Xiitas e corrupção
São tantos assuntos que estão pedindo comentário que não me fixo em nenhum. É o axioma: muitas coisas, nenhuma coisa.
Abro um jornal da Espanha e sua manchete é “Por que há tanta corrupção na Espanha?” Ele a coloca na companhia de França, Itália e Portugal, mas nos mete no meio dizendo ser intolerável ter o nível dos “países em desenvolvimento” e não o dos “países desenvolvidos”, chegando à conclusão de que a corrupção existe pela falta de controles e a enorme discricionariedade. Mexe também com o argumento de ser um problema formado pela cultura capitalista e católica, que entra na história como Pilatos no credo. Por esse argumento vamos nós dizer que já tivemos inclusive uma “Lei de Gérson” que pregava “é preciso levar vantagem em tudo”.
A verdade é que cada vez mais só nos resta um caminho para diminuir essa escalada que não é maior nem menor do que foi no passado, mas que hoje, com mais capacidade de apuração e técnicas de quebrar sigilos, se torna mais visível e desperta cotidiana vigilância. Chego ao fim da frase sem oração principal, e concluo, afirmando o que falta: aumentar cada vez mais os instrumentos quer legais, quer materiais (softwares, auditorias, melhoria de recursos humanos, procedimentos de licitação, fiscalização e controle). O Tribunal de Contas da União fez um avanço notável nessa direção. Hoje ele dispõe de um arsenal de vigilância que tem melhorado significativamente a qualidade das contas públicas. No mais é procurar aprimorar o homem, seus princípios morais e éticos, seu respeito próprio.
Mas enquanto na Espanha e aqui discutimos tais coisas, as mulheres xiitas do Afeganistão — sempre o Afeganistão — numa heróica prova de coragem, lutam contra a lei que as obriga a fazer sexo no mínimo quatro vezes por semana. Para mostrar que o mundo é desigual, acho que maior seria a passeata no Ocidente de mulheres pedindo para fazer ao menos uma vez. Stanislaw Ponte Preta, na década de 50 do século passado, no seu famoso Consultório Sentimental, respondia a uma consulente que, desesperada, pedia orientação, porque seu marido, que a procurara todo dia durante dezoito anos, de repente, parara. Ele respondeu: “Vá a Igreja de Santo Antônio e agradeça a Deus. Muitas não foram procuradas um dia sequer. A senhora já faturou 18 anos.” Enquanto isso os cientistas bisbilhotam e descobrem que há formigas – Mycocepurus smithii – que reproduzem sem fazer sexo. Já as nossas muriçocas, os tão temíveis Aedes aegypti, só fazem no escuro cantando aquela musiquinha que perturba nossos sonos. E os arqueólogos acham que descobriram o túmulo de um ícone dos que faziam amor de qualquer jeito: Cleópatra. E o que tem a ver isso com corrupção? Absolutamente nada.
São tantos assuntos que estão pedindo comentário que não me fixo em nenhum. É o axioma: muitas coisas, nenhuma coisa.
Abro um jornal da Espanha e sua manchete é “Por que há tanta corrupção na Espanha?” Ele a coloca na companhia de França, Itália e Portugal, mas nos mete no meio dizendo ser intolerável ter o nível dos “países em desenvolvimento” e não o dos “países desenvolvidos”, chegando à conclusão de que a corrupção existe pela falta de controles e a enorme discricionariedade. Mexe também com o argumento de ser um problema formado pela cultura capitalista e católica, que entra na história como Pilatos no credo. Por esse argumento vamos nós dizer que já tivemos inclusive uma “Lei de Gérson” que pregava “é preciso levar vantagem em tudo”.
A verdade é que cada vez mais só nos resta um caminho para diminuir essa escalada que não é maior nem menor do que foi no passado, mas que hoje, com mais capacidade de apuração e técnicas de quebrar sigilos, se torna mais visível e desperta cotidiana vigilância. Chego ao fim da frase sem oração principal, e concluo, afirmando o que falta: aumentar cada vez mais os instrumentos quer legais, quer materiais (softwares, auditorias, melhoria de recursos humanos, procedimentos de licitação, fiscalização e controle). O Tribunal de Contas da União fez um avanço notável nessa direção. Hoje ele dispõe de um arsenal de vigilância que tem melhorado significativamente a qualidade das contas públicas. No mais é procurar aprimorar o homem, seus princípios morais e éticos, seu respeito próprio.
Mas enquanto na Espanha e aqui discutimos tais coisas, as mulheres xiitas do Afeganistão — sempre o Afeganistão — numa heróica prova de coragem, lutam contra a lei que as obriga a fazer sexo no mínimo quatro vezes por semana. Para mostrar que o mundo é desigual, acho que maior seria a passeata no Ocidente de mulheres pedindo para fazer ao menos uma vez. Stanislaw Ponte Preta, na década de 50 do século passado, no seu famoso Consultório Sentimental, respondia a uma consulente que, desesperada, pedia orientação, porque seu marido, que a procurara todo dia durante dezoito anos, de repente, parara. Ele respondeu: “Vá a Igreja de Santo Antônio e agradeça a Deus. Muitas não foram procuradas um dia sequer. A senhora já faturou 18 anos.” Enquanto isso os cientistas bisbilhotam e descobrem que há formigas – Mycocepurus smithii – que reproduzem sem fazer sexo. Já as nossas muriçocas, os tão temíveis Aedes aegypti, só fazem no escuro cantando aquela musiquinha que perturba nossos sonos. E os arqueólogos acham que descobriram o túmulo de um ícone dos que faziam amor de qualquer jeito: Cleópatra. E o que tem a ver isso com corrupção? Absolutamente nada.
José Sarney é ex-presidente da República, senador do Amapa´e acadêmico da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa
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