segunda-feira, 7 de abril de 2008

Trilhões de dólares

Por Michael R. Krätke [*]
Até militares estado-unidenses de alta patente já concedem que as tropas coligadas nos dois cenários principais da guerra mundial contra o "terror" — Iraque e Afeganistão — constituem um desastre. Derrubaram pela força dois regimes, arcando assim com uma guerra cujo fim não é previsível. Economicamente, essas guerras são uma catástrofe ainda maior. Não podem ser ganhas e, desde há muito, não são custeáveis, nem sequer para um país como os EUA. Há 5 anos foi dito à opinião pública norte-americana que a guerra do Iraque custaria a soma de 200 mil milhões de dólares; no pior dos casos, 270 mil milhões. Os gastos do Pentágono com armamento montavam então a 350 mil milhões de dólares. O confronto armado foi vendido como uma guerra barata que só poderia trazer benefícios para os EUA e o mundo todo: mais segurança e um preço mais baixo do petróleo bruto. Lawrence Lindsay, o assessor econômico da Casa Branca que se atreveu a falar em 200 mil milhões de dólares, foi despedido. O governo Bush sustentara antes que todo o empreendimento custaria uma soma entre 50 e 60 mil milhões de dólares. Uma mentira insolente, destinada tranqüilizar a opinião pública norte-americana diante dos planeados – e pouco depois executados – cortes fiscais para os proprietários de capital e de patrimônio. Alguns economistas, como William Nordhaus da Universidadede Yale, chegaram a estimativas modestas que multiplicavam por mais de cinco o montante anunciado pelo governo: 1,9 mil milhões de dólares. É fácil explicar a diferença: todos os custos posteriores à guerra haviam sido simplesmente omitidos pelo governo. Como os custos de reparação dos danos bélicos, que no Iraque, conforme cálculos conservadores, podiam elevar-se a várias centenas de milhares de dólares. Como também os custos de assistência às vítimas da guerra, que no Iraque multiplicam em muito os custos já representam essa rubrica nos EUA. Como também os custos em dívida pública, que por si só a política fiscal de George W. Bush tinha de fazer crescer. Joseph Stiglitz, que se tornou célebre como crítico da política devastadora do Banco Mundial, deu-se ao trabalho, junto com a ex-conselheira do governo Clinton, Linda Bilmes, de calcular exatamente o que custou até agora a guerra do Iraque. Chamou-lhes a atenção em 2005 a incongruência dos dados oficiais do Gabinete Orçamental do Congresso: de acordo com esses dados, os custos da guerra do Iraque teriam sido até então de apenas 500 mil milhões de dólares: dez vezes o desembolso bélico anunciado originalmente, mas, ainda assim, um número manifestamente baixo. Começaram portanto a investigar a coisa com maior precisão e, em Janeiro de 2006, apresentaram seus resultados provisórios: com uma estimativa conscientemente conservadora, os custos da guerra, na sua opinião, tinham de estar entre os mil milhões e os dois mil milhões de dólares. Reacção oficial do governo Bush: quando entramos em guerra, não nos submetemos aos ditames da contabilidade. Reprovou-se a Stiglitz e outros "derrotistas" que passassem simplesmente por alto o bem que a guerra representava para o Iraque o resto do mundo. Stiglitz e Bilmes entraram então em pormenores, a fim de refutar as manobras falsas do governo. A guerra fora financiada até aquele momento graças a 25 leis de emergência, ou seja, com leis orçamentais extraordinárias. Além disso, o Pentágono tivera o cuidado de não calcular o conjunto dos custos bélicos efetivos.
(...)
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[*] Professor de ciências políticas e económicas em Amsterdam. Co-editor da revista alemã SPW (Revista de política socialista e economia) e da nova edição crítica das Obras Completas de Marx e Engels (Marx-Engels Gesamtausgabe, nova MEGA). Investigador associado do Instituto Internacional de História Social em Amsterdam.


A versão em castelhano encontra-se em http://www.sinpermiso.info/textos/index.php?id=1764
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Leia também:
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A tripla culpa dos grandes bancos privados , por Damien Millet e Éric Toussaint
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