quinta-feira, 3 de abril de 2008

Observatório do Said Dib

Senado Federal é cenário de profícuo debate político: "Galinhas Cacarejantes" do Brasil...Univos contra o preconceito!!!

Não me contaram. Eu vi, ao vivo e em cores. Quarta-feira, dia 02, o Plenário do Senado teve algumas cenas impagáveis. O senador piauiense Mão Santa, com aquele seu jeito misto de pregador evangélico com comediante cearense, resolveu comparar o modus operandi petista com as práticas nazistas. Lembrou que o Partido Nazista se chamava oficialmente de Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Isto para concluir que os petistas teriam práticas de desrespeito para com as instituições representativas liberais e de intimidações contra as liberdades tanto quanto os nazis alemães. Para ilustrar a comparação lembrou passagens do livro de Hitler, Meim Kampf (Minha Lula), e da atuação do propagandista nazista Joseph Goebbels, que condicionava as massas alemãs partidárias de Hitler a repetirem sistematicamente palavras de ordem em favor do sistema nazista. E para ilustrar, contou que Goebbels exigia que os partidários nazistas repetissem palavras de ordem como se fossem "galinhas cacarejadoras". Protestou contra a não-ida da ministra Dilma Roussef ao Senado para justificar o vazamento de informações da Casa Civil, dizendo que era um desrespeito contra a instituição, uma prática tipicamente nazista e coisa e tal.

Neste momento, para cutucar os petistas, resolveu fazer uma metáfora provocatica, chamando a ministra Dima Roussef e os petistas de galinhas cacarejadoras, como faziam os nazistas. Foi aí que a situação ficou feia. Ele tentou dizer que a ministra prefere defender insistentemente as obras do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) do governo federal ao invés de esclarecer o vazamento de informações do suposto dossiê contra Fernando Henrique & Cia e sua esposa. "Só há uma culpada nisso tudinho: é a ministra Dilma. Se nós formos buscar na história de Hitler, eles dizem que Goebbels (um dos principais nomes do partido nazista alemão) orientava o partido dele até uma galinha cacarejadora para ficar gritando: as obras, as obras, as obras - antes de fazer e depois. Isso aí, esse negócio de apelido é outro. Ela (Dilma) pode ser muito bem a galinha cacarejadora desse governo. A história se repete", afirmou. A frase de Mão Santa arrancou protestos histéricos da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC). Espertalhona, a senadora não perdeu tempo e, como faziam realmente os nazistas e fascistas, foi logo enguadrando o senador cômico. Disse que o peemedebista foi preconceituoso e que estava chamando a ministra de "galinha". Ideli ameaçou adotar medidas "cabíveis" contra o senador, assim como a própria ministra Dilma - mas não adiantou quais serão as ações movidas pelo governo. "Eu não vou admitir, como mulher, que no debate político trate-se qualquer mulher, por mais adversária, inimiga que seja, com esses termos aqui no plenário do Senado. Nós não estamos falando de nazista, se é o seu padrão. Nós estamos falando aqui de respeito mínimo entre homens e mulheres. Quer fazer o debate político, faça com classe e com dignidade e não utilizando baixaria", reagiu. Ideli chegou a bater boca com Mão Santa e o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) no plenário do Senado. O senador Romeu Tuma (PTB-SP), que presidia a sessão, teve que ameaçar suspender o trabalho devido aos ânimos exaltados dos parlamentares.
Hoje, leio que a comédia continua. A senadora Serys Slhessarenko (PT-MS), em sessão nesta quinta-feira (3), apresentou nota de repúdio às palavras do senador Mão Santa (PMDB-PI). “Espero, senador Mão Santa, que Vossa Excelência tenha refletido sobre suas palavras e que reveja o que foi dito. Que se retrate sobre esse episódio”, disse. A senadora citou a indignação de várias organizações de mulheres em todo o país que "estão se rebelando". Para Serys, utilizar o termo "galinha" - que não aparece no livro de Hitler e, no Brasil, põe em dúvida a honra da mulher - estimula e incentiva a violência.
Para nossos leitores e nossas leitoras, para que não haja dúvidas, resolvi colocar neste espaço os trechos da taquigrafia do Senado Federal, que registrou a pantomima galinácia de ontem. Diante da reação das nobres senadoras, não sei se alguma ONGs ambientalista também não se pronunciará a favor de Mão Santa, pois, afinal, a forma preconceituosa e depreciativa com que Ideli Salvati imputa às “galinhas”, provavelmente trará a discussão sobre a necessidade de se criar um “estatuto galinácio” contra o preconceito aos importantes animais. Mas, confiram se o comediante realmente chamou as nobres senhoras de “galinhas”:

O SR. MÃO SANTA (PMDB – PI) - “E atentai bem, Tião. Só há uma culpada nisso tudinho: é a Ministra Dilma. Não há dois, não. Esse negócio de ela ser mãe de PAC é outra história. Se nós formos buscar lá na história de Hitler – nazista, socialista, partido do trabalhador lá –, eles dizem que o Goebbels orientava o partido dele e até uma galinha carcarejadora podia ficar gritando: as obras, as obras, as obras... antes de fazer e depois. Esse negócio de apelido é outro. Ela pode ser muito bem a deste Governo. A história se repete.É o seguinte: nós temos que ser o pai da Pátria. Atentai bem. V. Exª tem que trazer uma experiência. Senador Romeu Tuma, eu fui Prefeitinho, a Ministra é Ministra, não foi...
(...) E quis Deus... Agora eu sei que vai dar imbróglio, mas eu citei foi o Livro Mein Kampf , de Adolf Hitler que eles tinham...Tem no livro. Ô Senadora Ideli Salvatti, eu trouxe outro livro. Não é ela não. Ela tem que ler... Eu admiti o Luiz Inácio não ler, mas Senadora não. O Livro Mein Kampf? Professora que não sabe, eu não admito não. Tem que fazer aquele concurso.Não está no livro que, no esquema socialista, comunista, partido do trabalhador, tinha a espécie. Tinha uma função lá para divulgar. É na história da Alemanha nazista, quando Hitler teve 96% de preferência. Não vem aqui.. .Eu não temo negócio de coisa, não. A ignorância é audaciosa, mas ninguém vem abrir, não. Eu abri foi o livro. (Interrupção som)
O SR. MÃO SANTA (PMDB – MS) – Eu li foi o livro todinho: Mein Kampf. E o Partido do Hitler usava esse artifício. Aqueles que ficavam a mando de Goebbles, só falando das obras, das obras – antes de nascer – das obras, das obras, todo o tempo. Então, essa é uma situação histórica. E nós não temos medo de nada aqui, não. Nós temos medo de ter medo; medo de nos agacharmos diante da corrupção que está aí. Então, eu quero dizer o seguinte, essa é a verdade: nesse imbróglio todo, por uma falta de decisão – como ele – aqui quis Deus, veio o Ministro da Educação, Paulo Renato. Eu perguntei quantas vezes ele tinha vindo aqui. Paulo Renato saiu agora e disse “Quase vinte vezes”. Quase vinte vezes, Paulo Renato atendeu os chamamentos e esclareceu. Então, o erro... E um erro, uma desgraça nunca vem só, a Mãe do PAC atinge a Mãe da Decência, a Mãe da Dignidade, a Mãe da Virtude, que é a Srª Ruth Cardoso.(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB – PI) – Alvaro Dias, símbolo da decência, da pureza, da dignidade.Agora, a ignorância é audaciosa. Nós não tememos ignorância, não!
A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT – SC) – Questão de ordem, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB – SP) – O próximo é o Senador Flávio Arns, mas como é uma questão de ordem para V. Exª...

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT – SC. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) – É uma questão de ordem.Sr. Presidente, solicito à Mesa, se possível de imediato, a transcrição das notas taquigráficas, porque eu ouvi – posso ter me enganado, mas eu ouvi – que a Ministra Dilma não é a mãe do PAC, mas que a Ministra Dilma é uma “galinha cacarejadora”. Então, eu quero que se confirme se isso foi dito ou não, porque eu posso ter me enganado. Agora, como mulher, eu não vou admitir que, no debate político, trate-se qualquer mulher, por mais adversária, inimiga que seja, com esses termos aqui no plenário do Senado.Então, requeiro, de imediato, a transcrição da fita de áudio, para saber se foi dito isto que eu ouvi: que a Ministra Dilma não é a mãe do PAC, que é uma “galinha cacarejadora”.É só isso, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB – SP) – Senadora, não é uma questão de ordem. É um requerimento, que será atendido na forma regimental. Eu já pedi à Secretaria que providencie imediatamente.

O SR. MÃO SANTA (PMDB – PI) – Sr. Presidente, eu peço que V. Exª...

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT – SC. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) – Aliás, Sr. Presidente, não é nem a primeira vez. Já vieram me informar que saiu em nota de jornais hoje essa mesma frase. Portanto, não seria nem a primeira vez. Já seria a segunda.

O SR. MÃO SANTA (PMDB – PI. Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Presidente, quero que veja e reveja o meu pronunciamento. E eu trago o livro e entrego para V. Exª: o livro “Mein Kampf”, “Minha luta”, ele contandoque isso... o Goebbles...Eu li aqui. Foi o livro. Não foi esse parágrafo, não. Eu li outros: o “vermelho”, “companheiro”. Agora, eu tenho que saber a história para estar aqui e representar com grandeza esta Casa.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PDT – SP) – Senador, as notas taquigráficas serão apresentadas.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT – SC) – Nós não estamos falando de nazista, se é o seu padrão. Nós estamos falando aqui de respeito mínimo entre homens e mulheres! Quer fazer o debate político, faça-o com classe e com dignidade e não utilizando baixaria!

O SR. MÃO SANTA (PMDB – PI) – Eu não aceito aqui pitiatismo não! Tem bem ali a assistência médica. Não tem nada de nazista! Eu sou do Piauí. Agora tem o serviço médico para tratar pitiatismo.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT – SC) – O Senador usa Mein Kampfcomo subsídio para o seu discurso. (Interrupção do som)O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PDT – SP) – Eu gostaria que acalmasse o ambiente. Senão, vou suspender a sessão. Não vejo razão para esses debates paralelos tão enervados.A Senadora fez um requerimento, que será atendido, e eu concedo a palavra ao Senador Flávio Arns.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM – PI) – Sr. Presidente, pela ordem.

A SRª PATRÍCIA SABOYA (PDT – CE) – Sr. Presidente, pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PDT – SP) – Eu estou atendendo a relação...

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) – Sr. Presidente, é isonomia. O Estado do Piauí foi agredido e ofendido. Não se faz ofensa com ofensa. Eu não aceito, como piauiense, essa discriminação a meu Estado, Sr. Presidente. É um absurdo.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT – SC) – Não sei por que está entrando o Piauí, porque eu apenas me referi a uma declaração que eu ouvi e que me recuso a aceitar que tenho sido dito no Plenário, por isso pedi as notas. Não trouxe nada de Piauí aqui. Se querem trazer, é problema de outros, não meu.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM – PI) – Não vou pedir as fitas, não pedir...

A SRª PATRÍCIA SABOYA (PDT – CE) – Sr. Presidente, pela ordem.(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PDT – SP) – Isso está denegrindo a imagem do Senado.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB – SP) – Desliguei o microfone, porque está sendo denegrida a imagem do Senado.Eu pediria calma para cada um requerer o que quiser sem agressão. Vamos agir com calma, senão vou encerrar a sessão. Não vejo razão para continuar esse estado de nervos que surgiu repentinamente. V. Exª já requereu também a fita e será atendido, na forma da lei.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM – PI) – A minha palavra foi cassada, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB – SP) – Não foi cassada. V. Exª está atravessando o outro! Respeito V. Exª, mas era a vez do Senador Flávio Arns, pela ordem. Nós já aferimos a lista de inscrição.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM – PI) – Se V. Exª estabelecer, posso dialogar.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB – SP) – Termine, por favor, Senador.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PTB – SP) – Senadora Patrícia.

O MÃO SANTA (PMDB – PI. Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Presidente Senador Romeu, quero dizer que mantenho o que está escrito no livro e vou trazê-lo para V. Exª. Falei como se fala em Dona Ruth, como falou em Senador, mas as afirmações são do livro Mein Kampf, que entregarei a V. Exª. Ontem, eu o li. Não tem nada contra isso. Isso foi um debate. Agora, o livro foi lido ontem.”

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