Seja qual o desfecho da situação dramática vivida pelo senador José Sarney, já está assegurada mais uma aplicação, no Congresso, da regra do “lixo para debaixo do tapete”. Não foi de todo desprovida de sentido aquela frase de Sarney, apesar de ridicularizada pela imprensa: “A crise não é minha, é do Senado”. É dele também. Mas, não estivesse o Senado no estado em que está há muito tempo, ainda que seus sucessivos escândalos sejam em número muito menor do que o merecido, não haveria a massa de constatações afinal enfeixadas, com o descarte sorrateiro de muitas, na figura do presidente da Casa.
A gravidade que se possa atribuir à influência para a nomeação do namorado da neta nunca será menor, por exemplo, que a da atitude já entapetada do líder do PSDB, o senador e combatente Arthur Virgílio. Autorizar e acobertar duas estadas remuneradas na Europa, com meio ano cada, de um nomeado para seu gabinete, não é uma atitude qualquer. Os R$ 12 mil mensais que financiaram o turismo, a pretexto de vagos estudos de cinema, são poeira no orçamento duas vezes bilionário do Senado. Mas o favorecimento só poderia dar-se sob uma relação devassa com a função senatorial, com a política e com a coisa pública representada na grandeza devida pelo Senado.
O mesmo cabe dizer da atitude do senador petista Tião Viana, agraciado com a presidência quando Renan Calheiros foi forçado a deixá-la enquanto eram guardadas sob os carpetes, por outros senadores, as suas vacas recordistas em crias, carne e mentiras. Os R$ 14 mil na conta do celular seriam absurdos para alguém que Lula considere “pessoa comum”, mas para o Senado nada significam.
A atitude do senador Tião Viana, porém, ao entregar o aparelho para uso da filha em viagem ao exterior, reflete a mesma permissividade e a mesma concepção pessoal do caso precedente. As quais não mudam se houve ou não a devolução de dinheiro. Primeiro porque, se houve, foi só em razão do escândalo. Segundo, porque o problema não está no dinheiro.
Onde foram parar esses episódios? E outros também constatados lá atrás? Além deles, bastaria um pouco de interesse e se encontrariam muitos outros de gabarito equivalente. Silenciados (também pela imprensa) e encobertos, permitem deixar apenas em palavras os brados de “reforma do Senado” e “reforma da política”, à espera de que novas modalidades venham substituir as preferidas até o atual escândalo.
(Reproduzido da Folha de S. Paulo).
quarta-feira, 29 de julho de 2009
O tapetão se eleva...
Por Janio de Freitas
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