quarta-feira, 1 de julho de 2009

Paulo Henrique Amorim

Senado: oposição inventa novo “mensalão” com apoio da imprensa, diz Maurício Dias

Na edição de Carta Capital que chegou neste final de semana às bancas, Maurício Dias diz, na coluna Rosa dos Ventos, que o presidente Lula vive um paradoxo ao defender o senador José Sarney. Aparentemente, Lula “defende o indefensável”, num lance político ousado.


Leia a seguir a entrevista de Maurício Dias a Alberto Ramos, editor do Conversa Afiada.
E ouça aqui a íntegra da entrevista com Maurício Dias

Conversa Afiada- Por que o presidente Lula defende Sarney?
Maurício Dias – É preciso dizer primeiro que o apoio do presidente Lula ao senador José Sarney é um apoio político. O que significa que o presidente, aliás, ele deixou isso claro, dá apoio à qualquer irregularidade que tenha sido cometida no Congresso e, suponho, por quem quer que seja. É um apoio, portanto, político. O presidente Lula não tem saída. Ele faz política. E eu suponho que tudo o que a aposição gostaria que o presidente Lula fizesse é exatamente dar as costas a seus aliados.Porque esses aliados de agora já foram velhos cúmplices dessa oposição em tempos passados. E principalmente durante a ditadura militar. Então o presidente defende politicamente. A oposição está no papel dela, até certo ponto, de bater lata, para fazer barulho com qualquer erro que surja no Congresso. E acho que o Congresso tem mesmo que ser fiscalizado. Mas a gente vê que estão querendo transformar – pelo menos até agora – tudo numa grande crise política da mesma forma que tentaram durante o episódio do caixa dois. Por exemplo, vejamos o caso de certas acusações que estão aí que hoje, a coisa já baixou para o pé da informação e eram manchetes. Como o fato do neto do presidente do Senado, José Sarney, intermediar empréstimo consignado no Congresso. Onde está a irregularidade nisso? A gente pode supor que aja algum tipo de benefício, de privilégio para o neto do Sarney? É possível, mas é irregular o que ele está fazendo? Se for irregular tem que julgar e condenar quem for responsável. Jogam tanta poeira nos olhos que as pessoas às vezes ficam sem perceber, mesmo nós, às vezes ficamos muito paralisados diante das acusações. Não resta dúvida que tem muito problema no Congresso, seja na Câmara, seja no Senado. Privilégios que parecem absurdos e certamente são. É uma cultura essa do país, a cultura do patrimonialismo e também a cultura de Brasília. Brasília desenvolveu uma cultura de privilégios e benefícios. Começou tudo quando o presidente Juscelino Kubitschek passou a oferecer certos privilégios para que os funcionários públicos se deslocassem para a Capital.

CAF – Ou seja, não começou com Sarney?
MD – Exatamente. Quando o Senado, o Congresso era no Rio de Janeiro, o único cidadão que tinha direito a um aluguel pago pelo Senado era o presidente da Casa. Todos os outros iam morar em apartamentos que alugavam. Lá em Brasília construíram residências para os políticos. Isso é um privilégio. Depois, a partir daí, vieram outras coisas que verdadeiramente nos horrorizam. Agora, se tiver irregularidade, tem que investigar. Existe um pacto de senadores com essa burocracia do Congresso, do Senado, que é muito complicado: 381 diretorias que existiam, tinha até diretor de garagem. Evidentemente isso é um absurdo que tem que acabar. Por isso é fundamental a fiscalização.

CAF – O próprio Sarney diz que o volume que essa crise atingiu na imprensa se deve ao fato de ele apoiar o presidente. Nesse sentido é possível perceber que a crise no Senado e manifestações pela saída dele da presidência do Senado são predominantes em toda a grande imprensa. Até que ponto o que ele diz pode ser considerado de fato?
MD – Isso é claro. Nisso o presidente Sarney, presidente do Senado, tem absoluta razão. Aliás, o Paulo Henrique Amorim já escreveu isso e já deixou no blog aí durante um tempo. Mostrando que de repente descobrem que Sarney é tudo de mau. Se ele é tudo de mau agora, ele já era há algum tempo atrás. Vamos lembrar outra coisa dessa crise: a conta do Senado na Caixa Econômica…

CAF – As duas contas.
MD – Fizeram um ato disso uma coisa absurda. Tudo indica, até agora, que é uma coisa absolutamente normal, até porque estava publicada. Ficava no Siafi, o sistema de informações dos gastos públicos.

CAF – Se ela já estava no Siafi, não podia ser secreta.
MD – Exatamente. Isso é óbvio. Mas acho que a imprensa, evidentemente, está fazendo apenas o eco da oposição. Ela não está vendo nada. Igualzinho a crise do caixa dois. Estão querendo transformar isso num problema muito maior e muito mais grave. Mas a oposição, e volto a dizer, até certo ponto tem razão. Tem razão em fazer isso em pegar qualquer coisinha e dar uma dimensão muito maior. A imprensa é que está repetindo isso de maneira absurda, sem nenhuma reflexão. E evidentemente, se você olhar a situação que está agora, a Câmara vota os projetos, eles vão para o Senado e lá está paralisado. O Senado é a grande armadilha do governo Lula, porque lá a oposição tem uma força maior. Por isso, inclusive, que uma das metas do PT em 2010 é fazer uma aliança e fazer mais senadores para ver se equilibra no próximo governo, que o PT acha que vai ser a Dilma. Para ela tenha uma administração menos complicada e menos conturbada.

CAF – Hoje, nesse contexto político do Senado, o Lula tem alguma outra opção a não ser apoiar Sarney?
MD – Ele não tem nenhuma outra opção. O presidente Lula fala: olha, apura o que tiver de irregularidade, mas ele está fazendo a defesa política de um aliado. Agora, não tem saída. E a política é uma coisa que não é ciência, não é religião. Política é política. É uma coisa que não é feita com ética absoluta. Isso já está dito desde Platão. Quem não tiver estômago para segurar a política que não faça política. Que se torne apenas uma presa da política.

Nenhum comentário:

Postar um comentário