Baixaria, irritação e negações: o que rolou no depoimento de Protógenes "Quadros"
Depois de prometer nominar todas as sujeiras da República, com medo de ser preso e munido de um habeas corpus preventivo, Protógens “Jânio Quadros” Queirós se limitou a aborrecer os membros da CPI dos Grampos. Sempre que perguntado, respondia com desprezo, com olhar fixo num ponto central qualquer, começando suas frases sempre com um irritante e irônico “excelentíssimo senhor deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), presidente da comissão parlamentar de inquérito criada para investigar...”. Parecia que queria ganhar tempo para pensar no que falar. Só depois desta introdução arrastada é que respondia evasivamente, quase sempre dizendo que não poderia falar, que era segredo de justiça e coisa e tal.
Baixaria e tietagem
O depoimento foi todo em clima de tensão e tédio. Vários deputados e senadores tietes do delegado estrela, mesmo não fazendo parte da CPI, marcaram presença, entre os quais os sempre barulhentos Chico Alencar (PSOL-RJ), Ivan Valente (PSOL-SP), Luciana Genro (PSOL-RS), Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ) e o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Enquanto Protógenes se recusava a responder as perguntas, uma transparência foi maquiavélicamente exibida numa tela com os dizeres: "O delegado apresentou várias versões em cinco depoimentos prestados, um na CPI e quatro no Ministério Público. Onde Está a Verdade?" A exibição irritou Chico Alencar, que protestou: "Isso parece uma peça de marketing que, obviamente, constrange o depoente". E prosseguiu: "Quero saber se o Daniel Dantas quando vier aqui vai ter este mesmo tratamento?" O presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), respondeu, dizendo que era material da CPI com a lista das contradições de Protógenes. "Bom de marketing é o senhor", disse Itagiba a Alencar. O clima esquentou e o deputado do PSOL acusou: "Marketing do bem. Pelo menos não fui financiado por gente sócia do Daniel Dantas." E Itagiba retrucou: "Eu também não peguei minha verba de gabinete e coloquei em campanha em outros Estados."
Negações e acusações
Do pouco que falou, o delegado voltou atrás no seu depoimento à CPI e negou ter investigado a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Logo no início, quanto perguntado se a ministra havia sido objeto de investigação na Operação Satiagraha, se negou a responder. Segundo Protógenes, ele não teria “entendido direito a pergunta” sobre a ministra na primeira ocasião. Já sobre o filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o delegado, aí sim, foi categórico nas duas ocasiões em que foi perguntado e negou qualquer investigação sobre ele. Protógenes se recusou também a responder a pergunta sobre a participação de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na Operação Satiagraha. O delegado se negou ainda a confirmar se o juiz Fausto De Sanctis e o procurador da República Rodrigo De Grandis tinham conhecimento da atuação da Abin. Protógenes declarou que foi espionado por um emissário do banqueiro. Disse que seus passos eram monitorados e informados a Dantas. “Tinha uma vigilância contra mim. Tinha um monitoramento quase que diário dos meus deslocamentos." O delegado, num dos poucos momentos em que falou, aproveitou para acusar o Daneil Dantas, dizendo que o banqueiro teria um forma "nefasta" e “corrupta” de atuação. Sugeriu ainda que o Congresso faça um levantamento de projetos que foram aprovados defendendo os interesses de Dantas.
Próximos passos
Após quase seis horas de depoimento, o presidente da CPI dos Grampos, Marcelo Itagiba, encerrou o depoimento e marcou para a próxima semana sessões para ouvir o banqueiro Daniel Dantas e o ex- diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda. Dantas foi preso e depôs na comissão pela primeira vez no ano passado. Ele negou, na ocasião, qualquer irregularidade e foi quem acusou Protógenes de ter investigado até o filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Fábio Luis. A CPI não aceitou o pedido de Lacerda para se manifestar através de carta rogatória, apresentado nesta terça-feira (3), sendo a sessão para o seu depoimento confirmada para a próxima quarta-feira (15). Marcelo Itagiba tomou a decisão com base em parecer da consultoria da Casa que nega a Lacerda o benefício. Lacerda ocupa atualmente o cargo de adido policial na Embaixada do Brasil em Portugal. Foi nomeado para a função após o presidente Lula ter exonerado toda a cúpula da Abin devido às denúncias de que agentes do órgão tivesses participado de escutas ilegais.
Coincidências
Justamente nesta quarta, a Polícia Federal realizou busca e apreensão na sede do banco Opportunity, de Daniel Dantas, no Rio de Janeiro. A operação é comandada por policiais federais de São Paulo. O objetivo da operação, segundo nota divulgada pela PF de São Paulo, é apreender livros fiscais de contabilidade da empresa. A autorização foi concedida pelo juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, o mesmo que julga os desdobramentos da Operação Satiagraha, na qual Daniel Dantas foi preso. Dantas foi condenado por suborno a um delegado federal e responde processo por crimes financeiros. A CPI também aprovou hoje a convocação do juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal, para prestar novo depoimento. O juiz já falou à comissão no ano passado mas, segundo o presidente da CPI, faltam esclarecer pontos, entre os quais o acesso geral ao extrato de chamadas de pessoas investigadas e o cadastro de clientes em oito empresas de telefonia.
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