Por Geraldo Luís Lino e Lorenzo Carrasco
A julgar pelos parcos resultados e pelas divergências mostradas na reunião dos ministros financeiros e chefes de bancos centrais do G-20, ocorrida em Londres no sábado 14 de março, como preparação para a cúpula de 2 de abril, a crise econômico-financeira global ainda terá que se agravar muito para alterar significativamente a percepção de que ela não poderá ser resolvida sem uma drástica reforma sistêmica. Reforma, esta, que proporcione um realinhamento do sistema financeiro global com os requisitos dos setores produtivos da economia e as aspirações de desenvolvimento e progresso de todos os povos do planeta, em vez de servir preferencialmente aos interesses estabelecidos em torno do cassino especulativo em que o sistema foi convertido nas últimas décadas.
O problema é que ainda não se manifestou a combinação de forças políticas efetivas que possa colocar à margem do processo de reorganização mundial os grupos oligarcas responsáveis pelo sistema disfuncional que levou a humanidade a essa crise. Sem isto, os governos do G-20 continuarão em um processo de faz-de-conta, enquanto a economia mundial mergulha em uma perigosíssima voragem.
Praticamente, a única decisão tomada em Londres se referiu a uma consensual necessidade de reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), quanto ao aumento dos seus recursos financeiros e à ampliação da representatividade das chamadas economias emergentes. O tema foi também objeto de uma declaração em separado divulgada pelos representantes do Brasil, Rússia, Índia e China, o chamado grupo BRIC, que aos poucos parece estar tomando consciência do seu peso específico (em junho, a Rússia será anfitriã da primeira cúpula do grupo).
De resto, o que mais ressaltaram foram as divergências entre as duas margens do Atlântico, com os EUA enfatizando a necessidade de que os demais governos do bloco ampliem os incentivos às suas economias e a União Européia (UE) mais preocupada com o inadiável restabelecimento de uma estrutura regulatória para as finanças mundiais, aí incluída uma imprescindível repressão - ou, de preferência, supressão - dos paraísos fiscais e outras facilidades tão a gosto da alta finança global.
Enquanto isso, os números da crise não cessam de agravar-se, com prognósticos cada vez mais sombrios para o futuro imediato. Para o Banco Mundial, somente uma "solução global" poderá evitar uma catástrofe econômica. Um documento preparado para a reunião ministerial em Londres é direto:
Provavelmente, a economia global encolherá este ano, pela primeira vez desde a II Guerra Mundial, com um crescimento de pelo menos 5 pontos percentuais abaixo do potencial. Os prognósticos do Banco Mundial mostram que, em meados de 2009, a produção industrial global poderá cair a níveis de 15% abaixo dos de 2008. Em 2009, o comércio mundial está a caminho de registrar o seu maior declínio em 80 anos, com as perdas mais graves no Leste Asiático.
Ao mesmo tempo, o comércio mundial deverá experimentar uma contração de 6-7%, na avaliação do próprio diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. Em entrevista à Folha de S. Paulo (16/03/2009), Lamy afirmou que o processo "será terrível" e assinalará a primeira retração do comércio internacional desde 1982. Não obstante, ele não perdeu a oportunidade para alertar contra a "tentação do protecionismo", chegando a dizer que o Brasil ainda precisa abrir mais a sua economia. Quer dizer, contra uma hemorragia, a OMC sugere uma sangria.
Para um número crescente de analistas, a cúpula do G-20 poderá representar a última chance de se evitar o aprofundamento da depressão global e suas perigosíssimas consequências sociopolíticas, inclusive a eclosão de potenciais conflitos de todo tipo, tanto dentro das nações afetadas como até mesmo entre elas. Em seu mais recente relatório, os analistas do Laboratório Europeu de Antecipação Política (LEAP) sintetizam:
(...) Os líderes do G-20 têm apenas duas opções: ou reconstroem um novo sistema monetário internacional, criando as condições para um novo sistema global que envolva todos os principais atores globais e reduzindo a crise a um máximo de 3-5 anos; ou lutam para prolongar o presente sistema, lançando o mundo em uma trágica e longa década de crise, a começar no final de 2009. (...)
Se a cúpula do G-20 falhar em evitar que o mundo entre na fase de deslocamento geopolítico, operações de manipulação e desestabilização aumentarão em número, com cada bloco regional tentando desacreditar o seu oponente, como em qualquer jogo de soma zero: um jogador ganha o que o outro perde.
Desafortunadamente, pelo que se viu na capital britânica, as perspectivas da cúpula de abril não são das melhores.
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A julgar pelos parcos resultados e pelas divergências mostradas na reunião dos ministros financeiros e chefes de bancos centrais do G-20, ocorrida em Londres no sábado 14 de março, como preparação para a cúpula de 2 de abril, a crise econômico-financeira global ainda terá que se agravar muito para alterar significativamente a percepção de que ela não poderá ser resolvida sem uma drástica reforma sistêmica. Reforma, esta, que proporcione um realinhamento do sistema financeiro global com os requisitos dos setores produtivos da economia e as aspirações de desenvolvimento e progresso de todos os povos do planeta, em vez de servir preferencialmente aos interesses estabelecidos em torno do cassino especulativo em que o sistema foi convertido nas últimas décadas.
O problema é que ainda não se manifestou a combinação de forças políticas efetivas que possa colocar à margem do processo de reorganização mundial os grupos oligarcas responsáveis pelo sistema disfuncional que levou a humanidade a essa crise. Sem isto, os governos do G-20 continuarão em um processo de faz-de-conta, enquanto a economia mundial mergulha em uma perigosíssima voragem.
Praticamente, a única decisão tomada em Londres se referiu a uma consensual necessidade de reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), quanto ao aumento dos seus recursos financeiros e à ampliação da representatividade das chamadas economias emergentes. O tema foi também objeto de uma declaração em separado divulgada pelos representantes do Brasil, Rússia, Índia e China, o chamado grupo BRIC, que aos poucos parece estar tomando consciência do seu peso específico (em junho, a Rússia será anfitriã da primeira cúpula do grupo).
De resto, o que mais ressaltaram foram as divergências entre as duas margens do Atlântico, com os EUA enfatizando a necessidade de que os demais governos do bloco ampliem os incentivos às suas economias e a União Européia (UE) mais preocupada com o inadiável restabelecimento de uma estrutura regulatória para as finanças mundiais, aí incluída uma imprescindível repressão - ou, de preferência, supressão - dos paraísos fiscais e outras facilidades tão a gosto da alta finança global.
Enquanto isso, os números da crise não cessam de agravar-se, com prognósticos cada vez mais sombrios para o futuro imediato. Para o Banco Mundial, somente uma "solução global" poderá evitar uma catástrofe econômica. Um documento preparado para a reunião ministerial em Londres é direto:
Provavelmente, a economia global encolherá este ano, pela primeira vez desde a II Guerra Mundial, com um crescimento de pelo menos 5 pontos percentuais abaixo do potencial. Os prognósticos do Banco Mundial mostram que, em meados de 2009, a produção industrial global poderá cair a níveis de 15% abaixo dos de 2008. Em 2009, o comércio mundial está a caminho de registrar o seu maior declínio em 80 anos, com as perdas mais graves no Leste Asiático.
Ao mesmo tempo, o comércio mundial deverá experimentar uma contração de 6-7%, na avaliação do próprio diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. Em entrevista à Folha de S. Paulo (16/03/2009), Lamy afirmou que o processo "será terrível" e assinalará a primeira retração do comércio internacional desde 1982. Não obstante, ele não perdeu a oportunidade para alertar contra a "tentação do protecionismo", chegando a dizer que o Brasil ainda precisa abrir mais a sua economia. Quer dizer, contra uma hemorragia, a OMC sugere uma sangria.
Para um número crescente de analistas, a cúpula do G-20 poderá representar a última chance de se evitar o aprofundamento da depressão global e suas perigosíssimas consequências sociopolíticas, inclusive a eclosão de potenciais conflitos de todo tipo, tanto dentro das nações afetadas como até mesmo entre elas. Em seu mais recente relatório, os analistas do Laboratório Europeu de Antecipação Política (LEAP) sintetizam:
(...) Os líderes do G-20 têm apenas duas opções: ou reconstroem um novo sistema monetário internacional, criando as condições para um novo sistema global que envolva todos os principais atores globais e reduzindo a crise a um máximo de 3-5 anos; ou lutam para prolongar o presente sistema, lançando o mundo em uma trágica e longa década de crise, a começar no final de 2009. (...)
Se a cúpula do G-20 falhar em evitar que o mundo entre na fase de deslocamento geopolítico, operações de manipulação e desestabilização aumentarão em número, com cada bloco regional tentando desacreditar o seu oponente, como em qualquer jogo de soma zero: um jogador ganha o que o outro perde.
Desafortunadamente, pelo que se viu na capital britânica, as perspectivas da cúpula de abril não são das melhores.
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