Gregório
Gregório era esperto como bode novo. Sozinho, varria o barracão, socava milho para os pintos, enchia o pote e as moringas e ainda estudava uma lição que D. Mundoca lhe passava. Estava sempre querendo puxar conversa com a moça. "Que vontade eu tenho de estudar, D. Mundoca, será que eu aprendo mesmo?" Ela não gostava de conversar. Tornava-lhe a lição, passava-lhe outra para o dia seguinte. Na hora do jantar, o coronel, tossindo, perguntava como ia o aluno. "Já assinava o nome?"
Noitezinha, Gregório subia ao quarto do coronel, estendia-lhe o tapeie de couro de onça sob a rede de varandas largas, espanava o oratório e acendia as quatro estearinas que D. Mundoca deixava ali, para esse fim. Em seguida, ao tomar a benção ao coronel, descia ao seu quarto, trancava a porta, acendia o candeeiro e estendia-se de bruços no soalho, só de calção, vendo as gravuras do seu livro e revistas velhas que o coronel recebia da cidade. O galo cantava, e ele continuava com as gravuras. Um dia encontrou uma figura que era escrito D. Mundoca, os lábios grossos, o nariz arrebitado - um sonho que o embeveceu. Nunca mais dormiu cedo. Tornou-se relaxado, os santos viviam empoeirados, os pintos tinham que comer o milho graúdo mesmo. O coronel, que já lhe tinha tomado estima, começou a estranhar-lhe o comportamento. Chamava-a mulher à parte, e perguntava o que se passava com o menino. A moça respondia que não sabia, o beiço virado em tom de desprezo.
Coronel Mariano sofria do coração, e por isso andava a passos curtos, a mão sempre no peito, enfiada na blusa de pijama de seda. Quando queria sair do barracão, mandava selar a sua mula ruça - o rumo que tomava era sempre o mesmo: os canaviais. Na passagem pelo depósito de frasqueiras, dava um assovio, vinha o vigia e lhe entregava uma medida de litro de alumínio que ele levava três vezes a boca e passava depois ao empregado, estalando os beiços finos, os olhos duas brasinhas.
Nas aulas, Gregório os olhos sempre na professora, acompanhando-lhe o menor gesto. Um dia, ela corrigindo- lhe o caderno de cópia, leu esta frase: "D. Mundoca, eu gosto muito da senhora, sabe? A senhora parece uma boneca". Não lhe disse nada, fez que não percebeu. A noite, em seu quarto, com a tesourinha, com multo cuidado, recortou a frase e guardou. Já não lhe era tão indiferente, ajudava-o nas tarefas, dizia-lhe uma ou outra palavra, cuidava da sua roupa.
De manhã, acabado o café, chamava-o para ir ajudá-la no galinheiro, na contagem dos ovos e verificar se as mucuras não tinham feito algum estrago. Os ninhos ficavam na parte superior do galinheiro. Ela mandava que ele segurasse a escada e subia devagar, cantarolando, a saia muito curta, numa das mãos um cesto. A princípio, Gregório mostrava-se acanhado, fingia não perceber a ordem. Abaixava a cabeça e punha-se a machucar com os pés torrões de barro
- Não vai me deixar cair, hem Gregório! - gritava. Esta escada não é segura! ... Nessas horas, sem querer, seus olhos voltavam-se para cima.
II
A cozinheira velha foi a primeira a notar a mudança do menino. Tão obediente, passou a responder-lhe sempre que lhe mandava fazer um serviço. "O diacho deste fedelho parece que ta adivinhando passarinho verde". Um dia subiu ao quarto do coronel e lhe contou tudo.
- O menino. sêo coronel, já não é o mesmo. Me responde, imbirra comigo como se eu fosse pareceira dele. O senhor inda não notou, não, coronel?
O velho confortava a negra dizendo que aquilo era da idade, Gregório estava crescendo, ficando rapazinho e era natural.
- Natural, sêo coronel? Vosmicê acha então natural um fedelho deste que já faz porcaria, já pensa em mulher?
- Como assim, Agripina?
- Pois então eu não espiei pelo buraco da fechadura do quarto dele uma noite, e não vi o assanhadozinho fazendo uma mundícia com a mão, sêo coronel, que nem macaco prego? O senhor tinha que ver a beleza que ele fazia! ...
O coronel calou, pôs a mão no queixo; ficou meditando por algum tempo. Depois, com uma pancadinha
nas costas da negra, admoestou-a.
- Vá, Agripina, e não dê multa Importância a essas coisas do meu afilhado!
Aquela noite. terminada a aula, Gregório recolheu-se ao quarto. Mas não dormiu: na primeira página do seu caderno de exercícios, estava escrito com a letra miúda de D. Mundoca:"Estando você muito atrasado em aritmética, venha ao meu quarto mais tarde que eu preciso lhe dar umas explicações. A professora".
III
IV
V
Arthur Engrácio
I
Gregório era esperto como bode novo. Sozinho, varria o barracão, socava milho para os pintos, enchia o pote e as moringas e ainda estudava uma lição que D. Mundoca lhe passava. Estava sempre querendo puxar conversa com a moça. "Que vontade eu tenho de estudar, D. Mundoca, será que eu aprendo mesmo?" Ela não gostava de conversar. Tornava-lhe a lição, passava-lhe outra para o dia seguinte. Na hora do jantar, o coronel, tossindo, perguntava como ia o aluno. "Já assinava o nome?"
Noitezinha, Gregório subia ao quarto do coronel, estendia-lhe o tapeie de couro de onça sob a rede de varandas largas, espanava o oratório e acendia as quatro estearinas que D. Mundoca deixava ali, para esse fim. Em seguida, ao tomar a benção ao coronel, descia ao seu quarto, trancava a porta, acendia o candeeiro e estendia-se de bruços no soalho, só de calção, vendo as gravuras do seu livro e revistas velhas que o coronel recebia da cidade. O galo cantava, e ele continuava com as gravuras. Um dia encontrou uma figura que era escrito D. Mundoca, os lábios grossos, o nariz arrebitado - um sonho que o embeveceu. Nunca mais dormiu cedo. Tornou-se relaxado, os santos viviam empoeirados, os pintos tinham que comer o milho graúdo mesmo. O coronel, que já lhe tinha tomado estima, começou a estranhar-lhe o comportamento. Chamava-a mulher à parte, e perguntava o que se passava com o menino. A moça respondia que não sabia, o beiço virado em tom de desprezo.
Coronel Mariano sofria do coração, e por isso andava a passos curtos, a mão sempre no peito, enfiada na blusa de pijama de seda. Quando queria sair do barracão, mandava selar a sua mula ruça - o rumo que tomava era sempre o mesmo: os canaviais. Na passagem pelo depósito de frasqueiras, dava um assovio, vinha o vigia e lhe entregava uma medida de litro de alumínio que ele levava três vezes a boca e passava depois ao empregado, estalando os beiços finos, os olhos duas brasinhas.
Nas aulas, Gregório os olhos sempre na professora, acompanhando-lhe o menor gesto. Um dia, ela corrigindo- lhe o caderno de cópia, leu esta frase: "D. Mundoca, eu gosto muito da senhora, sabe? A senhora parece uma boneca". Não lhe disse nada, fez que não percebeu. A noite, em seu quarto, com a tesourinha, com multo cuidado, recortou a frase e guardou. Já não lhe era tão indiferente, ajudava-o nas tarefas, dizia-lhe uma ou outra palavra, cuidava da sua roupa.
De manhã, acabado o café, chamava-o para ir ajudá-la no galinheiro, na contagem dos ovos e verificar se as mucuras não tinham feito algum estrago. Os ninhos ficavam na parte superior do galinheiro. Ela mandava que ele segurasse a escada e subia devagar, cantarolando, a saia muito curta, numa das mãos um cesto. A princípio, Gregório mostrava-se acanhado, fingia não perceber a ordem. Abaixava a cabeça e punha-se a machucar com os pés torrões de barro
- Não vai me deixar cair, hem Gregório! - gritava. Esta escada não é segura! ... Nessas horas, sem querer, seus olhos voltavam-se para cima.
II
A cozinheira velha foi a primeira a notar a mudança do menino. Tão obediente, passou a responder-lhe sempre que lhe mandava fazer um serviço. "O diacho deste fedelho parece que ta adivinhando passarinho verde". Um dia subiu ao quarto do coronel e lhe contou tudo.
- O menino. sêo coronel, já não é o mesmo. Me responde, imbirra comigo como se eu fosse pareceira dele. O senhor inda não notou, não, coronel?
O velho confortava a negra dizendo que aquilo era da idade, Gregório estava crescendo, ficando rapazinho e era natural.
- Natural, sêo coronel? Vosmicê acha então natural um fedelho deste que já faz porcaria, já pensa em mulher?
- Como assim, Agripina?
- Pois então eu não espiei pelo buraco da fechadura do quarto dele uma noite, e não vi o assanhadozinho fazendo uma mundícia com a mão, sêo coronel, que nem macaco prego? O senhor tinha que ver a beleza que ele fazia! ...
O coronel calou, pôs a mão no queixo; ficou meditando por algum tempo. Depois, com uma pancadinha
nas costas da negra, admoestou-a.
- Vá, Agripina, e não dê multa Importância a essas coisas do meu afilhado!
Aquela noite. terminada a aula, Gregório recolheu-se ao quarto. Mas não dormiu: na primeira página do seu caderno de exercícios, estava escrito com a letra miúda de D. Mundoca:"Estando você muito atrasado em aritmética, venha ao meu quarto mais tarde que eu preciso lhe dar umas explicações. A professora".
III
Primeiro, deixou que a cozinheira se agasalhasse. Depois, não ouvindo mais rumor para o lado da puxada, começou a subir os longos degraus da escada. Estancou no corredor e pôs-se a escutar procurando ouvir o rangido da rede do velho. Seguiu a passos incertos, até dar na porta da patroa. Ia bater, mas notou que havia luz e a porta só estava encostada. O coração era um caracaxá dentro do peito. Foi entrando devagarinho. D. Mundoca achava-se de frente para o espelho, escovando os cabelos com displicência, o roupão de cetim negro entreaberto por cuja abertura escapuliam duas coxas moreno-claras.
- É você, Gregório? Entre. Trouxe caderno e lápis? Ele sacudiu com a cabeça que sim. Ela levantou-se na ponta dos pés, foi até a porta e deu duas voltas na chave, o dedo sempre na boca pedindo silêncio. Voltou para a penteadeira, com um aceno o chamou.
- Não é aula, não, sêo bestinha! - disse, puxando-lhe carinhosamente a cabeça para junto dos seios quase todos de fora. - O que eu queria era conversar com você. Sabe que estou gostando muito de você? ...
Em seguida, com a fisionomia triste, pôs-se a falar do seu drama, que era infeliz, uma sofredora. Casada com o coronel, não tinha liberdade. Casada, não, que ela não podia chamar de casamento uma coisa daquela (o coronel não a tinha visto sequer nua até aquele dia). Ela não era sua mulher, era sua escrava, isso sim. Podia reparar no seu rosto que era sempre triste. "Não era?" Naquele barracão todos a odiavam e ela queria que ele fosse seu amigo, para isso passaria a ser boazinha com ela.
Mas havia uma condição: ele tinha que ser também bonzinho com ela e obedecê-la em tudo que determinasse.
"Estava certo?" Os grilos começaram a ferir o silêncio e o cuco da sala de jantar sonorizou doze vezes o espaço.
- Vá, meu filho; vá que já é tarde e o velho pode desconfiar. Amanhã eu falo com você de novo, tá? - falou, levando-o até a porta, agora com o roupão quase todo aberto.
- É você, Gregório? Entre. Trouxe caderno e lápis? Ele sacudiu com a cabeça que sim. Ela levantou-se na ponta dos pés, foi até a porta e deu duas voltas na chave, o dedo sempre na boca pedindo silêncio. Voltou para a penteadeira, com um aceno o chamou.
- Não é aula, não, sêo bestinha! - disse, puxando-lhe carinhosamente a cabeça para junto dos seios quase todos de fora. - O que eu queria era conversar com você. Sabe que estou gostando muito de você? ...
Em seguida, com a fisionomia triste, pôs-se a falar do seu drama, que era infeliz, uma sofredora. Casada com o coronel, não tinha liberdade. Casada, não, que ela não podia chamar de casamento uma coisa daquela (o coronel não a tinha visto sequer nua até aquele dia). Ela não era sua mulher, era sua escrava, isso sim. Podia reparar no seu rosto que era sempre triste. "Não era?" Naquele barracão todos a odiavam e ela queria que ele fosse seu amigo, para isso passaria a ser boazinha com ela.
Mas havia uma condição: ele tinha que ser também bonzinho com ela e obedecê-la em tudo que determinasse.
"Estava certo?" Os grilos começaram a ferir o silêncio e o cuco da sala de jantar sonorizou doze vezes o espaço.
- Vá, meu filho; vá que já é tarde e o velho pode desconfiar. Amanhã eu falo com você de novo, tá? - falou, levando-o até a porta, agora com o roupão quase todo aberto.
IV
Gregório estava apenas cochilando quando ela entrou no quarto e, sacudindo-lhe o punho da rede, mandou que ele a acompanhasse. Primeiro, se livraram dos chinelos para não despertar o sono do coronel; depois passaram por dois quartos grandes, indo parar num terceiro que ele nunca penetrara. Ela apanhou de um armário uma latinha verde, ele só espiava.
- Esta vendo isto aqui? - perguntou. É para o Em seguida meteu-lhe na mão o objeto e falou-lhe quase em segredo. Falou-lhe o que antes havia falado.
"Estava lembrado?" Despejasse aquilo tudo na frasqueira que tinha uma medida de alumínio emborcado no gargalo e viesse embora dormir.
O menino ia saindo, ela puxou-o pelo braço e deu-lhe um beijo nmaldito do velho. O velho tem que morrer, meu filho, tem que morrer! Sua "boneca" não agüenta mais! a boca.
"Estava lembrado?" Despejasse aquilo tudo na frasqueira que tinha uma medida de alumínio emborcado no gargalo e viesse embora dormir.
O menino ia saindo, ela puxou-o pelo braço e deu-lhe um beijo nmaldito do velho. O velho tem que morrer, meu filho, tem que morrer! Sua "boneca" não agüenta mais! a boca.
V
Coronel Mariano ainda chegou, até ao alpendre do barracão, em cima da mula. Ai tombou, a roupa empapada
de suor, a boca aberta querendo falar, e em vez de voz, era sangue que saía. Sangue negro misturado com cachaça. Negra Agripina, tomada de surpresa, parecia que ia enlouquecer. O velho só fazia agitar as mãos - náufrago que vem a tona pela última vez. Os cachorros puseram-se a latir, querendo soltar-se das correntes. Só então a negra pode raciocinar. Subiu a longa escada, na sua carreira de velha, a gritar pela patroa que o seu amo estava se acabando. Parou à porta do primeiro quarto, cansada, o peito arfando como papo de camaleão. Abriu-o de um golpe, estava vazio. "Minha Nossa Senhora da Conceição! Onde 'ta essa moça?"
- D, Mundoca, pelo amor de Deus, o coronel ta morrendo! Acuda! - gritava e corria pelo corredor.
Na porta do último quarto - a alcova do casal - não se agüentava mais, sentia que ia desfalecer.
Lá de fora vinham-lhe os gemidos que a morte provocava no coronel - os seus últimos gemidos. Do interior da alcova começaram a lhe chegar, também, outros gemidos que vinham se juntar, agora, aos do moribundo. estes, porém, mais brandos e intermitentes.
A negra empurrou a porta devagar, receosa, avançando alguns passos na penumbra - sobre a cama dois corpos nus abraçados estremeciam.
de suor, a boca aberta querendo falar, e em vez de voz, era sangue que saía. Sangue negro misturado com cachaça. Negra Agripina, tomada de surpresa, parecia que ia enlouquecer. O velho só fazia agitar as mãos - náufrago que vem a tona pela última vez. Os cachorros puseram-se a latir, querendo soltar-se das correntes. Só então a negra pode raciocinar. Subiu a longa escada, na sua carreira de velha, a gritar pela patroa que o seu amo estava se acabando. Parou à porta do primeiro quarto, cansada, o peito arfando como papo de camaleão. Abriu-o de um golpe, estava vazio. "Minha Nossa Senhora da Conceição! Onde 'ta essa moça?"
- D, Mundoca, pelo amor de Deus, o coronel ta morrendo! Acuda! - gritava e corria pelo corredor.
Na porta do último quarto - a alcova do casal - não se agüentava mais, sentia que ia desfalecer.
Lá de fora vinham-lhe os gemidos que a morte provocava no coronel - os seus últimos gemidos. Do interior da alcova começaram a lhe chegar, também, outros gemidos que vinham se juntar, agora, aos do moribundo. estes, porém, mais brandos e intermitentes.
A negra empurrou a porta devagar, receosa, avançando alguns passos na penumbra - sobre a cama dois corpos nus abraçados estremeciam.
*Conto extraído do excelente livro "Restinga", 1976.
O contista do Amazonas
Arthur Engrácio (1927-1997), genial escritor, poeta, contista, crítico literário, romancista e jornalista amazônida. Nasceu no dia 16 de abril de 1927, na cidade de Manicoré, no Amazonas. Engrácio foi um legítimo representante do "Clube da Madrugada", ao qual se juntou, logo após chegar a Manaus. Formado em Jornalismo, foi um dos precursores da prosa de ficção na moderna literatura amazonense e consolidou-se como ficcionista identificado com os elementos da realidade regional, ponto forte de sua obra.Conforme o poeta Thiago de Mello, que foi seu amigo, Arthur mostrou seu amadurecimento como escritor em sua obra póstuma “São José do Uruá”. Também exerceu a profissão de jornalista especializado em crítica literária e com o romance “Áspero Chão de Santa Rita” recebeu o Prêmio Suframa de Literatura. Seu nome consta na antologia da Cultura do Amazonas e também na Enciclopédia da Literatura Brasileira, organizada por Afrânio Coutinho.Arthur Engrácio foi um dos poucos escritores que participaram do Clube da Madrugada e se dedicou à crítica literária. Por seu universo literário se centrar em questões amazônicas, desdobra-se em duas vertentes: a regionalista e a mítica. Seu livro de estréia “Histórias do Submundo” e uma de suas últimas obras publicadas “A Vingança do Boto”, 1995, confirma o vigor de sua técnica. A Amazônia, que foi muitas vezes massacrada e vista como fim do mundo, ganha papel importante na escrita de Engrácio. Mesmo que tenha se colocado sempre de forma original, ele não foi um inventor de formas literárias, apenas foi um escritor do mundo natural e mítico, criando e encerrando uma era na literatura amazonense. Deixou para nós, um romance inédito, “São José do Uruá – Um Mergulho no Mundo Mágico da Boiúna”. Conforme nos conta, Arlene Souza Engrácio, sua filha, ele lutou até a morte para manter-se vivo intelectualmente. E assim ficou sua obra, imortalizada.
O contista do Amazonas
Arthur Engrácio (1927-1997), genial escritor, poeta, contista, crítico literário, romancista e jornalista amazônida. Nasceu no dia 16 de abril de 1927, na cidade de Manicoré, no Amazonas. Engrácio foi um legítimo representante do "Clube da Madrugada", ao qual se juntou, logo após chegar a Manaus. Formado em Jornalismo, foi um dos precursores da prosa de ficção na moderna literatura amazonense e consolidou-se como ficcionista identificado com os elementos da realidade regional, ponto forte de sua obra.Conforme o poeta Thiago de Mello, que foi seu amigo, Arthur mostrou seu amadurecimento como escritor em sua obra póstuma “São José do Uruá”. Também exerceu a profissão de jornalista especializado em crítica literária e com o romance “Áspero Chão de Santa Rita” recebeu o Prêmio Suframa de Literatura. Seu nome consta na antologia da Cultura do Amazonas e também na Enciclopédia da Literatura Brasileira, organizada por Afrânio Coutinho.Arthur Engrácio foi um dos poucos escritores que participaram do Clube da Madrugada e se dedicou à crítica literária. Por seu universo literário se centrar em questões amazônicas, desdobra-se em duas vertentes: a regionalista e a mítica. Seu livro de estréia “Histórias do Submundo” e uma de suas últimas obras publicadas “A Vingança do Boto”, 1995, confirma o vigor de sua técnica. A Amazônia, que foi muitas vezes massacrada e vista como fim do mundo, ganha papel importante na escrita de Engrácio. Mesmo que tenha se colocado sempre de forma original, ele não foi um inventor de formas literárias, apenas foi um escritor do mundo natural e mítico, criando e encerrando uma era na literatura amazonense. Deixou para nós, um romance inédito, “São José do Uruá – Um Mergulho no Mundo Mágico da Boiúna”. Conforme nos conta, Arlene Souza Engrácio, sua filha, ele lutou até a morte para manter-se vivo intelectualmente. E assim ficou sua obra, imortalizada.
Foto: "Futebol", de Joana Limongi
Nenhum comentário:
Postar um comentário