quarta-feira, 14 de outubro de 2009

POEMA: "O PASSADO", DE W.C.BRYANT

Meus queridos amigos:

Segue abaixo um dos poemas mais bonitos da língua inglesa. Trata-se de “The Past” (“O Passado”), de W.C.Bryant, escrita numa linguagem mais arcaica, mas com uma profundidade muito interessante, quando se vê o passado com os olhos ansionsos no futuro. A tradução para a nossa língua foi feita pelo meu avô, Recenvindo Barbosa Lagares, o homem que me criou, minha referência, meu único ídolo. Ele foi seminarista no Caraça, em Minas. Infelizmente, não está mais entre nós. Depois da tradução, vocês podem conferir a análise do tradutor sobre o poema. Confiram e comentem.
Said


THE PAST
O PASSADO

By W.C.bryant.
Tradução: Recenvindo Barbosa Lagares

Thou unrelenting past!
Strong are the barriers round the
Darks domain,
And fetters, sure and fast,
Hold all that enter thy unbreathing reign.

O Tu, Passado Implacável!
Fortes são as barreiras que circundam teus negros domínios,
Duros e fortes os grilhões que imobilizam
Aos que penetram teu reino asfixiante

Far in thy realm withdrawn,
Old empires set in sulleness and
Gloom,
And glorious ages gone
Lie deep within the shadouw of thy womb.

Há muito, para teus domínios retirados,
Descansam velhos impérios na sombra, na escuridão;
E, fundo, na penumbra de teu seio,
Épocas gloriosas que se foram.

Childhood, with all its mirth,
Youth, manhood, age that draws us to the ground,
And last, man’s life on earth,
Glide to thy dim dominions,
And are bound.

Tudo se desliza para teus tétricos domínios:
A infância em toda a sua alegria,
A juventude, a virilidade plena, a idade que nos arrasta ao pó,
Enfim, a vida dos homens sobre a terra.

Thou Hast my better Years;
Thou hast my earlier friends, the good, the kind,
Yielded to thee with tears-
The venerable form, the exalted mind.

Teus, os meus melhores anos,
Teus, os meus primeiros amigos!
Os bons, os benevolentes, com lágrimas,
Entregam-te o corpo esplêndido, a mente gloriosa!

My spirit yearns to bring
The lost ones back-Yearns with
Desire intense,
And struggles hard to wring.
Thy bolts apart, and pluck thy
Captives thence.

Meu espírito, porém aos que se foram,
Anseia por traze-los de volta.
Anseia e, no desejo fremente, luta
Por romper-te as cadeias, arrancando-te os cativos.

In vain! Thy gates deny
All passage save to those who
Hence depart;
Nor to the streaming eye.
Thou giv’st them back-nor to
The broken heart.

Em vão, porém; Teus portões não se abrem,
Senão aos que daqui se vão!
A ninguém dás que volte, não te enterneces
Ante as lágrimas, os corações partidos.

In thy abysses hide
Beauty and excellence unknown
to thee
Earth’s wonders and her pride
Are gathered as the waters to the sea;

Qualidades excelsas, belezas desconhecidas,
Ocultam-se nos teus abismos;
E, como para o mar as águas, para ti afluem
Da terra as maravilhas e tudo de que se orgulha:

Labors of good man,
Unpublished charity, unbroken faith,
Love, that midst grief began,
And grew with years, and faltered not
in death.

O esforço do bem a favor do homem,
A caridade escondida, a fé inquebrantável,
O amor na dor nascido, que com os anos cresceu,
Impassível mesmo ante a própria morte.

Full many a mighty name
Lurks in thy depths, unuttered, unrevered;
With thee are silent fame,
Forgotten arts. and wisdom disappeared.

Nas tuas profundezas, ocultam-se, portentosos,
Inúmeros nomes que já não se reverenciam, que não mais são pronunciados;
Contigo, a fama que se silenciou,
As artes esquecidas, a sabedoria que desapareceu.

Thine for a epace are they-
Yet shalt thou Yielde thy treasures up
at last:Thy gates shall yet give way,
Thy bolts sall fall, inexorable Past!

Tudo, por algum tempo, te pertence – Mas, enfim,
De teus tesouros haverás de abrir as mãos,
Teus portões, ó passado inexorável, abrirão caminho,
Os ferrolhos que os prendem romper-se-ão! Caminho,

All tha of good and fair
Has gone into thy womb from earliest time,
Shaal then come forth to wear the glory and the beauty of its prime.

Tudo quanto de belo e de bom,
Desde tempos imemoriais,
Em teu seio se escondeu, reaparecerá,
Revestido da glória e beleza originais.

They have not perished-no! Kind Words, remembered voices ance so
Sweet, smiles, radiant long ago, and features, the great sous’s apparent.
seat.

Nada pereceu! Oh! Não! Palavras bondosas,
Relembradas vozes de acento outrora tão suaves,
Sorrisos radiantes de antanho , e os corpos,
Das almas templos magnifícos,

All shall come back; each tie, of pure affection shall bi knit again;
Alone shall Evil die, and Sorrow dwell a prisioner in thy reign.

Tudo voltará; laços desfeitos,
Em pura afeição hão de reatar-se;
Apenas o MAL perecerá e,
Como único habitante de teu reino, prisioneira, a dor!

And then shall I behold him, by whose kind paternal side I sprung and
her, who, still and cold, fills the grave-the beautiful and young.

E então.....Então, belos e jovens, os verei:
A ele, a cujo o lado paternal e afável me criei,
A ela que, agora, inerte e fria,
Ocupa o túmulo que lhe fica ao lado.

COMENTÁRIO DO TRADUTOR

O domínio fraco do idioma alienígena e as limitações no conhecimento do próprio não permitem que se acompanhe um poeta nos vôos cósmicos, mesmo que, às vezes, dê a impressão de vôos rasantes, tangíveis, tocando-nos as fimbrias da sensibilidade. Nada mais são os poetas, que intérpretes do sentimento universal. De cada pessoa da forma e dimensão à realidade própria. O materialista empedernido talvez vislumbrasse no poema confirmação de teses sobre a eternidade e unicidade da matéria, na sua ronda inquieta, hoje lixo pútrido, amanhã na policromia das flores. O que irrompe, porém, deste poema, insofismavelmente, é a inconformidade da alma, com janelas sempre abertas ao infinito, ante a realidade aparente do aniquilamento total, com o mergulho irreversível de tudo ao passado tenebroso. A angústia imensurável da alma sobre um túmulo, onde, “still and cold”, repousam entes queridos, sobretudo a angústia filial, procura refúgio na empolgante idéia consoladora da mensagem cristã, a esperança da grande Páscoa Universal, com a prisão “ad aeternum” da tristeza e a morte definitiva do mal.

Recenvindo Barbosa Lagares

Nenhum comentário:

Postar um comentário