terça-feira, 26 de agosto de 2008

José Sarney

"Eu nunca pensei em ser presidente", diz ex-presidente em sabatina
Folha Online

O ex-presidente José Sarney afirmou nesta terça-feira, durante sabatina da Folha, que nunca pensou em ser presidente da República. Segundo Sarney, ele já estava preparado para ser vice quando foi avisado que seria presidente e não houve uma "educação presidencial" para se preparar para o cargo. "A educação presidencial não existiu. Eu nunca pensei que chegasse à Presidência da República. No Maranhão ninguém nasce pensando em ser presidente da República. No Maranhão sempre se aspira chegar à Academia [Brasileira de Letras, que Sarney integra], na presidência da Republica não", disse ele.De acordo com Sarney, sua formação o ajudou na organização de seu trabalho quando assumiu o cargo, para o qual, segundo ele, inicialmente recusou. "Fui acordado às 3h e soube que assumiria às 10h."Sarney também contou que para ajudar a convencê-lo, a atuação de Ulysses Guimarães foi fundamental. "Sempre tive um senso crítico de que aquilo poderia parecer a população que eu havia costurado aquilo', afirmou.A sabatina aconteceu agora há pouco no Teatro Folha (shopping Pátio Higienópolis, av. Higienópolis, 618, 2º piso, São Paulo).

Para Sarney, Lei da Anistia deve ser respeitada

Após mostrar que desconhecia os casos de tortura no Brasil durante o período da ditadura militar, o ex-presidente José Sarney disse que a idéia de punição aos torturadores da época não contribui para a consolidação da democracia. Para ele, a própria anistia representou o encerramento do assunto e permitiu uma transição segura para a democracia."Não tinha conhecimento nenhum [das torturas], pois estava no Maranhão, era governador do Maranhão [...]. O que posso dizer é que quando cheguei no Congresso é que formamos um grupo para lutar para que o processo se abrisse", contou o ex-presidente.Segundo ele, a Lei da Anistia foi negociada e, por este motivo, foi bastante abrangente, não deixando margens para que precise ser revista nos dias atuais. "Fizemos uma anistia consensuada. Foi negociada. Não foi uma concessão", afirmou."Não há razão para que devemos renascer com o assunto. Evidente que isso não cura quem foi torturado. Mas o processo político da anistia fez parte da transição", disse Sarney, rechaçando a revisão da lei.

Seu governo e o "Tudo pelo Social"

Perguntado sobre a inflação em seu governo, Sarney mostrou que, se avaliada em dólar, a moeda no seu governo manteve o poder de compra e que o processo hiperinflacionário só começou ao final de seu governo, quando a disputa eleitoral pela Presidência polarizou-se entre Lula e Collor, o que provocou especulação com os preços diante do medo dos agentes econômicos de um possível governo radical de Lula. Mostrou que seu governo fez questão de mander o poder de compra dos trabalhadores com a correção monetária e que o lema "Tudo pelo Social" foi levado a sério, pois naquele tempo o País crecia mais de 5% ao ano e tinha uma situação confortável de quase pleno emprego (o desemp´rego estava em torno de 2%). Mostrou, ainda, que a universalização do atendimento à saúde e da previdência social e os programas sociais - como a CEME e o programa do leite-, foram grandes conquistas de seu governo e que serviram de modelo para todos os programas sociais que viriam depois.

Ida para o Amapá

Questionado sobre sua mudança para o Amapá, Sarney explicou que, em 1990, seu partido na época havia lhe negado legenda para que concorresse pelo Maranhão. Disse que tinha sido procurado por líderes de vários outros estados para ser candidato a senador, mas que fez questão de escolher o Amapá que, segundo o ex-presidente, é um estado irmão do Maranhão, pois ambos fizeram parte do antigo Grão-Pará. Sarney aproveitou a oportunidade para agradecer aos cidadãos do Amapá, que o acolheram com carinho e citou os benefícios que esta aliança trouxe para o estado, como os investimentos da Eletronorte na infra-estrutura energética, o porto de contêineres de Santana e a criação da Área de Livre Comércio de Macapa e Santana.


Colunista da Folha, Sarney é o quinto entrevistado no ciclo de sabatinas do jornal neste ano.
Durante duas horas, o ex-presidente respondeu a perguntas dos entrevistadores e da platéia. Sarney foi sabatinado pelos colunistas da Folha Clóvis Rossi e Mônica Bergamo, pelo editor de Brasil, Fernando de Barros e Silva, e pela editora do "Painel", Renata Lo Prete. Ele também respondeu a perguntas da platéia. Deputado federal pelo Maranhão em 1956-1957 e 1959-1966, Sarney elegeu-se em 1965 ao governo do seu Estado. Em 71, assumiu uma vaga no Senado, de onde saiu em 85 para ser presidente. Após deixar a Presidência, Sarney voltou ao Senado, agora eleito (e reeleito duas vezes) pelo PMDB do Amapá

Outros sabatinados

Desde 2005, a Folha já promoveu 33 sabatinas, nas quais foram entrevistadas personalidades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente José Alencar, o governador José Serra, o ator Paulo Autran (morto no ano passado), o escritor indiano Salman Rushdie e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.Sarney é o quinto entrevistado no ciclo de sabatinas da Folha neste ano. Antes dele, foram sabatinados o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o ministro da Educação, Fernando Haddad, o deputado federal (PSB-CE) Ciro Gomes e o psicanalista Contardo Calligaris.

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