sexta-feira, 13 de março de 2009

Na Mira do Belmiro

O inócuo estandarte da agonia

Num artigo ao mesmo tempo sombrio e ressentido sobre o comportamento da economia brasileira neste início do ano, publicado ontem na Folha de S. Paulo, o economista e ex-ministro das Comunicações do governo FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros, se compraz em listar os prognósticos que, na sua avaliação, "...permitem uma leitura mais clara dos efeitos da crise mundial sobre o país." Uma hecatombe. E pra começo e desfecho de conversa ele cutuca as "marolas" do presidente Lula, usadas à época provavelmente para conter o alarmismo oportunista de determinados setores, quando setembro último revelou o início da recessão mundial. É bem verdade que sua análise se baseia nos dados do IBGE, o mesmo IBGE que na gestão tucana maquiou os dados do PIB para camuflar desempenho adverso da economia. Pelos indicadores publicados nesta terça-feira, a redução de 3,6% no PIB - que, segundo a métrica americana, equivale a 14,4% em termos anualizados - é prenúncio de uma sit uação extremamente grave e de difícil enfrentamento. Em termos...
É bem verdade, também, que os dados do IBGE em relação ao Amazonas apontam para uma queda na produção industrial em janeiro superior a 23% em relação a 2008. Um número objetivamente assustador mesmo considerando a sazonalidade do período e a suspensão de atividades de diversos setores que optaram por observar as tendências da economia nacional e mundial. As empresas que oferecem transporte alternativo aos trabalhadores do Pólo Industrial, já o dissemos aqui, estão com mais de dois terços de sua frota nos pátios. Não há dúvida, pois, que fomos atingidos duramente pelos efeitos da crise internacional. E ironicamente num momento em que a economia crescia ao ritmo de quase 7% ao ano depois de uma estagnação da mais de uma década.
Resta saber, com tudo isso, se o estandarte da agonia de alguns profetas da desconstrução vai fazer avançar a busca de soluções e se tem alguma eficácia na gestação de saídas compartilhadas no tecido social? E em que medida esta leitura sombria conduz à socialização das perdas e das compensações que exigem mobilização cívica e cumplicidade geral? Não postulamos a opção avestruz de contemplação e entendimento dos problemas. Defendemos apenas analisar as adversidades de olho em nossa capacidade criativa e histórico de enfrentamento e superação dos entraves. Temos reservas e credibilidade e nossa moeda há muito deixou de ser um papel sem lastro nem liquidez ou poder de barganha.
Ainda recorrendo aos dados do IBGE, sobre a amostragem domiciliar de emprego e oportunidades, constatamos que 88 mil pessoas foram empurradas para o subemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país, elevando o contingente de subocupados ao patamar a 709 mil, um acréscimo de 14,2% em função da crise. As ruas de Manaus, tomada de assalto pela informalidade, são o melhor exemplo dessa reversão da economia. Um momento propício, por exemplo, para pensar na desoneração das folhas de pagamento, um pesadelo para os empregadores e uma ferramenta potencial e eficaz de estímulo à suspensão das demissões. Uma saída oportuna entre tantas a serem adotadas na mesa de negociação que refuta o apocalipse derrotista e adota o entendimento como ferramenta de sobrevivência e superação. Ou haveria outro caminho?
Zoom-zoom

Cangalha tributária - Em tempo de crise e de cumplicidade imperativa, o bom senso sugere revisão de dogmas e conceitos em busca de soluções. A carga tributária brasileira, por exemplo, que atingiu 36,56% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2008, precisa urgentemente ser revista. De acordo com o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), a participação dos impostos no total produzido no país apresentou alta de 1,02 ponto percentual sobre 2007, quando fechou em 35,54% do PIB. O montante de impostos arrecadados em 2008 foi de R$ 1,056 trilhão, enquanto o PIB ficou em R$ 2,889 trilhões. Tem algo de muito desigual e injusto nessa equação.

Hora de trabalhar - Os candidatos à sucessão estadual precisariam adotar posturas mais proativas na direção do interesse público e, nesse contexto, dar-se conta de um provável aumento da eficácia eleitoral que tem movido suas intervenções. Alfredo e Amazonino, no ministério dos Transportes e na prefeitura de Manaus bem poderiam reduzir a compulsão eleitoreira e ampliar a opção pelo efetivo batente.

Portos e buracos - A construção dos portos nesse beiradão esquecido, alvo de tantas promessas e anúncios, aguarda ações mais efetivas para amenizar a penúria social e solidão econômica do ribeirinho desassistido. O mesmo se aplica à gestão urbana de Manaus, alvo de lentidão e brigas, inaceitáveis à luz da grave e esburacada paisagem urbana e social que a todos assusta.

Belmiro Vianez Filho é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.
belmirofilho@belmiros.com.br

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