Vejam como fomos agraciados pela sorte, pois temos políticos maravilhosos, que zelam pelos nossos interesses, apesar de nem sabermos bem quais são esses interesses. As campanhas eleitorais são tão custosas e eles gastam dos próprios bolsos a maior parte dos recursos necessários, só para terem o encargo de nos representar, o que, para eles, é uma honra. Trata-se da vontade imperativa de bem servir, existente neles. Também, o povo brasileiro vota muito bem, sabe separar o mau político de quem vai bem representá-lo. Tem momentos em que nós não entendemos a lógica de certo voto parlamentar, mas temos certeza que existe alguma explicação plausível, que a nossa limitada capacidade política não enxerga. Por exemplo, nunca entendi o porquê de, em uma comissão contendo apenas 10% dos deputados, ter sido decidido que a Petrobras irá pagar uma taxa à concessionária local, toda vez que remeter gás natural, produzido por ela, utilizando sua tubulação e de mais ninguém para um grande consumidor, inclusive, quando remeter para uma unidade industrial pertencente a ela própria. Disseram que era porque aquela área pertencia à concessionária, o que me lembrou que Al Capone era também "dono" de áreas e não tinha atividades produtivas, mas extorquia aqueles que as tinham. Depois, me lembrei que os deputados, com alguns estágios de desenvolvimento à minha frente, devem ter se lembrado do livro Acumulação primitiva do capital, de Marx e, assim, seria uma taxa para fortalecimento do capitalismo brasileiro. Mas, aí, lembrei-me, para tristeza minha, que 65% do gás natural vendido no Brasil são realizados por somente duas concessionárias, que são donas das áreas do Rio e de São Paulo, e elas são subsidiárias de empresas estrangeiras. Então, teria sido para fortalecer o capitalismo internacional? Não sei; no entanto, sei que, certamente, eles devem ter tido fortíssimas razões que virão à tona a qualquer hora. Aliás, não entendi também a razão dos congressistas do mandato de 1995 a 1998, sobre os quais pessoas inescrupulosas lançaram a acusação, nunca elucidada, de venda de votos para a permissão da reeleição, não terem aproveitado para negarem a aprovação da Lei do Petróleo (nº 9.478), muito danosa para nossa sociedade, mostrando as suas integridades. Mas, se não os conhecêssemos bem, poderíamos até fazer um mau juízo deles por isso. Línguas ferinas chegaram a calcular que, com essa lei, tinha sido permitida a transferência para o exterior de cerca de US$ 500 bilhões de lucro sobre a atividade do petróleo. Mas, vejam a maldade dessas pessoas, pois eles estavam, na verdade, evitando um confronto não desejado das Forças Armadas brasileiras, que, graças a mais de duas décadas de orçamentos magérrimos, não têm grande poder de dissuasão e, se uma força estrangeira quiser levar nosso petróleo, como está ocorrendo no Iraque, teríamos dificuldade para reagir. Quando forem votar o término da mineração de urânio só poder ser feita pelo Estado brasileiro, projeto este que está tramitando no Congresso, eles vão decidir bem, como usualmente fazem. De novo, falam na possibilidade de US$ 60 bilhões de lucro serem repassados para as matrizes das mineradoras no exterior, em um setor onde não há uma Petrobras para frear as empresas estrangeiras. Mas eles vão computar tudo e escolherão o que, certamente, é o melhor para todos nós. Em países como o Brasil, com sua classe política exemplar, a vida do cidadão comum tem um componente que a torna enfadonha, que é a inexistência de grandes bandeiras políticas a serem desfraldadas. Os políticos, com seus altíssimos níveis de atuação, já equacionaram quase tudo na sociedade. É tempo de usufruir o marasmo das coisas não entendidas e, aparentemente, mal resolvidas, mas, certamente, bem solucionadas pelos heróis.
*Paulo Metri é Conselheiro do Clube de Engenharia.
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