“Eu, que combati em nome do país, não tenho qualquer direito. Eles, que enfrentaram o país, já receberam indenização. Fomos abandonados, esquecidos”
Gamboa Miranda, ex-militar que foi obrigado a combater no Araguaia nos anos 70 contra guerrilheiros de esquerda
A tribo quer dinheiro
Gamboa Miranda, ex-militar que foi obrigado a combater no Araguaia nos anos 70 contra guerrilheiros de esquerda
A tribo quer dinheiro
Um grupo indígena cobra uma indenização milionária do governo de Brasília para deixar uma área valorizada da capital
Rodrigo Rangel
Talvez por culpa dos ares de Brasília, cidade famosa por tantos negócios que rendem comissão de 10%, um grupo de índios que mora na capital quer cobrar essa mesma porcentagem para se retirar de uma das áreas mais valorizadas da cidade. Alegando ser habitantes originais do Setor Noroeste, uma área de 825 hectares que o governo do Distrito Federal pretende vender para a iniciativa privada e transformar num bairro residencial para a classe média alta, um grupo de 27 indígenas de três etnias negocia uma recompensa para deixar o lugar. Querem R$ 74,8 milhões – cerca de R$ 3 milhões por cabeça –, ou um décimo do valor da área no mercado imobiliário. Entre outras razões, eles dizem que, no lugar, é possível encontrar vestígios de Tupã, divindade reverenciada por boa parte das nações indígenas do país.
Os 27 índios pertencem às etnias fulniô, cariri-xocó e tuxá. Moram num pedaço de Cerrado a 13 quilômetros da Praça dos Três Poderes, onde estão o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Eles estão divididos em nove famílias. Suas aldeias originais se localizam em pontos distantes de Brasília. Todos têm celular. Moram em casas sem luz elétrica, mas assistem à televisão a bateria. Criam galinhas e patos, plantam frutas e verduras.
Uma parte dos índios instalou-se no local nos anos 80, quando Brasília foi dominada pelo burburinho das Diretas Já e da Constituinte. Os demais chegaram há menos de dez anos. Suas moradias têm o formato de tradicionais ocas indígenas, mas ostentam a alvenaria e as janelas comuns em bairros populares. Muitos ganham a vida como artesãos e vendem suas mercadorias em feiras e estabelecimentos comerciais. Um dos moradores é funcionário público. Agora, pedem recompensa para sair. O pedido de indenização foi entregue à Terracap, estatal que administra as terras públicas da capital.
A briga dos pajés, como se autodenominam as lideranças da tribo, é avalizada pela Funai, a Fundação Nacional do Índio. “Se os índios tiverem de sair de lá, têm de sair com alguma recompensa”, diz o presidente da Funai, Márcio Meira. “Não podem ser tratados como pessoas de segunda classe.” É um argumento freqüente, num país onde invasores – de qualquer tipo – conseguem se estabelecer em áreas que não lhes pertencem e resistir a tentativas de ser deslocados com facilidade, como se verifica em tantas áreas urbanas ou no meio rural.
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Na semana passada, o grupo de Ivanice teve uma baixa. O índio Mareval desistiu de pedir indenização. “Isso é esperteza de advogado”, diz Mareval. Ele vive na área com a mulher branca e o filho de 4 anos. É o único que diz aceitar a proposta do governo de mudar para outra área. Conflito de espertezas – e também de culturas –, a disputa de Brasília é a caricatura de um país que até hoje não foi capaz de ajustar contas com seus primeiros habitantes.
Um suspeito dentro do PT
Dirigente do partido é investigado por manter contatos com um lobista preso por fraudes em obras do PAC
Murilo Ramos
RARIDADE
A Justiça autorizou grampo no telefone de Romênio Pereira, mas a PF disse não ter condições de fazê-lo
Atendendo a um pedido de Antonio Fernando de Souza, procurador-geral da República, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, autorizou a quebra do sigilo telefônico de um dos ramais da sede do Partido dos Trabalhadores em Brasília, conforme revelou com exclusividade epoca.com.br na semana passada. Quem usava esse ramal era Romênio Pereira, secretário de Assuntos Institucionais do PT. Suas conversas fazem parte do inquérito sobre fraudes em obras públicas em Minas Gerais com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. A polícia descobriu que Romênio mantinha contatos freqüentes com João Carlos Carvalho, que fora preso, acusado de liderar o esquema. Entre junho e novembro de 2007, João Carlos e Romênio Pereira se encontraram pelo menos sete vezes, na casa do lobista, em Belo Horizonte, ou no gabinete de Pereira, na sede do PT em Brasília.
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Leia estas e outras matérias na edição desta semana da revista Época
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