General vai ao DF explicar crítica à reserva Raposa Serra do Sol
Augusto Heleno terá que esclarecer ao comandante do Exército por que chamou de 'caótica' a política indígena
TÂNIA MONTEIRO - Agencia Estado
O comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, vai nesta sexta-feira, 18, a Brasília, onde deverá se reunir com o comandante do Exército, Enzo Peri. Heleno foi chamado à capital federal para esclarecer as críticas que fez na última quarta-feira, no seminário Brasil, Ameaças à sua Soberania, no Clube Militar. Ele definiu a política indígena brasileira como "caótica" e "lamentável" e criticou a demarcação em área contínua da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. A convocação do general foi definida na quinta-feira, 17, à noite, depois do encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ministro da Defesa, Nelson Jobim e Peri.
O Estado apurou que o ministro Jobim cancelou na quinta-feira, pela terceira vez, a viagem que faria ao Rio Grande do Sul, onde visitaria uma indústria bélica, "para fazer as últimas contas sobre aumento de soldo dos militares e conversar, muito provavelmente, com o general Heleno". Jobim repassará depois as explicações ao presidente. Nesta sexta-feira, Lula participa da comemoração do Dia do Exército, no Quartel-General do Exército, em Brasília, e receberá, no Palácio do Planalto, representantes da Comissão Nacional de Política Indigenista. Durante o seminário, Heleno considerou uma ameaça à soberania nacional a reserva contínua de 1,7 milhão de hectares na região de fronteira e ainda disparou sobre as cerca de 600 pessoas da platéia uma frase de efeito: "Não sou da esquerda escocesa, que, atrás de um copo de uísque 12 anos, sentada na Avenida Atlântica, resolve os problemas do Brasil inteiro. Já visitei mais de 15 comunidades indígenas, estou vendo o problema do índio." Foi como assessor da Casa Militar que o general Heleno contribuiu para o parecer dos militares contrários à demarcação da reserva ianomami. À época, o então ministro da Justiça, Jarbas Passarinho, coronel da reserva do Exército, se definiu a favor da demarcação, mas cunhou no bastidor uma frase que ficou célebre: "Acho que a demarcação não representa perigo para a soberania do País, mas, se eu estiver errado, o meu Exército me corrigirá".
(com Eugênia Lopes e Luciana Nunes, de O Estado de S. Paulo)
O Estado apurou que o ministro Jobim cancelou na quinta-feira, pela terceira vez, a viagem que faria ao Rio Grande do Sul, onde visitaria uma indústria bélica, "para fazer as últimas contas sobre aumento de soldo dos militares e conversar, muito provavelmente, com o general Heleno". Jobim repassará depois as explicações ao presidente. Nesta sexta-feira, Lula participa da comemoração do Dia do Exército, no Quartel-General do Exército, em Brasília, e receberá, no Palácio do Planalto, representantes da Comissão Nacional de Política Indigenista. Durante o seminário, Heleno considerou uma ameaça à soberania nacional a reserva contínua de 1,7 milhão de hectares na região de fronteira e ainda disparou sobre as cerca de 600 pessoas da platéia uma frase de efeito: "Não sou da esquerda escocesa, que, atrás de um copo de uísque 12 anos, sentada na Avenida Atlântica, resolve os problemas do Brasil inteiro. Já visitei mais de 15 comunidades indígenas, estou vendo o problema do índio." Foi como assessor da Casa Militar que o general Heleno contribuiu para o parecer dos militares contrários à demarcação da reserva ianomami. À época, o então ministro da Justiça, Jarbas Passarinho, coronel da reserva do Exército, se definiu a favor da demarcação, mas cunhou no bastidor uma frase que ficou célebre: "Acho que a demarcação não representa perigo para a soberania do País, mas, se eu estiver errado, o meu Exército me corrigirá".
(com Eugênia Lopes e Luciana Nunes, de O Estado de S. Paulo)
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"Nós não temos recrutas nos pelotões de fronteira. Lá nós não precisamos de gente para aprender. Lá precisamos de gente que saiba que quando for para uma missão vai sair com munição real. /// O nosso poder de persuasão está muito diminuído. Não queremos fazer guerra não, mas queremos ter uma estrutura de defesa compatível. Um país como o Brasil não pode ter um poodle para o defender, precisamos de um pit bull. /// O nosso fuzil, armamento individual do combatente, e fundamental, tem 43 anos de uso. As nossas viaturas têm, em média, mais de 20 anos. Grande parte da aviação do Exército foi comprada em 1988, tem 20 anos. Um país com a estatura geopolítica do Brasil tem que mudar isso"
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General Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia
O efetivo
O Exército Brasileiro tinha, há dois anos, 22 mil soldados na Amazônia. Agora, já são 24 mil que, até o final de 2008, somarão 27 mil. O general Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia desde setembro passado, revela que já estão ali distribuídas 124 organizações da nossa força de terra, "basicamente tentando se colocar numa posição de dominância das principais vias de penetração da Amazônia, que são as calhas dos rios".Ele frisa que a região se transformou em prioridade para as Forças Armadas, detalhando: "Já transferimos para cá duas brigadas. A brigada das Missões, que veio do Sul para Tefé, e mais recentemente a 2ª Brigada de Infantaria Motorizada, que ficava em Niterói, no Rio de Janeiro, e se transformou na 2ª Brigada de Infantaria de Selva. Esta unidade tem a perspectiva de receber, em curto prazo, dois novos batalhões: um em Barcelos e o outro em local que estamos estudando".
Dilúvio de desafios
Tudo na Amazônia é um dilúvio de desafios para o Brasil. A cobiça internacional se tornou pública e notória. No final da semana, no lançamento do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em Valência (Espanha), o secretário geral da ONU, Ban Ki-Moon, afirmou que a Amazônia virou uma "floresta úmida sufocada que, em grande parte, se transformará em savana". Somem-se a essa visão catastrófica a ação permanente de traficantes, contrabandistas, guerrilheiros, problemas nas reservas indígenas descomunais ocupadas por ONGs estrangeiras e um cerco de 21 bases militares dos Estados Unidos, instaladas em países vizinhos. Nos últimos anos, o quadro se agravou com o delírio armamentista do presidente Hugo Chávez, que já fala em programa nuclear na Venezuela. Ao Exército Brasileiro cabe garantir nossos 11.248 quilômetros quadrados de fronteiras com oito países. O riquíssimo território amazônico representa a metade da extensão do Brasil e nele caberiam, folgadamente, pelo menos 14 países europeus: Bélgica, Alemanha, Eslováquia, França, República Checa, Holanda, Espanha, Áustria, Albânia, Portugal, Itália, Bósnia, Inglaterra e Suíça.
Não há missão com balas de festim
O general Augusto Heleno definiu o trabalho que começa a executar à frente do Comando Militar da Amazônia, em entrevista concedida na semana passada:"O CMA tem uma característica diferente de outros comandos do Brasil. Aqui, o Exército está vivendo diariamente uma situação real. Nós estamos com problemas reais e diários. Na nossa área de fronteira, não há missão com munição de festim. Nós não temos recrutas nos pelotões de fronteira. Lá nós não precisamos de gente para aprender. Lá precisamos de gente que saiba que quando for para uma missão vai sair com munição real. Nós somos uma fração do Exército que está numa região onde as missões são reais. Minha missão é, basicamente, dar continuidade a esse processo, aperfeiçoar nosso trabalho e oferecer as melhores condições possíveis para que a missão da guarda das fronteiras seja realizada da melhor forma possível".
Melhor soldado do mundo
Na visão do general Augusto Heleno, "sem medo de errar, temos o melhor militar de selva do mundo. Em todos os níveis. Os sargentos e oficiais são treinados especialistas de guerra na selva no Cigs (Centro de Instrução de Guerra na Selva), que é reconhecidamente o melhor centro de instrução de guerra na selva do planeta. Os soldados são da região; têm desde menino a selva como aliada e quando entram para o Exército transferem esse conhecimento. Isso é o nosso grande triunfo". Sobre sua experiência no comando da Força da Paz da ONU no Haiti, ele comentou:"A missão, no ponto de vista profissional, foi fantástica porque permitiu que eu aplicasse tudo o que eu aprendi ao longo da vida numa missão real. Ainda que fosse uma missão de paz, eu tive muitas situações de combate. Eu pude conhecer melhor a tropa brasileira, responsável pela parte mais crítica da missão, que é boa parte da capital (Porto Príncipe), onde estão localizadas as favelas mais populosas e mais agitadas do Haiti. A missão também me permitiu fazer uma comparação da tropa brasileira com os outros 12 contingentes que estavam sob o meu comando, o que me mostrou que estamos no nível dos melhores exércitos do mundo".
Exército "pit bull", não "poodle"
Opinião do general Augusto Heleno sobre o tipo de exército que o Brasil necessita atualmente:"Temos pleiteado o reequipamento e reaparelhamento do nosso Exército há muito tempo. Esse é um desejo antigo nosso. À medida que o tempo vai passando, a situação vai ficando mais crítica. O nosso fuzil, armamento individual do combatente, e fundamental, tem 43 anos de uso. As nossas viaturas têm, em média, mais de 20 anos. Grande parte da aviação do Exército foi comprada em 1988, tem 20 anos. Um país com a estatura geopolítica do Brasil tem que mudar isso. Nós temos que conscientizar a população que o problema da defesa do Brasil não é um problema das Forças Armadas, é um problema da sociedade brasileira. Não tem esse negócio de sociedade civil e sociedade militar, a sociedade é brasileira. Flagrantemente, nós estamos ficando para trás. Precisamos atualizar a estatura do País com sua capacidade de defesa, que está defasada. Felizmente agora, o ministro da Defesa (Nelson Jobim) tem sido um grande arauto dessa mentalidade. O nosso poder de persuasão está muito diminuído. Não queremos fazer guerra não, mas queremos ter uma estrutura de defesa compatível. Um país como o Brasil não pode ter um poodle para o defender, precisamos de um pit bull".
Quem é o novo comandante
O general Augusto Heleno assumiu o Comando Militar da Amazônia (CMA) no dia 14 de setembro. Com experiência política e de comando internacional, vem impondo sua forma de gestão à frente do mais importante comando do Exército Brasileiro na atualidade. Ele fala francamente de assuntos que, até pouco tempo, não eram discutidos publicamente na esfera militar, como intervenção urbana, reaparelhamento do Exército, conflitos internacionais e relacionamento com ministros não militares. Augusto Heleno Pereira, 60, é casado, pai de dois filhos e avô de dois netos. Natural de Curitiba, no Paraná, formou-se oficial do Exército na arma de cavalaria. Entre outros cargos, foi chefe de gabinete do Comandante do Exército, chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, adido militar do Brasil na França e comandante da Força de Paz das Nações Unidas no Haiti.
O general Augusto Heleno assumiu o Comando Militar da Amazônia (CMA) no dia 14 de setembro. Com experiência política e de comando internacional, vem impondo sua forma de gestão à frente do mais importante comando do Exército Brasileiro na atualidade. Ele fala francamente de assuntos que, até pouco tempo, não eram discutidos publicamente na esfera militar, como intervenção urbana, reaparelhamento do Exército, conflitos internacionais e relacionamento com ministros não militares. Augusto Heleno Pereira, 60, é casado, pai de dois filhos e avô de dois netos. Natural de Curitiba, no Paraná, formou-se oficial do Exército na arma de cavalaria. Entre outros cargos, foi chefe de gabinete do Comandante do Exército, chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, adido militar do Brasil na França e comandante da Força de Paz das Nações Unidas no Haiti.
Antecessor confirmou cerco militar
Em maio de 2006, o general de Exército Cláudio Barbosa Figueiredo, ao deixar a chefia do Comando Militar da Amazônia, proferiu palestra na 10ª Conferência Nacional dos Legislativos Estaduais, realizada no Hotel Tropical, em Manaus, quando confirmou o cerco militar à Amazônia brasileira. Disse que o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, não passa de um farsante, pois na realidade é conivente com todo o processo de ocupação militar, sendo um dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos. "Na Bolívia – disse ele -, governada pelo nacionalista Evo Morales, cinco mil militares americanos tratam a população como sub-raça".Na sua exposição, ficou explícito que a ausência do Estado e o vazio do poder naquela região imensa aceleram o processo de intervenção armada na Amazônia por parte das potências estrangeiras, com a participação decisiva das organizações não governamentais (ONGs), ou através do pretexto de se combater o narcotráfico e proteger a floresta, sob a coordenação do governo norte-americano. "Do jeito que as coisas vãos, as ONGs substituem o Estado de forma direta ou indireta" – desabafou o general."Se nenhuma providência for tomada pelo governo brasileiro, juntamente com os poderes legislativos, a Amazônia acabará dominada completamente pelos Estados Unidos, com a ajuda da União Européia. Há anos, a nova ordem mundial mudou" – disse ele, assegurando que os americanos consideram a América do Sul como uma área vital do ponto de vista econômico, acentuando: "Precisamos nos convencer de que eles estudam estratégia de dominação diariamente e fazem projeções para o futuro".
Congresso sabe das bases
Por sua vez, a Associação dos Militares da Reserva Remunerada, Reformados e Pensionistas das Forças Armadas (Asmir/PR), através do seu presidente, coronel Frederico Soares Castanho e do coronel Roberto Monteiro de Oliveira, relator do Projeto Gansos, enviou ao Congresso Nacional, em fevereiro de 2003, documento detalhando a localização das bases estrangeiras em volta da Amazônia brasileira. O documento conta o seguinte: "Os EUA já possuem numerosas bases militares operando em território sul-americano e em ilhas próximas, num verdadeiro "cordão sanitário" composto de 20 guarnições, em torno da Amazônia brasileira. A máquina de guerra americana já transformou boa parte da América do Sul em autêntico teatro de operações, supostamente contra o narcotráfico e a narco-guerrilha. Das praias do Caribe ao Charco, a presença dos soldados dos EUA é visível. Aviões variados e caças espalhados fazendo um verdadeiro arco que envolve a Amazônia brasileira pelo norte, noroeste, oeste e sudoeste da América Latina, nos Andes e nas Antilhas, configurando o que deve parecer aos militares brasileiros uma espécie de ordem de batalha em torno da Amazônia do Brasil.""Equador, Caribe, Suriname. A espinha dorsal dessa hipotética ordem de batalha em território sul-americano é formada por três bases aéreas: Manta (Equador, a cerca de 320 quilômetros da problemática Colômbia), Rainha Beatriz (Aruba) e Hato (Curaçao), as duas últimas em frente à costa da Venezuela, próximas ao Suriname. Juntas, as três bases contam com efetivo militar desconhecido. As três guarnições abrigam aviões-espiões, aeronaves de transporte, modernos caças F-16 e se preparam para receber os sofisticados aviões-radar Awcs, de última geração em rastreamento eletrônico. Essas bases foram montadas nos dois últimos anos (2000 e 2001), em substituição à base Howard (no Panamá), desativada em 1999. A idéia é que, juntas, as três bases viabilizem duas mil missões (vôos) anuais, supostamente para rastreio e interceptação de aeronaves usadas por narcotraficantes."."As bases aéreas de radar da Colômbia e Peru. A pretexto de estrangular o narcotráfico, como idealizado pelas forças armadas americanas, estas também se posicionaram em território sul-americano em uma rede de 17 bases terrestres de radar. Destas, três ficam no Peru, quatro na Colômbia por motivos óbvios e o restante é "móvel e em local secreto", como informa o Center International Policy for Desmilitarization, uma OMG antimilitarista. Essas bases de radar possuem pista de pouso para aviões de transporte (como a colombiana Letícia e a peruana Iquitos, próximas à fronteira brasileira) e seu efetivo é estimado em 45 militares cada uma, entre técnicos de radar e soldados encarregados da guarda. Esta aparente ordem de batalha dos EUA contra o "narcotráfico" e a "narco guerrilha" inclui ainda seis pistas de pouso construídas pelos americanos no Peru, no Paraguai, na Bolívia, no Suriname e na Guiana Francesa. O Brasil é um dos poucos países sul-americanos onde ainda não existem bases, guarnições ou pistas de pouso americanas".
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