quarta-feira, 15 de abril de 2009

José Paulo Kupfer

O BB não pode ser o mais rentável

No dia em que o futuro presidente do Banco do Brasil afirmou a jornalistas que a instituição vai praticar uma política “agressiva” de redução dos juros, as ações do BB subiram na Bolsa. Isso significa que os investidores aprovam a política de redução dos juros que está sendo anunciada? É claro que não é possível concluir nada disso a partir de um único pregão.
Na semana passada, quando foi anunciada a troca na presidência do BB, sob a alegação de que o presidente demitido resistira a reduzir os juros tanto quanto o governo gostaria – ou, pelo menos, não conseguira promover tal redução –, as ações do BB caíram. Isso significava que os investidores rejeitavam a política de redução dos juros que deveria ser implementada? Também muito provavelmente não.
Mas não faltaram jornais, até mesmo em manchetes, especialistas e colunistas a dizer que sim. A troca de presidentes, segundo uma manchete de jornal, teria feito o BB perder R$ 5 bi em dois dias. O “valor de mercado”, aquele indicador resultante da multiplicação da cotação do momento pelo número de ações em circulação, um inocente útil cansativamente usado na tentativa de comprovar ideias estapafúrdias, tinha sido novamente convocado para um servicinho sujo.
A decisão do governo foi tomada pela grande mídia – e vocalizada por porta-vozes nela própria instalados – como intervenção política, que tornaria o BB mais vulnerável a aparelhamentos partidários. Mais do que isso, poderia comprometer a competitividade do banco no mercado, afetando a rentabilidade. Segundo as análises em passo com os editoriais, a troca de um presidente “técnico” por um petista – ainda que ambos sejam funcionários de carreira da instituição –, a partir de pressões indevidas patrocinadas diretamente pelo presidente Lula configurava uma falha inaceitável de governança, com vastos prejuízos potenciais para seus milhares de acionistas.
É fato que qualquer instituição, pública ou privada, deve zelar pela transparência e a consistência de sua governança. As regras de atuação precisam ser claras e de conhecimento público. Mas, isso posto, só com base na lei de Gérson é que se pode querer que o Banco do Brasil figure no topo do ranking dos bancos mais rentáveis. Na verdade, será mais correto que suas ações estejam entre as menos rentáveis.
O mais chucro dos investidores juniores sabe que investimentos obedecem a uma combinação entre segurança, liquidez e rentabilidade. Será sempre uma anomalia quando o ativo mais seguro for também o mais rentável ou o mais líquido e vice-versa. Se o BB é o mais seguro – e na hora em que a onça bebe água no mercado financeiro a corrida para ele é mais do que a prova do pudim –, sua competitividade não pode ser medida pelo nível de rentabilidade.
Além disso, quem investe no Banco do Brasil, sabe onde está metendo a colher, quer dizer, o bolso. Se não sabe, desculpem, deveria saber.
É claro que o valor de mercado de dois dias é uma medida imprestável para avaliar o que pode acontecer com uma empresa. Mesmo captado em prazo mais largo, deve ser utilizado com as devidas cautelas. É um indicador antes de tudo volátil.
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* José Paulo Kupfer
Nasceu no Rio de Janeiro em 1948. Jornalista desde 1967, foi repórter, redator, secretário de redação, editor-chefe e diretor em diversas publicações do Rio, São Paulo e Porto Alegre. Começou na revista Fatos & Fotos e trabalhou no Correio da Manhã, O Globo, Exame, Jornal do Brasil, Veja, Istoé, Estado de S. Paulo, Zero Hora, Gazeta Mercantil e Foco-Economia e Negócios

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