segunda-feira, 9 de março de 2009

Manuel Cambeses Júnior*

A dinâmica do processo civilizatório

A idéia de Estado-Nação é um pensamento muito elaborado. Seu entendimento pressupõe o caminhar por uma linha ininterrupta de idéias, através do espaço e do tempo, que ligam as hordas às grandes potências. O Estado - Nação constitui o resultado das soluções silenciosas e progressivas das questões que surgiram da convivência humana. Querer, num ensaio, estabelecer o preciso momento e a melhor via em que se deram essas soluções, é buscar o inalcançável. Entretanto, a forma dessas soluções sempre foi a mesma: o pacto. Seja aquele resultante da imposição do mais poderoso e que, portanto, decorre da racionalização de desvantagens; seja aquele que advém da composição de vontades, e que, portanto, resulta da racionalização de vantagens.
O pacto é, antes de tudo, um produto da razão. A linha que liga as hordas à sociedade atual - à civilização - é um contínuo de pactos, sendo, talvez, a mais visível expressão da razão. O Estado-Nação é a última estação dessa linha ininterrupta de acordos. Não a última, mas a última conhecida. Não a definitiva, mas a última praticada. Conhecer o Estado-Nação é conhecer a história da razão e de seus pactos.
O entendimento de que o Estado-Nação resulta da razão é importantíssimo. O homem em sua inteireza se defronta internamente com muitas dualidades. As mais importantes para a sua existência, são, em nossa opinião: o inconformismo versus a resignação e a razão versus a emoção. A resignação e a emoção conceituamos como formadores da intransigência, enquanto que consideramos o inconformismo e a razão como os estimuladores da conquista do universo, pelo gênero humano. Sintetizamos, assim, o processo. E esta síntese nos acompanhará, ao longo deste ensaio.

(...)
Pérsia era o Centro, Grécia era a periferia. Pérsia era culta, Grécia era bárbara.
Veio o tempo; Grécia era o centro, Roma era a periferia. Grécia era culta, Roma era bárbara.

Veio o tempo; Roma era o centro, Bizâncio era a periferia. Roma era culta, Bizâncio era bárbara. Veio o tempo; Bizâncio era o centro, os árabes estavam na periferia. Bizâncio era culta, os árabes eram bárbaros.

Veio o tempo; Os árabes estavam no centro, a Península Ibérica era a periferia. Os árabes eram cultos, a Península Ibérica era bárbara.

Veio o tempo; A Península Ibérica era o centro, a Inglaterra era a periferia. A Península Ibérica era culta, a Inglaterra era bárbara.

Veio o tempo; A Inglaterra era o centro, a América era a periferia. A Inglaterra era culta, a América era bárbara.

Veio o tempo; A América é o centro. A América é culta.

O tempo virá...
(...)

Diferentemente do que Marx havia colocado, o maior choque, o grande responsável pelo processo civilizatório, é o que se processa entre sociedades e não aquele que se dá dentro de uma sociedade. O maior dos choques é o que se dá entre o sonho coletivo de uma sociedade emergente e a intransigência, ou seja, tudo aquilo que se opõe à dinâmica social. Ou seja, a intransigência nada mais é do que a ação do centro contra a periferia, da cultura contra a barbárie.
Para nós brasileiros, que somos considerados bárbaros e periféricos, é chegada a hora de assumirmos a dinâmica que estes atributos nos impõem. E esta dinâmica se vetorializa com um Projeto Nacional. Poderemos ser ou não ser. Mas teremos de tentar. Se o conseguirmos daremos ao processo civilizatório um novo espaço em ser. Espaço este onde ibéricos, negros, índios, holandeses, mais antigamente, e japoneses, alemães e italianos, mais proximamente, se sentiram latinos e recuperaram para o Lácio o fio condutor da história.

Leia o ensaio completo...

*Manuel Cambeses Júnior é coronel-aviador, conferencista especial da Escola Superior de Guerra, membro titular do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e vice-diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (Incaer)

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