Na sexta-feira, o acadêmico Sarney sintetizou de forma brilhante o caminho das pedras. Escreveu em sua coluna o artigo “O fim dos direitos individuais”, mostrando que a base de todo autoritarismo é o ódio ao debate, ao parlamento. E o desprezo pela conciliação e entendimento, lembrando que Hitler, por isso mesmo, tinha horror à política. E que, por essência, “o ser autoritário é sempre amargurado com a política: o move a força como solução e, para alcançá-la, veste-se do ressentimento, da inveja, do puritanismo, como uma máscara para esconder a hipocrisia”. O artigo/desabafo de Sarney tinha endereço certo: a curiosa aliança entre uma certa mídia golpista com alguns amargurados do Senado que procuram incitar as massas contra as instituições democráticas, utilizando mais a emoção do que a razão. Estava dado o sinal de que Sarney iria reagir contra a campanha autoritária.
Ontem, no primeiro dia de trabalho do Senado, a mensagem do ex-presidente teve seus efeitos. Sarney, logo bem cedo, ao chegar ao Senado, afastou qualquer possibilidade de renunciar à defesa do Senado. Aos repórteres, foi categórico: "renúncia não existe". Também em resposta aos jornalistas sobre como anda seu espírito, mostrou que "o espírito está bom". Os jornalistas também perguntaram se o presidente estaria se preparando para enfrentar a reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, agendada para a próxima quarta-feira (5). Sarney respondeu com outra pergunta: "enfrentar o quê"?
No final da tarde, os sinais de que algo importante iria acontecer se confirmaram. Os senadores que trabalham, os que estão direto nas comissões temáticas, que participam das reuniões partidárias importantes, dos encontros colegiados e de líderes, os que acompanham suas emendas parlamentares e seus projetos – e não têm tempo para eternos proselitismos e divagações em Plenário – se manifestaram sobre a crise construída no Senado. Saíram em defesa consistente do presidente Sarney e do Parlamento. E pegaram de jeito exatamente os eternos mariposas dos holofotes, aqueles que não trabalham, que não propõem, que não fazem, que não ajudam, que apenas reclamam e vivem da tergiversação e do engodo. Pedro Simon e Cristovam Buarque foram pegos de surpresa. Não esperavam. Ficaram com cara de trombadinhas assustados surpreendidos em suas artimanhas.
Com apenas um comentário Renan Calheiros detonou a arrogância de Pedro Simon, ao lembrar as raízes do ódio do gaúcho para com José Sarney, quando foi preterido para ser vice de Tancredo Neves. Simon ficou desnorteado, gaguejou, tentou se esquivar atacando Renan. Mas o senador de Alagoas mostrou também que Simon, em reuniões fechadas do PMDB, como uma cobra traiçoeira, costuma elogiar Sarney, mas que, no plenário e diante a mídia, finge criticar o ex-presidente. Coisa de gente vil. Simon, assustado e na defensiva, tentou criticar as relações entre Renan e Collor. Collor, com firmeza, retrucou as palavras levianas de Simon, salientando as qualidades de homem público correto, em todos os instantes, do atual líder do PMDB no Senado. E defendeu Sarney com veemência, manifestando a ele sua solidariedade por já ter sofrido "tudo que ele está passando". Collor questionou o papel da mídia nas crises anteriores, como a sofrida pelo presidente Getúlio Vargas, que acabou se suicidando em 1954, e por ele próprio, que sofreu um golpe midiático em 1992. Mas o “turco” gaúcho e o senador “pingüim de geladeira”, de Brasília, ainda tentaram reagir. Foi quanto surgiu a expressão que iria sintetizar toda a situação constrangedora. Collor sacou a palavra mágica. Chamou Simon de “parlapatão”. Os demais senadores, as taquígrafas, os jornalistas presentes e todo mundo correram a descobrir que diabo de palavra era aquela. E, depois de consultarem o “Santo Google”, descobriram que se tratava de um termo preciso como um tiro certeiro para designar exatamente a existência parasitária do gaúcho. “Parlapatão” é o homem cheio de vaidade exagerada, mentiroso, impostor, fanfarrão. É a mistura do fanfarrão com falador. Precisa dizer algo mais? De um simples artigo de Sarney na sexta-feira à palavra-síntese de Collor na segunda, a dialética deletéria das mariposas do Senado foi totalmente desconstruída. E aprendemos que ressentimento, inveja e falso puritanismo não são nada bons para a democracia.
Said Barbosa Dib
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