Não me contaram. Eu vi, ao vivo e em cores. Quarta-feira, dia 02, o Plenário do Senado teve algumas cenas impagáveis. O senador piauiense Mão Santa, com aquele seu jeito misto de pregador evangélico com comediante cearense, resolveu comparar o modus operandi petista com as práticas nazistas. Lembrou que o Partido Nazista se chamava oficialmente de Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Isto para concluir que os petistas teriam práticas de desrespeito para com as instituições representativas liberais e de intimidações contra as liberdades tanto quanto os nazis alemães. Para ilustrar a comparação lembrou passagens do livro de Hitler, Meim Kampf (Minha Lula), e da atuação do propagandista nazista Joseph Goebbels, que condicionava as massas alemãs partidárias de Hitler a repetirem sistematicamente palavras de ordem em favor do sistema nazista. E para ilustrar, contou que Goebbels exigia que os partidários nazistas repetissem palavras de ordem como se fossem "galinhas cacarejadoras". Protestou contra a não-ida da ministra Dilma Roussef ao Senado para justificar o vazamento de informações da Casa Civil, dizendo que era um desrespeito contra a instituição, uma prática tipicamente nazista e coisa e tal.
Neste momento, para cutucar os petistas, resolveu fazer uma metáfora provocatica, chamando a ministra Dima Roussef e os petistas de galinhas cacarejadoras, como faziam os nazistas. Foi aí que a situação ficou feia. Ele tentou dizer que a ministra prefere defender insistentemente as obras do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) do governo federal ao invés de esclarecer o vazamento de informações do suposto dossiê contra Fernando Henrique & Cia e sua esposa. "Só há uma culpada nisso tudinho: é a ministra Dilma. Se nós formos buscar na história de Hitler, eles dizem que Goebbels (um dos principais nomes do partido nazista alemão) orientava o partido dele até uma galinha cacarejadora para ficar gritando: as obras, as obras, as obras - antes de fazer e depois. Isso aí, esse negócio de apelido é outro. Ela (Dilma) pode ser muito bem a galinha cacarejadora desse governo. A história se repete", afirmou. A frase de Mão Santa arrancou protestos histéricos da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC). Espertalhona, a senadora não perdeu tempo e, como faziam realmente os nazistas e fascistas, foi logo enguadrando o senador cômico. Disse que o peemedebista foi preconceituoso e que estava chamando a ministra de "galinha". Ideli ameaçou adotar medidas "cabíveis" contra o senador, assim como a própria ministra Dilma - mas não adiantou quais serão as ações movidas pelo governo. "Eu não vou admitir, como mulher, que no debate político trate-se qualquer mulher, por mais adversária, inimiga que seja, com esses termos aqui no plenário do Senado. Nós não estamos falando de nazista, se é o seu padrão. Nós estamos falando aqui de respeito mínimo entre homens e mulheres. Quer fazer o debate político, faça com classe e com dignidade e não utilizando baixaria", reagiu. Ideli chegou a bater boca com Mão Santa e o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) no plenário do Senado. O senador Romeu Tuma (PTB-SP), que presidia a sessão, teve que ameaçar suspender o trabalho devido aos ânimos exaltados dos parlamentares.
Hoje, leio que a comédia continua. A senadora Serys Slhessarenko (PT-MS), em sessão nesta quinta-feira (3), apresentou nota de repúdio às palavras do senador Mão Santa (PMDB-PI). “Espero, senador Mão Santa, que Vossa Excelência tenha refletido sobre suas palavras e que reveja o que foi dito. Que se retrate sobre esse episódio”, disse. A senadora citou a indignação de várias organizações de mulheres em todo o país que "estão se rebelando". Para Serys, utilizar o termo "galinha" - que não aparece no livro de Hitler e, no Brasil, põe em dúvida a honra da mulher - estimula e incentiva a violência.
Para nossos leitores e nossas leitoras, para que não haja dúvidas, resolvi colocar neste espaço os trechos da taquigrafia do Senado Federal, que registrou a pantomima galinácia de ontem. Diante da reação das nobres senadoras, não sei se alguma ONGs ambientalista também não se pronunciará a favor de Mão Santa, pois, afinal, a forma preconceituosa e depreciativa com que Ideli Salvati imputa às “galinhas”, provavelmente trará a discussão sobre a necessidade de se criar um “estatuto galinácio” contra o preconceito aos importantes animais. Mas, confiram se o comediante realmente chamou as nobres senhoras de “galinhas”:
(...) E quis Deus... Agora eu sei que vai dar imbróglio, mas eu citei foi o Livro Mein Kampf , de Adolf Hitler que eles tinham...Tem no livro. Ô Senadora Ideli Salvatti, eu trouxe outro livro. Não é ela não. Ela tem que ler... Eu admiti o Luiz Inácio não ler, mas Senadora não. O Livro Mein Kampf? Professora que não sabe, eu não admito não. Tem que fazer aquele concurso.Não está no livro que, no esquema socialista, comunista, partido do trabalhador, tinha a espécie. Tinha uma função lá para divulgar. É na história da Alemanha nazista, quando Hitler teve 96% de preferência. Não vem aqui.. .Eu não temo negócio de coisa, não. A ignorância é audaciosa, mas ninguém vem abrir, não. Eu abri foi o livro. (Interrupção som)
O SR. MÃO SANTA (PMDB – MS) – Eu li foi o livro todinho: Mein Kampf. E o Partido do Hitler usava esse artifício. Aqueles que ficavam a mando de Goebbles, só falando das obras, das obras – antes de nascer – das obras, das obras, todo o tempo. Então, essa é uma situação histórica. E nós não temos medo de nada aqui, não. Nós temos medo de ter medo; medo de nos agacharmos diante da corrupção que está aí. Então, eu quero dizer o seguinte, essa é a verdade: nesse imbróglio todo, por uma falta de decisão – como ele – aqui quis Deus, veio o Ministro da Educação, Paulo Renato. Eu perguntei quantas vezes ele tinha vindo aqui. Paulo Renato saiu agora e disse “Quase vinte vezes”. Quase vinte vezes, Paulo Renato atendeu os chamamentos e esclareceu. Então, o erro... E um erro, uma desgraça nunca vem só, a Mãe do PAC atinge a Mãe da Decência, a Mãe da Dignidade, a Mãe da Virtude, que é a Srª Ruth Cardoso.(Interrupção do som.)
A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT – SC) – Questão de ordem, Sr. Presidente.
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