Será o dólar uma moeda confiável?
Pouca gente no Brasil - e até mesmo aqueles traidores, entreguistas e apátridas que pululam no Banco Central e o BNDES -, parece conhecer a verdadeira correlação que existe entre lastro do meio circulante das chamadas “central powers” e a sofreguidão com a qual o governo americano impele Fernando Henrique Cardoso e o Congresso em Brasília a passarem reformas constitucionais que lhe são úteis. Urge uma sintética recapitulação histórica para melhor compreensão:
A) Desde o Império Romano que toda moeda de livre curso era o ouro ou de outro metal que, em quantidade equivalente (prata, bronze, cobre), pudesse ser por ele trocada;
B) Com o advento das nações européias apareceram os bancos, as cartas de crédito e o papel moeda para maior facilidade nas transações e nos transportes;
C) No século XVIII, se bem que não estivesse ela escrita em tratados internacionais, já havia sido consagrada a regra de que um país para ter o seu papel moeda aceito por seu parceiros comerciais deveria ter um lastro ouro que pelo menos se aproximasse a um terço do seu meio circulante;
D) No século XIX e até o fim da Segunda Guerra Mundial a libra esterlina procurou seguir esse comportamento financeiro;
E) Com a elevação dos EUA ao pódio como primeira potência econômica e militar do mundo, o dólar americano em Bretton Woods tornou-se o padrão internacional e foi “aparentemente” atrelado ao metal tradicional de referência numa correlação de US$35 por libra ouro de peso. É bem provável que, à época, o estoque de ouro guardado em Fort Knox já estivesse bastante aquém de um terço do meio circulante americano. De fato os países europeus ricos e o Japão, por conveniência, louvaram-se na promessa de que havia lastro ouro tal como estava escrito em todas as “poderosas” cédulas dos EUA. E, ademais, por nutrirem desconfiança acerca do lastro. O papel pintado pertencia e pertence ao forte, ao que dava e dá as cartas na ONU, no FMI, no Banco Mundial, na CIA e que conseguia e continua conseguindo sifonar as riquezas do mundo periférico (principalmente depois do esfacelamento da União Soviética) a preços cada vez mais inflacionados, não é? Portanto eles se acomodaram e foram embarcando na canoa financeira do Tio Sam, a qual não parecia muito estável mas que, de qualquer forma, ia e continua navegando.
De quando em vez aparecia um mais desconfiado, como a França de De Gaulle, que queria ver para crer o tal lastro de ouro. Mas Richard Nixon contornou as desconfianças e da noite para o dia desatrelou o “almighty dollar” do ouro. Sim , da noite para o dia, sem consultas ao Conselho de Segurança, ao FMI ou ao Banco Internacional de Redesconto, em Basiléia, para não mencionarmos a tal Corte de Haia, A qual eles só acreditam que existe quando pode servir de imediato aos seus “interesses vitais”. Sim, porque em matéria de obediência dos EUA às normas internacionais “só devem ser obedecidas aquelas que lhes são convenientes”. Além disso, para dourarem a pílula e restabelecerem uma semelhança de jogo honesto, foi criado o seguinte esquema: Toda vez que o meio circulante baixa descabeladamente com relação ao lastro do FED, aumenta também a correlação dólar/ouro. Nos anos 30, ainda com Franklin Roosevelt, a lira ouro foi elevada de US$25 para US$35. Na década de 60, de US$35 para US$80. Quando ocorreu a primeira crise de petróleo, chegou a US$500 no mercado spot de Zurique e Londres, que são os controladores da fixação diária do metal e, ainda mais tarde, quando da crise do Xá do Irã versus o Aiatolá Khomeiini, o ouro ultrapassou US$700 a libra.
A todas essas reavaliações do metal correspondiam emissões maciças de “verdinho” e de esquemas engenhosos para fazê-los mais apetecíveis pelos países fortes e pelos subdesenvolvidos, esquemas como a criação do eurodólar, do petrodólar, da formação de bancos especializados em empurrar goela abaixo empréstimos desse excesso de meio circulante sem lastro (principalmente na goela dos subdesenvolvidos da América Latina) a juros flutuantes cada vez maiores. E, enquanto as maquinetas de fazer papel pintado eram acionadas celeremente dentro dos EUA e em certos paraísos fiscais convenientes, o déficit fiscal americano ia subindo consideravelmente, atingindo cifras alucinantes de trilhões de dólares. Segundo mestre Helio Fernandes, desde que o mundo é mundo foram extraídas 500 mil toneladas de ouro do fundo da terra e daquelas de aluvião. Portanto, para facilidade de cálculo, arredondando para US$12 o atual preço de uma grama de ouro (para seguir os cálculos dos gnomos, não de Zurique, mas do nosso Banco Central), veremos que 500 mil toneladas de ouro equivalem a US$6 trilhões. Ora, atualmente giram em todo o mundo cerca de US$32 a US$35 trilhões.
“Moraram”, “manjaram”, senhores civis e militares que ainda continuam engodados pelos raciocínios mentirosos dos nossos economistas amestrados? Breve voltarei ao assunto com outros subsídios que recolho todos os dias nos brilhantes artigos do dono deste jornal – o único jornal que pode ser lido por brasileiros patriotas que continuam mal informados – então, tentarei focalizar uma tese pela qual me bato há muitos anos (a formação do corredor longitudinal China-Brasil-índia), bem como os alicerces que sustentam o poder americano, ou sejam: 1) nunca sofreram em sua própria terra invasões ou bombardeios; 2) o sangue de seus “boys” guarda uma correlação altamente favorável quando comparado com o sangue de civis e militares de outras terras, principalmente com aquele de raças que eles consideram inferiores; 3) o primado da hipocrisia como base da política externa e da estratégia militar/industrial. Lembremo-nos que os EUA e sua gente são o único país e povo que usaram a bomba atômica e os “bombardeios cirúrgicos”. Tal nação e tal povo não podem, em sã consciência, arrogarem-se o direito de falar sobre direitos humanos e sobre proteção de minorias indígenas.
* Ensaio publicado originalmente no Tribuna da Imprensa, no dia 28 de junho de 1995. Está também no livro II, “Brasil: subida ou descida para o século XXI?” (1997), da editora “Ágora”.
Tive o prazer e o privilégio de conhecer o embaixador Adolpho Justo Bezerra de Menezes nas vésperas da festa de Ano Novo na passagem de 1999 para 2000. Fiquei com minha mulher em Copacabana. A idéia era assistir ao famoso foguetório. Como não sou muito de viajar, aproveitei a rara oportunidade de ter saído de Brasília para ligar para um grande patriota e amigo, Severino Mariz Filho. Há muito trocávamos correspondência, sempre falando sobre o Brasil e seus problemas. Era um contato permanente e agradável, mas que se fazia apenas por cartas ou pela Internet. Queria conhecê-lo pessoalmente. E foi ele quem me falou da obra e da vida de Adolfo. Quando cheguei ao Rio, a primeira coisa de fiz foi procurar Severino. A idéia era que ele me levasse ao grande nacionalista. O encontro foi em seu apartamento em Botafogo. Confesso que foi surpreendente ver um homem de 91 anos discutindo atualidades com paixão patriótica engajada, uma capacidade analítica profunda e um senso de realidade incomum. Conversamos muito. Aprendi mais ainda. Recebi vários livros seus de presente. Livros que sempre releio pela atualidade de suas análises. E é de um deles que reproduzo aqui o texto acima, extremamente atual, como o leitor poderá constatar. Sempre que possível, publicarei os artigos do amigo. Confiram e aprendam.
Said Dib
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