E a Pátria?
Nós, brasileiros, precisamos nos concentrar mais no que nos une. Precisamos criar um projeto para o Brasil como um todo. Muitas pessoas estão por demais preocupadas em garantir os justos interesses de grupos, de facções, de classes, de raças, sempre com apoio internacional (claro!), mas se esquecem perigosamente do que nos une. Há grupos de pressão para todo tipo de demanda: gays, quilombolas, índios, mulheres, animais, florestas, etc., mas pouco se fala do Brasil e do bem coletivo. Isto é simplesmente falta de patriotismo. O maior patriota, não só no discurso, mas na ação, foi o homem que deu um tiro no peito pelo Brasil: Vargas. Mas, para não ser injusto com vários importantes patriotas faço, na pessoa de Rui Barbosa, uma homenagem a todos os brasileiros que lutaram, lutam e sempre lurarão pelo Brasil. Acho-o muito atual e importante. Portanto, neste momento confuso de indefinições do mundo, com mudanças constantes de toda ordem, cada vez mais aceleradas e profundas, com a destruição de valores importantes, não podemos nos esquecer das advertências do ilustre bahiano, símbolo de civismo e dedicação ao Brasil. Ele apresentou a sua definição de Pátria por ocasião da solenidade de formatura de jovens no Liceu do Colégio Anchieta de Friburgo, em 1903, tornando-se um dos momentos mais conhecidos de sua oratória cívica. Fazendo uma exortação à união, mas sempre preocupado com o pluralismo democrático, ensinava:
“A pátria não é um monopólio, a Pátria são os que não conspiram, os que não sublevam. Não foram poucas as ocasiões em que se tentou fazer dela e de seus símbolos monopólio de uma classe, de uma corporação, de uma ideologia. A pátria não é ninguém: são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à idéia, à palavra, à associação. A Pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo: é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. Os que a servem são os que não invejam, os que não infamam, os que não conspiram, os que não sublevam, os que não desalentam, os que não emudecem, os que não se acobardam, mas resistem, mas ensinam, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo. Porque todos os sentimentos grandes são benignos, e residem originariamente no amor. No próprio patriotismo armado, o mais difícil da vocação, e a sua dignidade, não está no matar, mas no morrer. A guerra, legitimamente, não pode ser o extermínio, nem a ambição: é simplesmente a defesa. Além desses limites, seria um flagelo bárbaro, que o patriotismo repudia."
Esta definição de Rui sobre a Pátria encanta, pois encara o patriotismo não como uma manifestação de um ufanismo fácil, mas sim como uma vigorosa afirmação da abrangência universal do conceito, por cima de todas as divisões políticas, econômicas, religiosas, e outras. É uma definição que transcende aos tempos, profundamente ligada ao conceito de democracia, formulada numa oratória clássica e elegante, que jamais deve ser esquecida, simplesmente porque hoje, como nunca, precisamos nos redescobrir, nos repensar, darmos a nós mesmos o devido valor.
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