A Mega-sena da esquerda
Ziraldo, Jaguar e Carlos Heitor Cony receberam indenizações e pensões que, embora legais, são ilegítimas. Ao mesmo tempo, há injustiça flagrante no caso do historiador Jarbas Silva Marques
Ziraldo, Jaguar e Carlos Heitor Cony deveriam pedir perdão ao torturadíssimo historiador e jornalista Jarbas Silva Marques Os militares, com o apoio de vivandeiras, como os udenistas Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, retiraram os civis populistas do poder, em 1964, e o devolveram, pela via segura da abertura controlada, em 1985. No meio do caminho, militares e guerrilheiros socialistas travaram combates, nos quais os esquerdistas perderam. Perderam? Tudo indica que não. Fora do poder há 23 anos, os militares perderam a guerra do discurso para a esquerda. Aqueles, depois do fim da ditadura civil-militar (estranhamente, apresentada pela esquerda apenas como militar, quando, como se sabe, contou com a participação direta de democratas-donos do poder como José Sarney e Antonio Carlos Magalhães), perderam a voz. A esquerda não venceu tão-somente no campo histórico, no jogo da hegemonia do discurso dominante, demolindo a voz do adversário, como se fosse possível excluir a dissonância e dissolver o conflito, construindo uma história ideal, na qual os mocinhos, os guerrilheiros, foram torturados pelos bandidos, os militares. Uma história assim meio Poliana meio Chapeuzinho Vermelho. Os militares são os lobos. Pode-se dizer que a esquerda ganhou e continua ganhando na questão das indenizações milionárias. Cabe a pergunta: a esquerda tentou fazer a revolução, com o objetivo de implantar a ditadura do proletariado — na verdade, da nomenklatura —, para, depois, lutar por indenizações que, a rigor, são desmoralizantes? É fato que muitos ex-guerrilheiros (e seus familiares), barbaramente torturados por militares sádicos, muito mais do que ideológicos, merecem mesmo indenizações realistas. Mas um exame detido da lista dos que receberam indenizações mostra que há casos estapafúrdios (por qual motivo o jornalista e advogado Luiz Carlos Orro, um esquerdista íntegro, foi indenizado pelo governo de Goiás? Que perseguições efetivas sofreu. Nem mesmo Orro deve saber). Num livro lançado pelo governo Lula, no ano passado, há casos risíveis. Num deles, devidamente documentado, uma senhora tentou se passar por filha de um militar morto quando era garoto e não tinha filhos, falsificando até o próprio nome. Há outros processos indeferidos tão indecentes quanto. Mas os casos mais indecentes mesmo, de figuras graúdas da República da Esquerda, inclusive da esquerda festiva, como os dos cartunistas Ziraldo e Jaguar, foram premiados com polpudas indenizações. Ziraldo foi preso, alega, e Jaguar foi perseguido quando era funcionário do Banco do Brasil. Ora, os dois, com o impulso criativo de Tarso de Castro, o verdadeiro criador, fizeram o Pasquim, jornal de esquerda que incorporou o humor e debochava do governo dos “milicos”, em plena ditadura civil-militar. Não há nenhum registro de que em quase 50 anos de ditadura em Cuba o tiranosauro Fidel Castro tenha permitido a publicação de um jornal de oposição. Não há nenhum registro de que na Albânia comunista, minúsculo país que era o paraíso na Terra do Partido Comunista do Brasil, tenha sido publicado algum jornal que contivesse uma linha de crítica ao governo. No Brasil, circularam, entre outros, o Pasquim, o Movimento e o Opinião. Noutras palavras, Ziraldo e Jaguar se tornaram figuras preeminentes durante a ditadura militar. Portanto, ao contrário de socialistas e democratas soviéticos e cubanos, não foram proibidos de trabalhar. Eles e o jornalista Carlos Heitor Cony se deram bem com a ditadura e, mesmo assim, aceitaram receber mais de 1 milhão de reais de indenizações e pensões mensais acima de 4 mil reais. Se não fosse de mau gosto, deselegante até, se poderia dizer que a esquerda lutou por uma revolução masoquista. Apanhou e, depois, veio a recompensa: as indenizações. Vinte jornalistas, certamente desses que não perdem oportunidade de atacar aqueles que são tidos como corruptos e assaltam os cofres públicos, foram premiados com mais de 12 milhões de reais e substantivas pensões mensais. Alguns deles, é provável, sofreram nos porões da ditadura, mas a maioria saiu incólume de combates que talvez tenham ocorrido apenas em sonhos e delírios. Enquanto se premia jornalistas que trabalham, direta ou indiretamente, para a esquerda, um intelectual que sofreu mesmo sob o coturno de militares luta para ser indenizado há alguns anos, mas sem sucesso. Seu processo foi indeferido. Motivo alegado pela ministra do STJ Eliana Calmon: “O governo Lula não tem dinheiro”. O jornalista e historiador Jarbas Silva Marques, um dos maiores conhecedores da história de Brasília, foi barbaramente torturado, segundo conta, por militares chefiados pelo coronel Epitácio Cardoso de Brito e pelo major Zemo Almeida Moura. Resultados da tortura: otite crônica (teve tímpanos estourados e foi afogado em tinas cheias de fezes e urina), rompimento dos ligamentos da perna direita e, como resultado das pancadas na cabeça, não pode ver imagens rápidas. Ele tem ânsia de vômito e a pressão cai. Jarbas ficou 9 anos e 8 meses na cadeia. Foi preso em 1964, 1967 e 1969. Só deixou a cadeia em 1977, tendo sido prejudicado na sua carreira profissional, enquanto, livres e idolatrados, Ziraldo, Jaguar e Cony ganharam dinheiro num mercado que, longe de renegá-los, os acolheu com benevolência. O trio deveria pedir desculpas a Jarbas Silva Marques, um homem de 64 anos que, ao contrário dos jornalistas, tem do que reclamar dos governos militares.
Ziraldo, Jaguar e Carlos Heitor Cony receberam indenizações e pensões que, embora legais, são ilegítimas. Ao mesmo tempo, há injustiça flagrante no caso do historiador Jarbas Silva Marques
Ziraldo, Jaguar e Carlos Heitor Cony deveriam pedir perdão ao torturadíssimo historiador e jornalista Jarbas Silva Marques Os militares, com o apoio de vivandeiras, como os udenistas Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, retiraram os civis populistas do poder, em 1964, e o devolveram, pela via segura da abertura controlada, em 1985. No meio do caminho, militares e guerrilheiros socialistas travaram combates, nos quais os esquerdistas perderam. Perderam? Tudo indica que não. Fora do poder há 23 anos, os militares perderam a guerra do discurso para a esquerda. Aqueles, depois do fim da ditadura civil-militar (estranhamente, apresentada pela esquerda apenas como militar, quando, como se sabe, contou com a participação direta de democratas-donos do poder como José Sarney e Antonio Carlos Magalhães), perderam a voz. A esquerda não venceu tão-somente no campo histórico, no jogo da hegemonia do discurso dominante, demolindo a voz do adversário, como se fosse possível excluir a dissonância e dissolver o conflito, construindo uma história ideal, na qual os mocinhos, os guerrilheiros, foram torturados pelos bandidos, os militares. Uma história assim meio Poliana meio Chapeuzinho Vermelho. Os militares são os lobos. Pode-se dizer que a esquerda ganhou e continua ganhando na questão das indenizações milionárias. Cabe a pergunta: a esquerda tentou fazer a revolução, com o objetivo de implantar a ditadura do proletariado — na verdade, da nomenklatura —, para, depois, lutar por indenizações que, a rigor, são desmoralizantes? É fato que muitos ex-guerrilheiros (e seus familiares), barbaramente torturados por militares sádicos, muito mais do que ideológicos, merecem mesmo indenizações realistas. Mas um exame detido da lista dos que receberam indenizações mostra que há casos estapafúrdios (por qual motivo o jornalista e advogado Luiz Carlos Orro, um esquerdista íntegro, foi indenizado pelo governo de Goiás? Que perseguições efetivas sofreu. Nem mesmo Orro deve saber). Num livro lançado pelo governo Lula, no ano passado, há casos risíveis. Num deles, devidamente documentado, uma senhora tentou se passar por filha de um militar morto quando era garoto e não tinha filhos, falsificando até o próprio nome. Há outros processos indeferidos tão indecentes quanto. Mas os casos mais indecentes mesmo, de figuras graúdas da República da Esquerda, inclusive da esquerda festiva, como os dos cartunistas Ziraldo e Jaguar, foram premiados com polpudas indenizações. Ziraldo foi preso, alega, e Jaguar foi perseguido quando era funcionário do Banco do Brasil. Ora, os dois, com o impulso criativo de Tarso de Castro, o verdadeiro criador, fizeram o Pasquim, jornal de esquerda que incorporou o humor e debochava do governo dos “milicos”, em plena ditadura civil-militar. Não há nenhum registro de que em quase 50 anos de ditadura em Cuba o tiranosauro Fidel Castro tenha permitido a publicação de um jornal de oposição. Não há nenhum registro de que na Albânia comunista, minúsculo país que era o paraíso na Terra do Partido Comunista do Brasil, tenha sido publicado algum jornal que contivesse uma linha de crítica ao governo. No Brasil, circularam, entre outros, o Pasquim, o Movimento e o Opinião. Noutras palavras, Ziraldo e Jaguar se tornaram figuras preeminentes durante a ditadura militar. Portanto, ao contrário de socialistas e democratas soviéticos e cubanos, não foram proibidos de trabalhar. Eles e o jornalista Carlos Heitor Cony se deram bem com a ditadura e, mesmo assim, aceitaram receber mais de 1 milhão de reais de indenizações e pensões mensais acima de 4 mil reais. Se não fosse de mau gosto, deselegante até, se poderia dizer que a esquerda lutou por uma revolução masoquista. Apanhou e, depois, veio a recompensa: as indenizações. Vinte jornalistas, certamente desses que não perdem oportunidade de atacar aqueles que são tidos como corruptos e assaltam os cofres públicos, foram premiados com mais de 12 milhões de reais e substantivas pensões mensais. Alguns deles, é provável, sofreram nos porões da ditadura, mas a maioria saiu incólume de combates que talvez tenham ocorrido apenas em sonhos e delírios. Enquanto se premia jornalistas que trabalham, direta ou indiretamente, para a esquerda, um intelectual que sofreu mesmo sob o coturno de militares luta para ser indenizado há alguns anos, mas sem sucesso. Seu processo foi indeferido. Motivo alegado pela ministra do STJ Eliana Calmon: “O governo Lula não tem dinheiro”. O jornalista e historiador Jarbas Silva Marques, um dos maiores conhecedores da história de Brasília, foi barbaramente torturado, segundo conta, por militares chefiados pelo coronel Epitácio Cardoso de Brito e pelo major Zemo Almeida Moura. Resultados da tortura: otite crônica (teve tímpanos estourados e foi afogado em tinas cheias de fezes e urina), rompimento dos ligamentos da perna direita e, como resultado das pancadas na cabeça, não pode ver imagens rápidas. Ele tem ânsia de vômito e a pressão cai. Jarbas ficou 9 anos e 8 meses na cadeia. Foi preso em 1964, 1967 e 1969. Só deixou a cadeia em 1977, tendo sido prejudicado na sua carreira profissional, enquanto, livres e idolatrados, Ziraldo, Jaguar e Cony ganharam dinheiro num mercado que, longe de renegá-los, os acolheu com benevolência. O trio deveria pedir desculpas a Jarbas Silva Marques, um homem de 64 anos que, ao contrário dos jornalistas, tem do que reclamar dos governos militares.
A ditadura compensa (Lista dos 20 jornalistas premiados pela Comissão de Anistia do governo federal)
- Ziraldo Alves Pinto, R$ 4.365,88 e R$ 1,253 milhão
- Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe (Jaguar), R$ 4.365,88 e R$ 1,253 milhão
- George de Barros Cabral, R$ 4.365,88 e R$ 944,679 mil
- Nilson Nobre de Almeida, R$ 4,365,88 e R$ 911,204 mil
- Joana D’Arc Bizzoto Lopes, R$ 4.592,00 e R$ R$ 870 mil
- Carlos Guilherme de Mendonça Penafiel, R$ 4.365,88 e R$ 609,467 mil
- Ricardo de Morais Monteiro, R$ 4.365,88 e R$ 590,014 mil
- Maria José Rios Peixoto da Silveira Lindoso, R$ 4.365,88 e R$ 580,941 mil
- Maria Ignes da Costa Duque Estrada Bastos, R$ 4.365,88 e R$ 571,652 mil
- Pery de Araujo Costa, R$ 4.365,88 e R$ 534,951 mil
- Sinval de Itacarambi Leão, R$ 4.335,00 e R$ 522,438 mil
- Félix Augusto de Athayde, R$ 4.365,88 e R$ 487,837 mil
- Maria Regina Pedrosa de Senna Figueiredo, R$ 3.231,00 e R$ 468,983 mil
- Orlando Maretti Sobrinho, R$ 4.365,88 e R$ 423,220 mil
- Ari Cândido Fernandes, R$ 4.365,88 e R$ 416,729 mil
- Amaro Alexandrino da Rocha, R$ 4.581,00 e R$ 404,843 mil
- Josail Gabriel de Sales, R$ 4.365,88 e R$ 378,349 mil
- Reynaldo Jardim Silveira, R$ 4.365,88 e R$ 373,043 mil
- Octávio Malta, R$ 4.365,88 e R$ 360,134
- Jorge Saldanha de Araujo, R$ 4.365,88 e R$ 325,564 mil
[Juntos, os jornalistas vão faturar uma bolada de 12,28 milhões de reais. É a mega-sena da esquerda]
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