segunda-feira, 11 de maio de 2009

Uma surra no dólar

A moeda americana perde espaço no comércio internacional e o Brasil estuda fechar acordos diretos com países como a China
Gustavo Gantois

Benjamin Franklin, herói da independência americana que estampa a nota de US$ 100, já não inspira a mesma confiança. No comércio mundial, vários países estão deixando de usar a moeda americana em suas transações, fechando operações com suas próprias moedas. O Brasil já adota esse instrumento em seus negócios com a Argentina, no qual as compras e vendas realizadas entre os dois países podem ser pagas em peso ou real. A próxima reunião da União das Nações Sul-Americanas, a Unasul, que será realizada em Santiago, deverá ser marcada pela proposta de ampliar o uso do real nas relações com os vizinhos. A Venezuela chegou a mostrar um interesse tímido no projeto e o Chile prometeu estudá-lo com mais afinco. E o projeto não está restrito à América do Sul. Em conversa recente com o premiê chinês, Hu Jintao, Lula aventou a possibilidade de que o comércio bilateral seja feito em moedas locais - o que os chineses também pretendem fazer com os argentinos. Dados da Unctad comprovam a tendência. Cerca de dois terços das transações internacionais utilizam o dólar. Há uma década, a participação era superior a três quartos.

O convênio entre Brasil e Argentina pode movimentar US$ 1,5 bilhão nas transações feitas com moedas locais


O Banco Central também estuda autorizar outros países a sacar diretamente dos cofres brasileiros os reais que poderão ser usados no comércio com o Brasil ou até serem repassados a outras nações sul-americanas. É um modelo um nível abaixo do que está sendo tratado com a Argentina. Em reunião entre Lula e Cristina Kirchner, no mês passado, as operações contempladas pelo acordo de uso de moedas locais, sob o escudo do Convênio de Crédito Recíproco, foram ampliadas de US$ 120 milhões para US$ 1,5 bilhão. Além disso, compromissos como compra e venda de energia elétrica e pagamentos previdenciários estão contemplados pelo acordo. Apesar disso, e mesmo tendo sido adotado há seis meses, o instrumento político-comercial ainda não decolou. As operações envolvendo reais e pesos respondem por apenas 0,12% da corrente de comércio bilateral, movimentando R$ 32 milhões. Atualizando o câmbio, isso significa cerca de US$ 13,9 milhões em meio aos US$ 11,5 bilhões comercializados entre os dois maiores sócios do Mercosul no período. A resistência dos empresários em deixar o dólar ainda é grande não só por hábito, mas também por ainda não enxergarem os benefícios do convênio. "Estamos acostumados a trabalhar em dólar", afirma Luiz Martins, presidente do Moinho Anaconda. "Os preços dos grãos são cotados em dólar nas bolsas de Chicago e Kansas. É complicado fazer a conversão para a moeda local em cada negócio." Ainda assim, é bom que Benjamin Franklin comece a abrir logo os olhos.
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