quinta-feira, 24 de julho de 2008

Bernardo Cabral*

Imprensa Livre

É preciso ter convivido – ou conviver – com as críticas e elogios que importantes veículos de comunicação do País fazem a determinados segmentos da Sociedade para receber os elogios com humildade e como prova irretocável do dever cumprido e acolher as críticas como decorrência natural da atividade como homem público. Isso porque, em ambos os casos, nenhum brasileiro, jornalista ou não, jamais poderá se decuidar de que tem o direito inalienável de expressar livremente as suas idéias. É bem verdade que, no ardor do trato da notícia, alguns jornais e jornalistas podem ter a tendência de transformar casos em causas, levados pela paixão – política, partidária, religiosa ou empresarial – provocando, com isso, equívocos em sua obra e eventuais injustiças para com aqueles que foram alcançados por sua verrina. No entanto, esses deslizes ocasionais, quando ocorrem, não podem ser invocados como instrumentos de retaliação contra o arcabouço da imprensa brasileira, através de modificações legais, colocando em risco o conceito da liberdade de expressão. É que nenhum país será grande, nenhuma nação conseguirá se desenvolver ou viver em harmonia com seus cidadãos, se não for protegida e estimulada por uma imprensa livre. Uma imprensa controlada pelo Estado ou pelas elites dominantes pode permitir a eclosão de não apenas uma, mas duas ou várias ditaduras numa mesma região. Por motivos mais do que conhecidos, os governantes brasileiros – salvo raríssimas exceções – insistem em ver jornais e jornalistas como inimigos em potencial e não como aliados permanentes de seus programas administrativos. Nesse passo, vale lembrar que sem a imprensa brasileira não teríamos uma nação brasileira, os nossos irmãos negros continuariam escravos no pelourinho e permaneceríamos um país atrelado ao obscurantismo. A grande verdade é que uma nação onde a imprensa não é livre, é uma nação onde o medo prevalece sobre a esperança, o ódio subjuga o amor e a vida perde o ânimo de ser vivida.
*Bernardo Cabral foi relator da Constituinte de 1988, presidente da OAB num dos momentos mais tensos da História política do Brasil, ministro, senador do Amazonas, consultor da presidência da CNC e, agora, colaborador permanente deste Blog. Orgulho para nós.

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