sexta-feira, 7 de agosto de 2009

José Sarney

Paus-darco em flor

Quando a luta política se organizou nas sociedades modernas, os cientistas sociais procuraram desvendar as leis que a governam. Marx sintetizou a mais forte delas quando iniciou o famoso "Manifesto Comunista", dizendo que "a história de todas as sociedades modernas é a história da luta de classes". Isso levou várias gerações a viverem sob o signo de duas palavras: "revolução" e "revolta". A primeira como uma manifestação coletiva, a segunda como um manifestação pessoal. Tudo isso é passado, e o mundo é outro, se sabendo que a concepção de classes é uma teoria que não resiste à realidade. Apenas os institutos de pesquisa resistem, considerando classes A, B, C e D, mais por motivos econômicos de renda do que por motivos sociológicos.
A grande novidade que permeia hoje o conflito político é o novo interlocutor da sociedade democrática: a opinião pública. Outros integrantes dela são a mídia, com as novas técnicas de comunicação em tempo real, a sociedade organizada e as ONGs. A democracia representativa já era, e temos de descobrir como vamos institucionalizar essa nova realidade. Daí a luta contra os políticos, levados à parede numa situação de parasitas da sociedade, como se o mais ético e oportunista fosse falar que a verdadeira vontade do povo é "a voz das ruas". E hoje as ruas não têm mais gente, e sim uma massa que está preocupada com transporte, emprego, renda e tempo para um pequeno lazer. O conflito político passou da guerra de classes para a guerra da mídia. Nesta guerra, o mais ativo e o mais importante meio é a internet. É aí que reside o verdadeiro embate numa luta de versões, ataques, defesa, notícias e contranotícias, que são digeridas a todo momento -e são tantas as verdades que ao final não se sabe qual é a verdade.
Como o poder econômico sempre acompanha a força de controle da opinião pública, é na internet que existem as maiores fortunas do mundo, e profetiza-se que neste nicho estarão no futuro os maiores donos do dinheiro. A revolução do smartphone, recebendo e-mail, torpedos, notícias e fazendo tudo, é uma mudança que não se sabe onde vai dar. A ameaça de destruição atinge os livros e até os jornais. Li uma entrevista do dono do "El País", que, indagado se o jornal iria existir daqui a dez anos, disse não ter certeza e que já se preparava para grandes transformações.
Assim, direito de resposta, proteção à imagem são direitos que também vão desaparecer, porque qualquer site destruirá qualquer um com sua capacidade de reprodução em milhões. Lembremos o nosso poeta "resistir quem há de?". Enquanto discutimos essas coisas, a natureza floresce e Brasília está linda, os paus-darco em flor.

José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa
jose-sarney@uol.com.br

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