segunda-feira, 21 de abril de 2008

Aniversário de Brasília


Niemeyer defende a criação de novas cidades

Arquiteto acredita que a densidade demográfica deve ser fixada.
Ricardo Miranda - Correio Braziliense

Rio de Janeiro – O arquiteto Oscar Niemeyer, 100 anos, defende a multiplicação das cidades como forma de garantir a qualidade de vida dos seus moradores e evitar o crescimento descontrolado. Segundo ele, “hoje uma cidade deve deve ter a densidade demográfica fixada”. Niemeyer alerta sobre o que prejudica Brasília: “é estar ao lado de uma favela enorme, maior que o Plano Piloto, (uma cidade) dividida em duas”, analisa, referindo-se às cidades que ainda não têm boa estrutura. “O que eu lamento em Brasília é o descuido com relação à qualidade de vida. Um pequeno ponto de gente pobre que cresceu e hoje você olha Brasília, uma cidade moderna, metade de gente remediada, e a outra (metade) é pobreza”. No aniversário da cidade que ajudou a construir, o arquiteto falou sobre os assuntos que gosta: trabalho e vida. Despreza títulos, honrarias e devoções. Ele reduz, assim ,seus 100 anos de história, mais de 70 anos de carreira, mais de 600 projetos arquitetônicos em todo o mundo. "Às vezes o sujeito vem de fora falar comigo de arquitetura, quer saber os prédios que estou fazendo. Eu digo que passei a vida debruçado na prancheta, mas o importante não é a arquitetura, é a vida" , ensina o maior escultor de prédios e monumentos da arquitetura mundial, os braços largos regendo as palavras, os passos lentos acorrentados à idade, o pensamento sem limites. Brasília faz 48 anos. Ela hoje é uma filha querida, uma filha rebelde ou só mais uma de suas grandes obras? Brasília é uma cidade que está cumprindo o seu destino. Juscelino pensava Brasília como ponto de apoio para o desenvolvimento do interior do Brasil – e isso ele conseguiu. Brasília foi uma aventura, aventura difícil. E acho que Brasília começou na Pampulha. Juscelino tinha o mesmo problema para resolver e Brasília, como a Pampulha, foi feita às pressas. O mesmo problema de dinheiro, de preocupação com prazos. E a Pampulha foi um sucesso, um sucesso que contribuiu para Juscelino ter o ânimo de fazer Brasília. Me lembro a primeira vez que fui a Brasília, com Juscelino no gabinete dele, com os ministros. Me lembro que pareceu tão longe... Sem acessos, sem meios de comunicação, sem nada. Engraçado que eu estava ao lado do general (Henrique) Lott (ministro da Guerra). Ele disse para mim: 'Então, Niemeyer, o sr. quando fizer os prédios do Exército, vão ser prédios clássicos, né?'. E eu respondi: 'Se o sr. fizer uma guerra, vai ser antiga ou moderna?'. Ele riu muito, era muito simpático.

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