criador de seres estendido na corda, balançando. Daí em diante, esperavam os predicativos, não haveria mais heróis, líderes. A História seria coletiva, os esforços coletivos, os reconhecimentos e glórias, também coletivos. A RESPONSABILIDADE, grupal. A única cara possível de ser identificada seria a da coletividade, anônima, sem destaques, sem ídolos, sem referências, sem nada. Um Novo Mundo em que todos passariam a ser Sujeitos da História... e da Gramática.
Tempos depois, com a Revolução já consolidada, perguntaram ao revolucionário Verbo se não tinha ficado “com pena do Substantivo”, se não tinha sido um exagero, se ele não se sentia culpado por tudo aquilo. Ele respondeu lacônico:
- “A culpa não é minha, nem de todos nós que fizermos a Revolução. A culpa foi da corda que o enforcou”.O Poeta, exausto, vendo que não havia mais como escrever e cansado daquela sublevação ridícula das palavras, passou-lhes uma borrachada e foi logo dormir. O resultado mais prático da Revolução Predicativa foi apenas um poeta impedido de escrever.
- “Todos os poetas, romancistas, professores, jornalistas, escrivões, enfim, todos os que vivem da língua escrita, sabem que tudo fiz para que houvesse conciliação. Todos que vivem do ofício de escrever são testemunha de meu esforço em manter a ordem e a harmonia entre as várias classes das cidadãs palavras. Nunca pensei em mim. Sempre me preocupei com o bem geral, o interesse comum, com a colaboração de todos para um único fim: fazer com que nosso sistema lingüístico pudesse informar bem e servir aos homens. Apenas isso e nada mais. Mas a incompreensão, a calúnia, a insensatez, a...”. TTCHUÚÚÚMMCRRAAACCC!!! O discurso de despedida do Substantivo foi interrompido violentamente pela longa Onomatopéia que o atento leitor pode ver transcrita acima, escolhida pelo comando da Revolução Predicativa para ser o algoz do condenado. Lá estava o corpo do criador de seres estendido na corda, balançando. Daí em diante, esperavam os predicativos, não haveria mais heróis, líderes. A História seria coletiva, os esforços coletivos, os reconhecimentos e glórias, também coletivos. A RESPONSABILIDADE, grupal. A única cara possível de ser identificada seria a da coletividade, anônima, sem destaques, sem ídolos, sem referências, sem nada. Um Novo Mundo em que todos passariam a ser Sujeitos da História... e da Gramática.
Tempos depois, com a Revolução já consolidada, perguntaram ao revolucionário Verbo se não tinha ficado “com pena do Substantivo”, se não tinha sido um exagero, se ele não se sentia culpado por tudo aquilo. Ele respondeu lacônico:
- “A culpa não é minha, nem de todos nós que fizermos a Revolução. A culpa foi da corda que o enforcou”.O Poeta, exausto, vendo que não havia mais como escrever e cansado daquela sublevação ridícula das palavras, passou-lhes uma borrachada e foi logo dormir. O resultado mais prático da Revolução Predicativa foi apenas um poeta impedido de escrever.
Said Barbosa Dib
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