quinta-feira, 14 de maio de 2009

Na Mira do Belmiro

Créditos e juros: palavras, atos e omissões

Entre a discussão do alcance da gravidade da gripe suína e a eventualidade da liberação da maconha, o governo Lula anunciou nesta quarta-feira a criação do fundo garantidor de crédito para capital de giro das pequenas e médias empresas. Nessas ocasiões, um sobressalto de praxe toma conta dos principais interessados na brecha anunciada e provoca a desconfiança habitual dessas ofertas inspiradas em São Thomé. Dessa vez o fundo será integrado por recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social-BNDES e, provavelmente, pelo Banco do Brasil, cujo balanço recente revelou tratar-se da instituição financeira mais bem sucedida no continente americano, deixando no chinelo da cr ise financeira os lendários Bank of America e o J P Morgan, o que não deixa de ser uma preocupação e indignação para os setores produtivos da economia nacional. O BB despontou em 2008 com 32% de lucratividade em seu patrimônio líquido, pra desconsolo da economia produtiva onde essa dinheirama deveria operar.
Nessa distorção de suas atribuições públicas, o BB destoa da Caixa Econômica, cuja previsão de risco de calote aumentou em quase R$ 800 milhões no trimestre justamente pela oferta de crédito no absoluto e restrito cumprimento de suas atribuições sócio-econômicas. O lucro desta instituição, que avança no resgate de sua credibilidade histórica, caiu 48% no mesmo período, mas, em compensação, no saldo de suas operações de crédito, é possível constatar o aumento de 52,2% alcançando a marca recorde de R$ 89,2 bilhões em março último. Os empreendedores deste país agradecem e aguardam que essa onda pegue na política de recuperação econômica alardeada pelo governo federal , incluindo para a região a dinamização esperada do Banco da Amazônia.
E nesse contexto, é vital que o Banco Central, no uso e abuso de sua independência administrativa, questione porque os bancos não repassam totalmente a redução da taxa básica de juros da economia aos seus clientes. Para se ter uma idéia da lógica leonina do setor financeiro, razão, raiz e motor da crise mundial, de setembro de 2005 a abril de 2009, enquanto o Banco Central cortou a Selic em 9,5 pontos percentuais (de 19,75% para 10,25% ao ano), a taxa para pessoas físicas teve queda de 7,42 pontos e a aplicada às pessoas jurídicas caiu 4,2 pontos. Ou seja, o custo do dinheiro para as instituições financeiras baixou com objetiva consistência e o usuário que sustenta essa ciranda viciada não se beneficiou com a façanha.
É preciso, pois, uma mobilização geral contra essas discrepâncias e anomalias que excluem empreendedores e empregadores na dinâmica da (des) ordem social. As entidades do varejo, como Câmara de Dirigentes Lojistas e a Associação Comercial bem que poderiam desencadear um acompanhamento local e provocar seus pares de outros Estados para monitorar a relação das medidas de apoio ao processo de recuperação da crise e sua respectiva implementação. Afinal, de boas intenções o Capeta anda bem fornido, e entre as palavras e atos da política econômica permanecem lapsos e graves omissões para prejuízo de quem carrega o andor, toca o sino e canta na procissão de todos os santos da sócio-economia nacional: o pequeno empreendedor.

Zoom-zoom

O ministro e a maconha – Constrangedora e preocupante a presença e o posicionamento do ministro Carlos Minc na Marcha da Maconha, na Praia de Ipanema, Rio de Janeiro, no sábado passado. Ele faz parte de um governo que faz campanha sistemática de combate às drogas e dos estragos que ela tem provocado no cidadão, especialmente nos jovens e adolescentes. Defender a liberação significa legalizar uma droga que é ante-sala de outras mais pesadas e deletérias.

A droga e os jovens – Na Inglaterra, a liberação em 2004 representou o aumento assustador da droga entre os jovens, incluindo parte substantiva de adolescentes na Corte da Rainha. Daí o recuo por parte das autoridades no ano passado. No Brasil, a descriminalização do porte na era FHC potencializou o tráfico e quadruplicou o consumo, com aumento de seu maior sucedâneo, a violência. E não deve ser essa, creio, a proposição do governo Lula.

SOS Manaus – Além das águas, o cidadão que vive em Manaus se encontra sob o risco de afogamento cívico de um modo geral. A cidade tem sido tomada por protestos e reivindicações quase todas legitimas e resultantes da ausência do poder público. O corte dos passes estudantis, as promessas eleitorais de liberação de transportes coletivos alternativos, as tragédias urbanas, o caos do transito e a sujeira generalizada autorizam exclamar... pobre Manaus e sua riqueza mal dividida e não repartida com seus cidadãos!!!

Mutirão da cidadania – Decididamente o poder público está desaparelhado para administrar tanta balbúrdia e desequilíbrio na paisagem urbana. Os gestores não se entendem e o cidadão padece essa contradição inaceitável entre os generosos recursos disponíveis na receita pública e a crescente exclusão e deterioração dos equipamentos sociais e urbanos da municipalidade. É preciso mobilizar urgentemente todo o tecido social, de preferência, ordeiramente. Antes que seja tarde!

Belmiro Vianez Filho é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.
belmirofilho@belmiros.com.br

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