Carta de Magdala Domingues Costa, do Rio de Janeiro, para Helio Fernandes

Às avessas

Jornalista Helio Fernandes:

Cumprimento-o pela vitória alcançada e faço votos que continue na sua "Tribuna", defendendo causas nacionalistas, pois, de alienados e subservientes já estamos bem equipados. Não sei se leu a matéria intitulada "Príncipe Charles, a caça e a raposa", de autoria do Coronel Fregapani. Ideologia ou simpatia à parte, creio que este é insuspeito porque jamais auferiu lucros na defesa de sua posição sobre temas brasileiros, especialmente que contemplem o respeito à nossa integridade territorial.
Não se tem notícia de que possua castelos, capitanias, sesmarias, ilhas, casas no lago, ou receba "salário indireto", para exercer as funções às quais se habilitou durante a longa vida profissional.
Das profundezas de minha ignorância, observo, infelizmente, que a cada visita de um "benfeitor" desinteressado, egresso de países ricos, desenvolvidos, que dilapidaram seus recursos naturais ao longo de séculos, enfrentando-se em guerras absurdas etc. nós nos sentimos muito "honrados". Se for uma "alteza" então. Haja rapapés e momices das mais altas autoridades constituídas.
No enredo de afabilidades aos homenageados incluem-se, inapelavelmente, uma cabrocha sacudindo os glúteos bem nutridos e criancinhas faveladas, ooops, das comunidades, acenando simpaticamente. Brasileiro sempre bonzinho...
Desta vez a obviedade é muito mais palpável e muuuuito menos palatável, para quem dispõe de um mínimo de consciência crítica.
As burras de Sua Majestade, Elizabeth II, não se encontravam tão ameaçadas, desde a Segunda Guerra Mundial e os problema$ financeiro$ abundam, com a perspectiva dark de quebra de instituições bancárias e toda a débâcle anunciada pelos tempos sombrios de "crise". Uma questão minúscula e uma perguntinha incômoda rondam-me a cachola: "Por que este senhor, ao que parece, inepto, pois a mãe vetusta sequer considera a possibilidade de passar-lhe a coroa, temendo, naturally, sua extremada competência, senso estético, etc. arvora-se o direito de considerar-se "paladino" de causas ambientais"?? E, pior, prometendo "apoio aos povos da floresta" tupiniquins...
Se isto não é um insulto às nossas Instituições, então meu código de Ética caducou mesmo. Na terra de meu genitor havia um dito rústico, bem nordestino, que definia situações assim: "é como passar sabão na cara do cavalo".
O senhor já visitou por acaso a Floresta de Sherwood? Aquela onde Robin Hood morava com seu bando de "justiceiros"?
Eu a procurei e não consegui encontrar, quando de visita à Inglaterra. Pois é, a vida imita a arte. Neste patético caso surrealista, às avessas. O trêfego Charles vem travestido de Robin Hood, buscando tirar dos "pobres" subdesenvolvidos, para dar aos ricos... Não conseguiu ser exemplo de nada em sua terra, e como observa com extrema argúcia o coronel Fregapani, entediado de caçar raposinhas, lança os olhos cúpidos sobre nossa raposa.
O grande problema brasileiro é a falta de auto-estima. Não há inimigo externo pior. Cordiais saudações.