Futuro dos "brasiguaios" é incerto e causa tensão
A comunidade brasileira no Paraguai aguarda com incerteza e preocupação a posse de Fernando Lugo. Eleito presidente pela Aliança Patriótica para Mudança, uma coligação de partidos de esquerda históricamente antibrasileiros e, apoiado por diversos movimentos sociais nacionais e outros ligados, patrocinados e coordenados por organizações transnacionais, o ex-Bispo católico promete tirar dos estrangeiros a posse de suas terras. Com uma trégua acertada com o Movimiento Campesino Paraguayo até sua posse em 15 de agosto, o país poderá ser palco de invasões e conflitos fundiários. Hoje, o Paraguai é o quarto maior produtor de soja do mundo. Considerando sua área total, esta posição chega ao primeiro lugar. Cerca de 90% da área plantada está nas mãos de brasileiros. As exportações de grãos para os mercados regional e europeu geram 70% da receita de impostos do país.
Cultura de Inverno: Trigo e milho.
Os primeiros colonos brasileiros chegaram ao Paraguai nos anos sessenta. A terra barata e a mata virgem atraíram agricultores pobres, a maioria, vindos do interior do Rio Grande do Sul. “No início passamos miséria, não havia nem estradas, mas com suor e trabalho muitos conseguiram prosperar. A Bacia do Rio Paraná possui as melhores terras cultiváveis de mundo”, disse o agricultor Josemir Simon. Segundo o Itamaraty, estima-se que 450 mil brasileiros vivam no Paraguai. Considerando seus descendentes paraguaios ou com dupla cidadania, esse número pode alcançar 750 mil pessoas.
A crise pode se agravar.
A questão é saber quem vai fiscalizar e garantir que o acordo seja respeitado, o que não está ocorrendo com outros acordos. O de Itaipu poderá vir a ser rediscutido a pedido do novo presidente. Outros relacionados ao combate ao contrabando e ao tráfico de drogas estão sendo descumpridos e as ações ilícitas protegidas pelos governos locais e com colaboração da Armada Paraguaya.
Questão brasiguaia: bomba prestes a explodir
Se o discurso do candidato vitorioso à presidência do Paraguai for colocado em prática, região corre sério risco de ter conflito armado de grandes proporções
É com preocupação que um dos mais antigos agricultores brasileiros no Paraguai vê o futuro da sua família. O paranaense Antônio Dohmer chegou ao país em 1964. Enfrentou as dificuldades da falta de estradas, saneamento básico e saúde. Do trabalho árduo nas primeiras plantações de hortelã à conquista da terra desbravada e comprada hectare por hectare, se passaram mais de quatro décadas. Com o tempo se foi também a energia do trabalhador da lavoura, e chegara a responsabilidade de administrar o que foi plantado no passado para garantir o futuro da família.
Mas a realidade é bem diferente da prognosticada quarenta anos antes. Dahmer vive em Santa Fé del Paraná. Uma cidadezinha agrícola situada há 50 km da fronteira com o Brasil. Parte de suas terras acabou inundada para a criação do Lago de Itaipu e ele até hoje não foi indenizado. A outra parte situa-se na Faixa de Fronteira, área exclusiva de cidadãos paraguaios. Para se adequar à lei que restringe a ocupação dessas terras, transferiu a propriedade para o nome de seus quatro filhos nascidos no Paraguai.
Jornalista Kaiser na Paraguai.
A indignação é a mesma de milhares de brasileiros que vivem nessa situação. Se houver um recrudescimento das ações do MCP (movimento dos trabalhadores sem-terra do Paraguai) com invasões de terra e destruição de propriedades privadas, um sério conflito armado poderá acontecer e desestabilizar a região. A conseqüência disso seria desastrosa e poderia se espalhar pelo Brasil e Argentina, com ações coordenadas pelo MST e a Via Campesina, colocando em risco a Usina de Itaipu, torres de transmissão e o abastecimento de energia de toda região Sul do Brasil. Por outro lado, fontes de Defesanet afirmaram que se acontecer o confisco de terras brasileiras no departamento de Alto Paraná, por pressão de cidadãos brasileiros a ponte da Amizade [que liga Foz do Iguaçu a Ciudad del Este] deverá ser fechada e poderá ser atacada com explosivos visando sua destruição.
Instalações das unidades agrícolas de propriedade de brasiguaios
Este problema, que até agora está no âmbito social e político poderá se tornar uma séria ameaça à segurança internacional. Apesar disso, o Planalto não tem demonstrado compromisso com a comunidade brasileira residente no país vizinho e evitado se manifestar a respeito. A partir de informes da Agência Brasileira de Inteligência, o assunto tem inquietado diferentes setores do governo e está sendo tratado com muita atenção e reserva pelo Itamaraty e os Comandos Militares. “Outros brasileiros enfrentam a mesma situação na Bolívia e foram esquecidos devido às afinidades político-ideológicas dos governos Morales e Lula”, disse um importante embaixador do Ministério das Relações Exteriores. “Se no Paraguai, a questão for tratada da mesma forma que foi na Bolívia, com certeza vamos ter um conflito armado envolvendo diretamente cidadãos brasileiros dentro de uma nação estrangeira e limítrofe, o que poderá provocar um conflito de maior escala e desestabilizar toda a região do Conesul”.Colaborou Elisa Simon
Entrevista com o Comandante Militar do Sul - Gen Ex José Elito Carvalho Siqueira
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