domingo, 9 de agosto de 2009

CPI, pré-sal, 2010 ...

Entrevista

Um dos alvos da comissão que vai investigar a Petrobras, Wilson Santarosa defende-se. E ataca
A Mino Carta e Sergio Lirio (Carta Capital)

Funcionário de carreira da Petrobras e com longo histórico no movimento sindical, Wilson Santarosa virou personagem frequente do noticiário político desde que tomou forma a CPI no Senado para investigar a empresa. Responsável pela comunicação e o patrocínio da companhia, Santarosa comanda um orçamento de cerca de 700 milhões de reais. Ser sindicalista e administrar tal quantidade de dinheiro fizeram dele um alvo dos parlamentares. Santarosa diz, porém, não temer os resultados das investigações. "Na minha área, podem chacoalhar a árvore à vontade que não cai nada", afirma. E se escora nos resultados financeiros da companhia sob o governo Lula. Em 2002, a Petrobras lucrou cerca de 2 bilhões de reais. Em 2008, os ganhos atingiram 31 bilhões de reais. Em seis anos e meio, o valor da empresa na Bolsa de Valores multiplicou por dez.

Leia a entrevista completa...


    CartaCapital: A área sob seu comando na Petrobras está na linha de tiro da CPI. O senhor teme as investigações?

    Wilson Santarosa: Um dos motivos da instalação dessa CPI tem a ver com nosso trabalho social. Em abril publicamos o balanço social, auditado pela KPMG. Em 2008, os projetos patrocinados pela Petrobras atingiram 18 milhões de brasileiros, direta ou indiretamente. Isso incomodou a oposição. Desde 2003, a responsabilidade social e ambiental é parte do planejamento estratégico da companhia. Antes não havia essa preocupação. E são programas com critérios claros, conhecidos. Parte é por seleção pública e 60% dos que fazem a seleção dos projetos são de fora da empresa. O objetivo é dar mais transparência aos processos. Por ano, 15 mil projetos são apresentados nas mais diversas áreas. Antes do governo Lula, eram as unidades de negócio da companhia que escolhiam os patrocínios, baseadas unicamente no critério de relacionamento em determinada região. Só o marketing pesava, não havia compromisso com objetivos socioambientais. Desde então, adotamos uma política mais sólida, com critérios, diretrizes e maior controle. Não aumentamos o orçamento de forma desmesurada, apenas organizamos o que já existia, mas era feito de forma dispersa. Obviamente, há outros motivos em jogo. O processo eleitoral, a sucessão de 2010 me parece um deles, mas não é só.

    CC: E quais seriam os outros?

    WS: Estamos em pleno processo de discussão do marco regulatório do pré-sal. Acho que há interesses multinacionais em desestabilizar a Petrobras. Quem vai discutir o marco regulatório é o governo e o Congresso Nacional. Mas temos peso no debate, pois é impossível discutir o assunto, ou mesmo qualquer outro tema relacionado a petróleo, sem a participação dos técnicos da Petrobras. Nossa posição é conhecida: se sabemos da existência desse óleo no pré-sal, por que o governo precisa fazer leilões de exploração? Isso pertence à União, ao Brasil, ao povo. Não precisamos distribuir para as grandes multinacionais. Alvejar a Petrobras é uma forma de enfraquecê-la e diminuir sua influência na discussão.

    CC: O senhor lida com centenas de milhões de reais. Como é possível garantir o controle e a lisura desses processos?

    WS: No ano passado investimos 546 milhões de reais em patrocínios diversos, do esporte ao meio ambiente. Se tivéssemos mantido as coisas como antes, espalhadas pelas unidades de negócio, e não publicado nosso balanço social, talvez a pressão não existisse. Mas optamos pela transparência e pelo compromisso com a sociedade. Nosso balanço social é, pelo terceiro ano consecutivo, o de referência do pacto global da ONU, considerado o melhor entre todas as empresas do mundo.

    CC: Mas e os patrocínios de festas de São João que teriam beneficiado governos do PT e da base aliada?

    WS: A Petrobras iniciou suas operações na Bahia e tem uma presença significativa tanto lá quanto em Sergipe. O São João é a festa mais popular do Nordeste. Não vamos patrocinar só porque os governadores são do PT? Das 44 cidades que tiveram o São João patrocinado em 2008, 18 eram do DEM e 14 do PT. Nas comunidades do entorno em que atuamos, realmente cresceu o número de prefeitos petistas. Mas o que posso fazer? A oposição precisa ganhar as eleições. Veja o caso do Fundo de Infância e Adolescência (FIA). Aplicamos entre 40 milhões e 50 milhões de reais por ano. Na área em que atuamos, mandamos comunicados para cerca de 370 prefeituras, mas menos de 170 responderam, mostraram interesse. O resto não. As prefeituras não têm projetos a apresentar.

    CC: E o financiamento à Fundação Sarney?

    WS: Temos um controle rígido. Primeiro, o projeto deve se enquadrar na política traçada pela diretoria e aprovado pelo conselho de administração da companhia. PatroCÍnios culturais, procuramos fazer somente por meio da Lei Rouanet. Ou seja, é renúncia fiscal da União. Neste caso, o beneficiado presta contas ao Ministério da Cultura, que fiscaliza o uso do dinheiro. Fazemos a escolha por seleção pública e a contrapartida, no nosso caso, é a exposição da marca. Já no caso de projetos sociais, exigimos visibilidade e resultados. Por exemplo, o Projeto Mova Brasil, em parceria com o Instituto Paulo Freire, alfabetizou 80 mil cidadãos. Aí fiscalizamos, queremos provas da alfabetização, a diplomação.

    CC: Mas, ao que parece, a Fundação Sarney não usou o dinheiro da forma prevista?

    WS: Como disse, foi por meio da Lei Rouanet. A fundação tem de prestar contas ao Ministério da Cultura, não à Petrobras. Mesmo assim mandamos uma equipe, após a notícia que saiu nos jornais, para verificar se os objetivos acordados conosco foram cumpridos. E tudo o que eles haviam prometido à Petrobras foi cumprido. A mídia havia noticiado que a digitalização de alguns jornais não havia sido feita, mas foi. Comprovamos isso.

    CC: Também foi noticiado que o senhor viajou a Paris por conta de uma empresa que recebe patrocínio da Petrobras na área de esportes. Como é essa história?

    WS: Fui a Paris para me encontrar com os dirigentes da Associação de Tenistas Profissionais (ATP), por causa da importância da Copa Petrobras para a América Latina. Como tenho origem sindicalista, acho que muitos não aceitam que eu viaje a Paris. Tenho uma carta da ATP me convidando e outra agradecendo o nosso patrocínio.A copa tem a chancela da associação e isso melhorou as condições do torneio. Tenistas como o Puerta (Mariano, afastado em 2005 por doping) e o Canas (Guillermo) se recuperaram graças à copa e chegaram a Roland Garros. Ao contar pontos para o ranking, ela permite a certos tenistas se qualificar para torneios do chamado Grand Slam. É mais uma opção para os profissionais brasileiros e latino-americanos voltarem ou permanecerem no circuito. No passado, a Petrobras patrocinou torneios de golfe, mas achamos que o tênis é muito melhor para o marketing de relacionamento. Na Argentina, onde estamos aumentando nossa presença, o tênis é bastante popular. No Chile também. No mais, convido e sou convidado para eventos. É normal. E em várias ocasiões aceito os convites, quando não há conflito de interesses. Já fui, por exemplo, ao camarote da Rede Globo na Fórmula 1.

    CC: De volta à pergunta inicial: o senhor teme a CPI?

    WS: Falo pela minha área, a comunicação. Aconteceu um caso na área de abastecimento, mas antes de se falar na CPI o gerente já tinha sido afastado por justa causa (Giovane Moraes, acusado de estourar o orçamento de sua área com contratos suspeitos) e tínhamos enviado o caso ao Ministério Público. Estamos apurando item por item da área que ele comandava. Não sabemos se ele apenas geriu maIo orçamento ou se fez coisa pior. Mas não é uma área que eu cuido diretamente. No mais, podem chacoalhar a árvore que não cai nada.

    CC: O senhor poderia explicar o que de fato ocorreu entre a Petrobras e a Receita Federal? A companhia foi ou não multada?

    WS: O que se tem chamado de manobra contábil foi, na verdade, uma opção legal prevista em uma Medida Provisória do governo. Não deixamos de pagar um vintém, apenas parcelamos o pagamento ao longo do tempo, de acordo com o previsto na MP e que não beneficiou só a gente. O Santander, a Ford e outras grandes empresas fizeram o mesmo. Mas vai O Globo e inventa que fomos multados pela Receita. Não há multa nenhuma. E não nos metemos em nenhuma "polêmica", como disse a imprensa, com o Fisco. A secretária da Receita (Lina Maria Vieira, demitida recentemente) deve ter sido retirada do cargo por outro motivo, não por conta de qualquer pendenga com a Petrobras, pois nunca houve nenhuma. É como aquela história do endereço da produtora (acusou-se a Petrobras de contratar uma empresa com endereço fantasma). É outra invenção. Pegar;m um contrato antigo da empresa, no qual constava o endereço em que, segundo os jornais, funcionava um canil. Mas a produtora havia mudado de endereço, não estava instalada mais no local onde o repórter foi.

    CC: Como o senhor avalia, hoje, aquela decisão de publicar antecipadamente no blog da Petrobras as perguntas enviadas por jornalistas à empresa?

    WS: Foi um erro e corrigimos. A Universidade Federal de Minas Gerais tinha feito algo semelhante uns dois anos atrás, em decorrência de uma crise pela qual passaram, mas não houve repercussão semelhante por se tratar de um assunto regional. Os repórteres reclamaram que, ao divulgar suas perguntas antes de a matéria ser publicada, estávamos dando a oportunidade a um veículo concorrente de ter acesso à pauta. Reconhecemos esse erro. Superada a falha, acho que o blog tornou-se uma ferramenta importante de comunicação. Temos de 25 mil a 30 mil acessos diários, com picos de 70 mil. De 70% a 80% dos navegantes são blogueiros, o que tem um efeito multiplicador fantástico.

    CC: Quantos funcionários estão mobilizados para responder à mídia e à CPI?

    WS: Para atender à mídia, doze. Quanto à CPI, montamos um comitê de crise, comum nas maiores empresas do mundo. No comitê, foi indicado um gerenteexecutivo de cada área de negócio para providenciar as informações que vierem a ser solicitadas pela comissão. São mais ou menos vinte funcionários.

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