segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Prestação de contas...Para onde tanta grana está indo? Não é para os atletas, com certeza!!!


Cada medalha custou R$53 milhões à União

Gastos chegaram a R$692 milhões; deputado quer CPI Quando as Olimpíadas de Pequim terminarem, hoje, às 9h (de Brasília), o Brasil vai bater um novo recorde. Nunca o governo federal gastou tanto com uma preparação para os Jogos. De forma direta, através da Lei Piva, que determina repasse de 2% das loterias federais, ou indireta, pelas estatais, o Comitê Olímpico Brasileiro e as confederações esportivas receberam no ciclo olímpico, de quatro anos, R$692 milhões, o que dá cerca de R$53 milhões para cada uma das 13 medalhas do país - excluídas as duas do futebol, que não recebe dinheiro público. O deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) pedirá abertura de CPI. União gastou, em quatro anos, R$692 milhões

CUSTO PEQUIM

Nunca houve tanto investimento
Gian Amato, Miguel Caballero e Rogério Daflon

No país onde a política esportiva fica sempre em último, o esporte olímpico teve mais sucesso em abrir o baú do Tesouro Nacional do que em garimpar o ouro em Pequim. Nunca houve tanto dinheiro público injetado na preparação em um ciclo olímpico. Nos últimos quatro anos, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e as confederações receberam R$692,58 milhões de patrocínio de empresas estatais e dos recursos da Lei Piva. Bem mais que o dobro das verbas destinadas ao ciclo de Atenas-2004, no qual foram gastos cerca de R$280 milhões e conquistados cinco ouros, na melhor campanha da História.
O negócio da China custou caro à União: cada medalha, exceto as do futebol, já que a CBF não recebe dinheiro público, saiu a R$53 milhões. Na mala dos dirigentes que foram a Pequim, a expectativa de bater a marca de cinco ouros de Atenas e de 15 medalhas de Atlanta-1996 era inflada pelo fato de este ter sido o primeiro ciclo olímpico completo beneficiado pela Lei Piva, que assegura 2% das loterias federais para o esporte olímpico.


De 2004 a 2008, os cofres do COB e das confederações foram irrigados com R$300,04 milhões.

Com mais R$371,66 milhões das estatais; R$10,4 milhões gastos na Casa Brasil; R$5,2 milhões captados pelas confederações de Boxe e Tênis de Mesa pela Lei de Incentivo ao Esporte; R$4,5 milhões de verba direta do Ministério para o COB investir apenas em alto rendimento; e R$780 mil do Bolsa-Atleta para esportistas que foram a Pequim, chega-se ao total investido diretamente pela União nos Jogos.

Lei Piva: metade é retida pelo COB

Até chegar às confederações, os recursos da Lei Piva são filtrados pelo COB, que costuma reter 50%. Em 2007, por exemplo, a entidade recebeu R$84,66 milhões, e aplicou nas confederações R$35,91 milhões. Do total da Lei aplicado no COB naquele ano, R$22 milhões foram usados para pagar as despesas administrativas da entidade. Já para a preparação técnica, o COB destinou apenas R$1,3 milhão. O problema é que os maiores beneficiados nem sempre são os mais necessitados. A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), por exemplo, que fica com a maior parte do patrocínio de R$50 milhões do Banco do Brasil, recebeu da Lei cerca de R$7,87 milhões nos últimos três anos. Já o levantamento de peso, modalidade que deu à China oito medalhas de ouro, atrás apenas da ginástica, com nove, recebeu R$1,7 milhão no mesmo período. As confederações, por sua vez, aplicaram no ano apenas 8,7% na manutenção dos atletas. A maior parte dos R$35,91 milhões (42%) foi empregada na organização e participação em eventos esportivos. Para o Judô, nos anos de 2006, 2007 e parte de 2008, já orçado, o COB entregou R$5,76 milhões. O esporte - que trouxe três medalhas de bronze de Pequim - também tem o patrocínio de R$5,1 milhões da Infraero. Mesmo com o investimento de R$10,86 milhões, o judoca Eduardo Santos sequer tinha R$1,5 mil para fazer o exame e passar da faixa marrom para a preta, o que só foi possível este ano, quando conseguiu a vaga olímpica. A participação de Eduardo Santos esteve ameaçada até o último momento, apesar do patrocínio e do investimento da Lei. Em 2005, ele sofreu uma lesão no pé e não tinha dinheiro para pagar uma operação. Coube ao judoca Carlos Honorato doar um de seus agasalhos usados em Atenas para Eduardo fazer uma rifa e arcar com as despesas médicas.

Patrocínio estatal é para poucos
Do total do bolo de dinheiro público investido, a maior parte vem de seis empresas estatais, por intermédio de patrocínio às confederações. Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobras, Correios, Eletrobras e Infraero injetaram, desde Atenas, R$371,66 milhões. Se, na aplicação de recursos da Lei Piva, há distribuição desigual, nos patrocínios estatais a concentração é ainda maior: apenas dez confederações, além do COB, recebem dinheiro, enquanto a Lei contempla 28 confederações.

Nem sempre ter uma empresa pública como padrinho significa bons resultados.

Um dos maiores patrocínios é o da Eletrobras à Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Nos últimos quatro anos, foram R$30 milhões investidos. O retrospecto das seleções é pífio: o masculino não vai aos Jogos desde Atlanta-1996. A seleção feminina, que ganhou medalhas em Atlanta e Sydney, fracassou em Pequim. Ainda que não tenha obtido grandes resultados, o Brasil soube fazer o marketing de si mesmo na Casa Brasil em Pequim, vitrine do país e do COB para expor seus patrocinadores.


O ciclo olímpico teve ainda aportes inéditos.

Em dezembro de 2006, entrou em vigor a Lei de Incentivo ao Esporte, que, a exemplo da Lei Rouanet, na Cultura, permite a empresas que patrocinem projetos esportivos descontar o valor do Imposto de Renda. Além dos R$ 5,2 milhões das confederações de Boxe e Tênis de Mesa, R$26 milhões do patrocínio da Petrobras ao COB foram dados através da Lei. O montante total de captação para o esporte que a Lei de Incentivo permite é bem maior, de cerca de R$300 milhões anuais. Mas o critério aqui adotado foi considerar, como gastos do governo para os Jogos, apenas projetos aprovados para o COB e confederações. Outra nova forma de financiamento público é o Bolsa-Atleta, que subsidia desde estudantes a esportistas olímpicos. Para atletas de nível olímpico, a bolsa é de R$2,5 mil mensais. Estão em Pequim bolsistas como o pugilista Washington Silva, o judoca Denilson Lourenço, e as jogadoras de futebol Tânia Maranhão e Renata Costa. A conta para o Governo pode ser bem maior, porque, nesses quatro anos, o investimento em esporte não se limitou à preparação para as Olimpíadas. Em 2007, a realização dos Jogos Pan-Americanos no Rio consumiu R$1,8 bilhão apenas de verba federal (50%).

Os custos totais ultrapassaram os R$3 bilhões.

A chuva de medalhas em 2007 no Rio, obviamente, não se repetiu nas Olimpíadas. Também estão fora da conta R$23,82 milhões repassados pelo Ministério do Esporte ao COB desde 2005 para diversas finalidades, não especificamente ligadas a Pequim. Enquanto as verbas públicas vão em maioria para o topo da pirâmide - COB e confederações olímpicas -, o trabalho de formação esportiva, tão bem-feito pela China, ainda é algo incipiente no Brasil.


Matéria de O Globo

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