sexta-feira, 4 de setembro de 2009

José Sarney

Benditos dinossauros

Eu nunca achei que a cobiça pelo petróleo estivesse nas motivações da guerra de Bush ao Iraque. Achava delírio de radicais. Minha ingenuidade acabou quando li a autobiografia de Alan Greenspan, homem símbolo de uma época de glória do Banco Central americano, conservador e republicano. Lá estava, com todas as letras: "a Guerra no Iraque foi feita por causa do petróleo". Considerei-me um bobo, ao ter acreditado que isso era um insulto e calúnia, obra de xiitismo. Até a farsa das armas de destruição em massa estavam para mim à frente do petróleo. Não acabou o tempo em que se guerreava pelo petróleo e quem tivesse mais ganhava a guerra. Quem acha que as energias alternativas são para já deve fazer um exame de nível de otimismo. Por muitos e muitos anos ainda dependeremos dessa fonte de hidrocarbonetos, poluente e por todos nós desejada que acabe e se descubram e difundam as soluções de energia limpa. Fui testemunha viva e participante da história do petróleo no Brasil. Quando Monteiro Lobato sonhava em encontrar petróleo.Quando se acreditava que o Brasil não tinha meios nem recursos financeiros e humanos para enfrentar o desafio de saber onde ele estava escondido em nosso subsolo. Quando havia o medo de os trustes estrangeiros (multinacional ainda não estava em moda) abocanharem o petróleo que tivéssemos. A campanha ganhou as ruas, e o patriotismo nacional renasceu na utopia de um Brasil com grandes reservas. Os jovens saiam às ruas (eu entre eles), os militares com a bandeira da soberania, à frente a figura-símbolo do general Horta Barbosa. Getúlio manda a lei ao Congresso e não inclui o monopólio da Petrobras, a companhia a ser criada, para não trombar com as empresas estrangeiras. Deixou para a UDN, sua adversária, propor o monopólio estatal da exploração do petróleo. Bilac Pinto apresentou a emenda. Hoje ninguém se lembra mais dele nem o cita. A Petrobras contratou um Mister Link, maior autoridade internacional no ramo, para opinar. Seu relatório afirmava que o Brasil não tinha petróleo. A Petrobras não desistiu, não baixou a guarda, consolidou-se com grandes dificuldades e obstáculos e foi buscar a mais difícil das tecnologias: petróleo em águas profundas. Hoje é a melhor do mundo nessa área. Foi mais longe. Com suas sondas sem parar, chegou ao pré-sal, e o Brasil tem pela frente um gigantesco desafio. O presidente Lula foi o homem certo para este momento: só ele enfrentaria a luta contra os grandes grupos estrangeiros que querem o pré-sal em regime de concessões. No passado, os que defendiam o monopólio eram chamados de dinossauros. Benditos dinossauros, que asseguraram a utopia realizada de um Brasil potência petrolífera.

José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa
jose-sarney@uol.com.br

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