Se houvesse jornalismo na cobertura, a lógica óbvia seria apurar qual o esquema que está por trás do vazamento do inquérito contra José Sarney. Qual a razão dessa falta de interesse? Quando foi contra Daniel Dantas, levantou-se o presidente do STF, os jornais, a Folha escreveu editoriais candentes, a OAB se manifestou em defesa dos direitos individuais, a Veja escreveu sobre a república do grampo. Não caiu a ficha de que essa hipocrisia é veneno na veia da credibilidade da mídia.
A (i)lógica de uma cobertura desvairada
Em 4 de julho de 2006, o empreiteiro fala com uma pessoa identificada pela PF apenas como Mauro Viegas. Ele afirma a Zuleido que está “uma turma aqui, o José Alcure [sem identificação no relatório], que vai estar em Brasília até amanhã sobre o assunto lá do Macapá, que você é o titular daquela coisa lá que está devagar”.“Tem uma porção de boatos. Aí eu botei lá, mobilizei minha turma mês e pouco atrás, achando que a coisa ia e a coisa está ali naquele marasmo”, reclama Viegas. “De concreto hoje mesmo parece que tem dez pratas pra gastar para todo mundo até dezembro”, diz.Zuleido o tranquiliza: “Acho que vai ser resolvido. (…) Com certeza, porque aquele negócio ali é obra de Sarney, não é um negócio que está solto, não”. Já no dia 9 de agosto de 2006, Zuleido diz às 17h33 que vai “chegar à casa do Sarney já, já”. Naquele dia ele estava em Brasília e três horas antes havia marcado um encontro com uma pessoa que a PF identifica como Ernane -este é o nome do irmão de Sarney.Há ainda uma terceira conversa envolvendo Sarney. Em julho de 2006, a diretora comercial da Gautama, Maria de Fátima Palmeira, fala com um homem identificado pela PF como “José Ricardo”. Ele diz que no momento da conversa estava no “gabinete do presidente Sarney” em Brasília e que viajaria depois “com o presidente”. “Vou no avião dele.”
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Análise de Nassif sobre cobertura da Folha
Padrão Folha. A obra é no Amapá, estado pelo qual Sarney se elegeu senador. As emendas no orçamento têm, do lado parlamentar, deputados e senadores que apadrinham. Se tem um padrinho forte, há maior probabilidade da obra sair.
Por isso mesmo — a não ser pelo fato de ser um grampo vazado (prática que a Folha condenou em editorial, quando era contra Daniel Dantas - os diálogos não têm o menor significado. Faria melhor a Folha em concentrar seu jornalismo para apurar quem está por trás dos vazamentos.
A Folha estava vibrando com o barco furado no qual o Estadão se meteu na cobertura do caso Sarney. Editores estavam satisfeitos com os furos n´água seguidos do concorrente e pelo fato de não terem embarcado nessa. Quando surgiu o tal grampo sobre o namorado da neta do Sarney, acharam que tinham ficado por baixo na cobertura - ainda mais sabendo das ligações históricas e da gratidão do jornal com Sarney. Aí enlouqueceram. Como perderam o rumo aceitando publicar uma entrevista de Daniel Dantas do mesmo teor e ao mesmo tempo que a IstoÉ.
No fim de semana, Jânio de Freitas já tinha dado o caminho das pedras para o jornal se livrar dessa enrascada. Tratava-se apenas de não politizar a cobertura, de se apurar os dois lados, de cair a ficha de que o “crime” de Arthur Virgilio (um assessor recebendo e estudando em Paris) era muito pior do que o de Sarney (o namorado da neta trabalhando).
Mas o jornal continua como um touro alucinado, dando chifradas de cabeça baixa sem mirar o toureiro.
Daí essas matérias, sem a menor sustentação.
Do Blog do Luis Nassif
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