sábado, 18 de abril de 2009

Na Mira do Belmiro

Preservacionismo maroto

Que forças ocultas e interesses pulsantes estarão dando suporte à guerra na imprensa contra a reconstrução da Rodovia BR 319? Em menos de 1 semana somente a Folha de S. Paulo, um jornal que se auto-define " a serviço do Brasil", destacou dois de seus repórteres para atacar uma rodovia que já existe, e que foi implantada para tirar o Amazonas do isolamento terrestre em relação ao resto do país. A serviço de que Brasil estaria um veículo que pontifica a condenação a priori do empreendimento afirmando que "...de qualquer ângulo que se contemple, a recuperação da rodovia BR-319 - a Manaus-Porto Velho, uma obra do PAC- é mau negócio"? E cita para respaldar a afirmação do jornalista - que sequer folheou o Estudo e o Relatório Ambiental da obra - que a rodovia causará um prejuízo de R$ 2,2 bilhões nos próximos 25 anos, calculado por uma "...análise independente da organização não-governamental americana Conservation Strategy Fund (CSF), especi alizada em estudos de racionalidade econômica de projetos que afetem o ambiente". Tenha santa paciência!
A tal Conservation Strategy Fund (CSF) é dirigida por jovens ambientalistas da Califórnia, entre os quais se destacam alguns pesquisadores, artistas de Hollywood, professores, surfistas e biólogos da fauna marítima do Pacífico. Entre suas obras, nenhuma ação sócio-ambiental na Amazônia que lhes confira autoridade e lastro para deitar boca e regra nas demandas e necessidades de promoção social e econômica de nossa gente. É mais uma ONG sustentada por corporações estrangeiras com interesses e focos absolutamente alheios às necessidades de progresso e bem-estar dos 25 milhões de habitantes da floresta. Essa barulheira todos já conhecemos e sabemos a que se destina e a favor de quem borbulha.
O Estudo e o Relatório de Impacto ambiental da BR 319, feito por cientistas locais, que serão entregues nesta sexta-feira, no auditório da Reitoria da Universidade Federal do Amazonas, trazem recomendação e instruções para manter preservadas 95% da cobertura florestal no entorno do empreendimento. E é óbvio que isso não pode ser entregue para fiscalização e controle único do poder público. Esta é uma responsabilidade compartilhada em que a participação da sociedade é vital e essencial para que as prescrições saiam do papel e sejam monitoradas por todos os atores envolvidos. Isso supõe investimento em educação ambiental, ação conjunta dos segmentos sociais privados com os entes públicos de fomento, financiamento, fiscalização e controle. E aí, cabe perguntar sobre os recursos bilionários investidos no Serviço de Proteção da Amazônia, o SIVAM/SIPAM e sua tecnologia de monitoramento da floresta. Qual será sua participação?
À campanha contra a construção da BR 319 não importa se hoje estamos reféns de gargalos logísticos que comprometem a competitividade do modelo ZFM, incluindo o modal fluvial e marítimo, nossa vocação natural de transporte, oligopolizada por grupos protegidos e privilegiados. Essa campanha nada tem de inocente e altruísta e é tão antiga quanto a teimosia de criarmos no coração da floresta um modelo econômico bem sucedido de desenvolvimento e sustentabilidade ambiental. Ela pretende preservar não a floresta e sim o atraso. Assim não fosse não compactuaria com 95% de destruição do bioma Mata Atlântica. Não é isso que permitiremos ocorrer com nossas florestas. Para defendê-la e perenizá-la precisamos, entretanto, de infraestrutura e respectivas receitas. Só é possível preservar um bem quando se lhe atribui finalidade econômica. O resto é preservacionismo maroto e pirotecnia ambiental.

Zoom-zoom

Dendê na Amazônia - o empresário e secretário de Planejamento do Amazonas, Denis Minev, destacou em mensagem o tema da última Mira sobre Dendê e nos encaminhou proposta de projeto de dendê em Tefé, ora em análise na Secretaria de Meio Ambiente. Os parceiros são investidores malaios e a intenção é responder com fatos a apologia da intocabilidade da floresta, "... a turma que define a Amazônia como santuário".

Desenvolvimento sustentável - Na mesma linha de princípios, o empresário e ex-secretário de Planejamento do Amazonas, Osíris Silva, foi categórico: "... nenhum país do mundo, ao longo da história, desenvolveu-se sem setor primário, sem o apoio do campo, da produção de alimentos. O Amazonas simplesmente transpôs a fase do extrativismo para o ciclo industrial sem consolidar os estágios intermediários que dão sustentação às etapas subseqüentes. Está na base da Teoria do Desenvolvimento Econômico. Descuidar desses indicadores configura grave ato temerário do poder público e das entidades representativas de classes, da classe política, do campo universitário e da sociedade como um todo. Sério descaso para com o futuro do estado."

Dendê e transporte: Ainda sobre o dendê e preocupado com a desinformação generalizada sobre o tema, o empresário Petrônio Pinheiro destaca outras oportunidades de negócios abandonadas pela História como a borracha e a juta e propõe uma reflexão sobre a infraestrutura de transportes na Amazônia, nossos gargalos logísticos e respectivos custos. Resolver esta questão é necessário para avançar no aproveitamento racional de nossas potencialidades naturais e econômicas.

Fórum permanente - Denis, Osíris e Petrônio são arautos de uma mesma demanda e inquietação que mobilizam diversos companheiros, interessados em debater a diversificação e interiorização de nosso modelo econômico e de desenvolvimento. Infra-estrutura, alternativas energéticas, a vocação econômica e ecológica dos nossos recursos naturais...tudo isso justifica a formulação imediata de um fórum permanente de discussão. Voltaremos a este assunto.

Belmiro Vianez Filho
é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.
belmirofilho@belmiros.com.br

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