Por Nilder Costa
(Alerta em Rede) – Em visita ao Rio de Janeiro, na semana passada, o ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende anunciou que a construção do tão aguardado Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) seria, finalmente, iniciada. “O reator multipropósito tem um papel muito importante para o programa nuclear", destacou o ministro, informando que a liberação de R$ 50 milhões, necessários para desenvolver o projeto básico do reator, foi aprovada pelo conselho do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, vinculado ao ministério, para contornar a falta de recursos no Orçamento da União para o projeto neste ano. [1]
Um dos principais objetivos do projeto é dar autonomia ao País na fabricação de radiofármacos cujo fornecimento mundial enfrenta uma grave crise após a parada do reator canadense National Research Universal (NRU) – responsável por quase 40% da produção mundial do radioisótopo molibdênio-99 (Mo-99) - por problemas técnicos. O Mo-99 gera, por decaimento, o tecnécio-99m (Tc-99m) que, por sua vez, é utilizado em mais de 90% de todos os exames de medicina nuclear. Atualmente, o Brasil importa 100% do Mo-99 que necessita. [2]
Orçado em R$ 850 milhões, o RMB será construído em Iperó, a 130 quilômetros de São Paulo, ao lado do Centro Experimental de Aramar, da Marinha, que cedeu um terreno de 1,2 milhões de metros quadrados.
Rezende veio ao Rio para inaugurar o Laboratório Multiusuário de Fusão a Arco, desenvolvido em parceria entre a Coppe (programa de pós-graduação em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e o Instituto Militar de Engenharia. O Laboratório produzirá, em escala pré-industrial, tubos com liga de zircônio onde são colocadas as pastilhas de urânio enriquecido para formar o chamado elemento combustível dos reatores nucleares. As usinas de Angra 1 e 2 usam, respectivamente, 121 e 193 elementos combustíveis, totalizando cerca de 70 mil tubos (varetas). A cada recarga anual, um terço desses tubos (varetas) é substituído. "A produção dessa liga é estratégica. Se detenho a tecnologia, posso discutir preço com os produtores internacionais. E se houver restrição no mercado, eu não dependerei dos fornecedores internacionais, poderei reagir rapidamente", afirmou Samuel Fayad, diretor de Produção do Combustível da INB, que recordou as dificuldades para o fornecimento de elementos combustíveis de Angra 1, na década de 1980, por parte da Westinghouse: "Tivemos problemas com Angra 1 e fomos buscar uma solução com a Siemens, na época em que iniciava o acordo Brasil-Alemanha”, disse ele.
Entretanto, um dos aspectos mais relevantes da visita de Rezende foi sua declaração que o País vem enfrentando uma espécie de boicote por causa da determinação do governo de atingir a autonomia no programa nuclear, desenvolvendo tecnologias para dominar o ciclo do elemento combustível: "Há vários componentes do programa nuclear e espacial que o Brasil não consegue dos países que detêm essa tecnologia por motivos que todos entendemos. Não podemos ficar temerosos do que pode acontecer. Mas já estamos enfrentando em muitos aspectos essa questão: é quase um boicote", afirmou o ministro. Dito por outras palavras, trata-se da política de “apartheid tecnológico” praticada por potências hegemônicas, desde o final da Segunda Guerra Mundial, para controlar o desenvolvimento dos setores nuclear e espacial no Brasil e outros países.
Notas:
[1]Programa nuclear faz País enfrentar boicote, diz ministro, O estado de São Paulo, 06/05/2010
[2]Sobre a urgência da construção do Reator Multipropósito Brasileiro, Alerta Científico e Ambiental, 23/02/2010
Veja também:
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