Procurando ser o mais discreto possível, mas circulando com desenvoltura pelo Brasil e especialmente pela Amazônia, esteve nos “visitando” o Sr. James Anaya, sob a proteção dos capacetes azuis da Organização das Nações Unidas (ONU). Em algumas ocasiões foi tratado por “parente”, o que certamente lhe deixou mais a vontade ainda.
O termo “parente” é usualmente empregado no tratamento mútuo que fazem entre si os vários grupos indígenas que habitam a Amazônia brasileira. Expressa certa intimidade, companheirismo, relação recíproca de confiança. Não me parece que deva ser dispensado a um intruso.
O representante da ONU aqui aportou, segundo divulgado, a partir de um convite formulado por alguns “parentes” indígenas que recentemente visitaram a Europa em busca de apoio para uma solução final da reserva indígena “Raposa Serra do Sol”. Mas o emissário dos “capacetes azuis” não veio tratar apenas de “Raposa Serra do Sol”, segundo ele próprio revelou em Manaus. Sua pretensão é tomar conhecimento das “condições gerais das populações indígenas na Amazônia”.
A visita do representante da ONU é despropositada sob todos os aspectos mas, especialmente, pelo fato de que o governo brasileiro já tomou todas as providências legais e políticas para assegurar a reserva indígena, inclusive contrariando a quase totalidade da elite econômica e política do Estado de Roraima, muitos dos quais politicamente aliados do presidente Lula.
Mesmo que eventualmente o governo brasileiro tivesse outra postura – digamos, contrária a demarcação da reserva indígena - esse seria um assunto que teria que ser resolvido no estrito limite de nossa soberania. É algo que só diz respeito ao povo brasileiro. Qualquer tentativa de internacionalizar assuntos internos é uma clara agressão ao principio da soberania nacional.
Por isso, com a autoridade de quem passou a vida inteira lutando pela demarcação de terras indígenas, apoiando e ajudando a organizar várias de suas organizações sociais, eu me sinto no dever de alertar aos nossos “parentes” que se acautelem. Que não se deixem manobrar por qualquer tentativa de colocar em questionamento a soberania do Brasil sobre a parte amazônica que lhe pertence.
Nossos problemas ou soluções só dizem respeito a nós mesmo. Tem que ser encontrados nos marcos e limites de nossa soberania.
Pensem em Ajuricaba, espírito indômito, que não se deixa acomodar, aquele que preferiu a morte a escravidão estrangeira. É desse herói que nós descendemos.
*Eron Bezerra, Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual Licenciado, Secretário de Agricultura do Estado do Amazonas, Membro do CC do PCdoB.
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http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=42150
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