domingo, 3 de agosto de 2008

Observatório do Said Dib

Destaques dos jornais de hoje. Se você for assinante do Clipping da RADIOBRAS, clique nos links logo abaixo das matérias para lê-las. Nos finais de semana e feriados isto será necessário. Durante a semana, não.

Visão estreita
O Globo

TEMA EM DISCUSSÃO: Diploma de jornalista
Pelas características da profissão de jornalista, o debate sobre a exigência do diploma de faculdade de Comunicação para que se possa exercer a atividade costuma ser de grande amplitude. Mas, a rigor, os pontos centrais da questão são poucos e têm a ver com a qualificação exigida para alguém enfrentar, nas mais diversas mídias, a tarefa de informar a sociedade com um mínimo de competência. A pergunta-chave é: um único curso superior poderá formar profissionais capazes de apurar, processar e transmitir, de forma eficiente, informações sobre um número de assuntos tão grande como o que constantemente chega às redações? Sensatamente, não.
Cabe lembrar que a profissão de jornalista foi inicialmente regulamentada pelo regime militar, em 1968 - por óbvio, sem qualquer discussão. Estabeleceu-se um período para a regularização dos que já trabalhavam e, passado certo tempo, só formados em faculdades de Comunicação puderam ser contratados pelas empresas. Assim, foi decretada a morte de uma salutar diversidade de formações que constituía um rico condimento intelectual e dava estilo e vida próprios às redações formadas até o final da década de 60.
Editorial
Visão estreita

Panorama Político :: Ilimar Franco
O Globo

No vácuo
O presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, afirma que há uma "inquietação" no Judiciário com a "paralisia" do Legislativo. Por isso, diz que o tribunal vai continuar tomando iniciativas como a verticalização das coligações e a fidelidade partidária. Ele vai além e diz que o Direito, para avançar, não precisa, muitas vezes, de novas leis, mas de um novo olhar interpretativo sobre as já existentes.
Abrindo passagem para Dilma
Os petistas que estiveram cotados para concorrer à Presidência da República em 2010 estão saindo de campo em favor da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Dirigentes petistas constatam: 1. Patrus Ananias não se movimenta, seu destino é o governo de Minas Gerais; 2. Jaques Wagner, se estiver bem, concorrerá à reeleição na Bahia; 3. Marta Suplicy "carrega a dor e a delícia de ser de São Paulo". O ministro Tarso Genro (Justiça) também tirou o time: "Não me incluo no rol de candidatos à presidência. Vou seguir a orientação do presidente. Daqui a um ano vou ver se concorro ao governo (RS) ou ao Senado".
Panorama Político :: Ilimar Franco

Veríssimo
O Globo
Infernal Sobre o portal do Inferno, segundo Dante, está escrito: "Abandone toda a esperança aquele que aqui entrar." Não sei onde, em Genebra, realizou-se a última reunião da Organização Mundial do Comércio para mais uma rodada da agenda de Doha, que busca acertar as pontas do comércio internacional, mas sobre a porta de entrada da sala de reuniões deveria estar escrito: "Abandone toda a hipocrisia aquele que aqui entrar." A hipocrisia que rege o atual "sistema mundial" (como diz o Immanuel Wallerstein) chamado de globalização sobrevive nas diretrizes pseudogenerosas do FMI e do Banco Mundial para ajudar os devedores a pagar aos credores e em todas as bem-sonantes exegeses neoliberais, mas não resiste a uma reunião da OMC. É lá que a globalização mostra a sua cara real, os ricos ostentam o seu poder e sua arrogância e os pobres perdem a ilusão - e a esperança - de serem tratados como iguais. Sem a hipocrisia para disfarçar, prevalecem os interesses dos que têm mais cacife, e palavras como altruísmo e transigência soariam tão estranhas como soariam numa mesa de pôquer - que, como sabem todos, é o último lugar onde se deve procurar a bondade humana. O FMI e o Banco Mundial amolecem os pobres, desaconselhando subsídios agrícolas e barreiras comerciais, depois a OMC dominada pelos países ricos entra na sala como o tira duro, para dizer que subsídio e barreira pode, sim, mas só para quem manda. E vá tentar sair dessa delegacia infernal com argumentos.
Veríssimo

Elio Gaspari
O Globo
Pelos camelôs

A ida de Lina Vieira para a Secretaria da Receita Federal permite a esperança de que no novo cargo ela ressuscite uma iniciativa que lançou em 2006 como secretária de Tributação do Rio Grande Norte. Ela se chamou "Cresce RN" e destinava-se, num dos seus aspectos, a estimular a formalização dos vendedores ambulantes.
O camelô ou dono de barraquinha que comprasse (com nota fiscal) até R$36 mil anuais em mercadorias podia se inscrever no programa. Recebia um número de cadastro e uma carteirinha, sem pagar nada, nunca. O pulo do gato estava na nota fiscal, pois o cidadão provocaria a formalização de sua compra, junto a um vendedor que nada tem de pobrezinho. O programa recebeu poucas adesões e, por outros motivos, acabou afogado pelo Simples. Talvez seja possível repensá-lo. Seria mais produtivo do que perseguir os ambulantes
Elio Gaspari

Ancelmo Gois
O Globo

Palocci, a fixação
Lula continua com a fixação de reabilitar, de alguma forma, Antonio Palocci. Esta semana, em Salvador, voltou a dizer para um grupo que o ex-ministro "ainda tem um papel político importante a cumprir". O caso de Palocci aguarda julgamento no STF. Atraso diminuiu
A Anac conseguiu reduzir o índice de vôos que atrasam mais de 30 minutos.
Em julho, ficou abaixo de 16%, próximo ao da Inglaterra.
Aliás... Neste mesmo período do ano passado, quando ocorreu a tragédia com um avião da TAM em Congonhas, os atrasos acima de meia hora afetavam 42,7% dos vôos.
Tio Patinhas (...)
Ancelmo Gois

Grande avanço :: Suzana Blass
O Globo

O Supremo Tribunal Federal (STF) vai analisar uma questão fundamental para a sociedade e para a democracia brasileiras: a tentativa de desregulamentação da profissão de jornalista com a exigência de diploma de curso superior específico para obtenção do registro profissional. A questão vem sendo discutida nos tribunais desde 2001, quando uma juíza de São Paulo acolheu representação contra a regulamentação.
O argumento contrário à exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista é de que ela fere a liberdade de expressão. Isso é falso. A liberdade de expressão de qualquer pessoa é assegurada por inúmeros colunistas de formações variadas, escrevendo sobre os mais diversos assuntos. Não há limitação à liberdade de expressão e de opinião. O que a legislação estabelece claramente, desde 1969, é a necessidade do curso superior em Jornalismo para as funções específicas de apuração, produção e edição de matérias jornalísticas.
Grande avanço :: Suzana Blass


Petróleo incendeia campanha
O Globo

Injeção de R$4,5 bilhões dos royalties cria guerra entre ex-aliados em sete municípios Chico Otavio e Maiá Menezes
Acobiça gerada pelo dinheiro do petróleo inflama a disputa eleitoral em sete municípios banhados pela Bacia de Campos. A briga pelo inventário dos royalties (só na atual gestão, foram injetados R$4,5 bilhões nessas cidades) provoca rompimentos entre aliados, cizânia em clãs políticos, acusações de traição, uma lista extensa de pedidos de impugnação e um festival de denúncias que põe em xeque a aplicação dos recursos. Ex-prefeitos, da primeira geração dos royalties, chamados na região de sheiks, e atuais prefeitos - em geral, ex-aliados - se enfrentam na arena política numa luta encarniçada pelo direito de continuar gerindo esta montanha de recursos.
Petróleo incendeia campanha

O perigoso isolamento da agricultura
Folha de SP
Rubens Ricupero
A saída é diversificar e não jogar tudo na agricultura. O que depende, por sua vez, de câmbio melhor, juros menores
A MAIS inquietante lição do fracasso de Genebra foi a revelação de como são poucos os interessados na genuína liberalização do comércio agrícola. O segundo ensinamento é que as dificuldades serão ainda maiores em âmbito bilateral ou regional, não existindo alternativa satisfatória para fórum de 153 países como a OMC (Organização Mundial do Comércio). A soma dessas duas parcelas é que economias como a brasileira, cujas vantagens comparativas se concentram em pequeno número de produtos agrícolas, terão opções cada vez mais limitadas para sua estratégia comercial. Nada ilustra melhor essas verdades do que o impasse responsável pelo fiasco final. De um lado, os EUA, cuja posição só pode ser qualificada de cínica: querem manter o dobro dos subsídios efetivamente utilizados e, ao mesmo tempo, obrigar os asiáticos a abrirem os mercados para produção subvencionada e desleal, que liquidará a agricultura interna. Do outro lado, a Índia e a China. Tomam carona na abertura dos demais a suas manufaturas e seus serviços para serem os campeões mundiais do crescimento. Nem por isso abrem o mercado agrícola até para "aliados" como o Brasil, que já se abriram à indústria chinesa e aos serviços indianos e não usam subsídios. Os europeus, que nunca tiveram interesse sincero pelo êxito de uma negociação concentrada na agricultura, vertem lágrimas de crocodilo para disfarçar a satisfação de terem deixado a outros a culpa pela ruptura.
Rubens Ricupero

Desrespeito à nação
Folha de SP
O governo ignora o limite da sociedade, já vencido, de transferir dinheiro ao Estado na forma de impostos
HISTORICAMENTE , o setor público brasileiro, com raras, preciosas e muito especiais exceções, sempre sofreu de uma doença absolutamente nociva à saúde da economia: a incontinência fiscal.Nem o remédio máximo da democracia, que pressupõe um Estado mais sensível e respeitoso aos anseios da população, foi capaz de promover a cura de tão insidioso mal.O mais grave é que, além de gastar mais do que deveria, o governo ainda financia esse vício incurável à custa de uma solução desprovida de criatividade: o aumento de impostos.Somos vítimas, no país, de três instâncias governamentais (federal, estadual e municipal) autônomas para criar tributos e, invariavelmente, vorazes quanto ao dinheiro das pessoas físicas e jurídicas. E tudo isso com a bênção da Constituição, que completa 20 anos em 2008 sem que as suas reformas estruturais -entre elas, a tributária- tenham sido realizadas.
Paulo Skaf: Desrespeito à nação

Brasil fez mais escutas que os EUA em 2007
Folha de SP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Enquanto no Brasil foram realizadas legalmente cerca de 409 mil escutas telefônicas em 2007, no mesmo período a Justiça dos EUA autorizou 2.208 interceptações, segundo levantamento do advogado Fernando Tibúrcio Peña passado com exclusividade à Folha. Os dados foram obtidos diretamente das cortes americanas.De acordo com os cálculos de Peña, se a média americana de 94 pessoas por número ou meio interceptado pudesse servir de base para o caso brasileiro, "chegar-se-ia ao impressionante número de 38,44 milhões de indivíduos alvos de "arapongagem"" em 2007.
Brasil fez mais escutas que os EUA em 2007

O fator poderoso
Folha de SP
Janio de Freitas

Como regra, a lei continua abaixo dos militares, como se todos se confundissem com as Forças Armadas

A DIVISÃO É velha e não se extinguirá porque a força não o permitiria. Ainda assim, o improvável êxito da reabertura de discussão sobre o alcance da anistia, para isentar ou não de punições os militares criminosos de tortura e assassinatos, não diminui o mérito de afinal um governo abordar o assunto, nos 23 anos de regime civil. Tanto mais que dois ministros, Paulo Vanucchi (Direitos Humanos) e Tarso Genro (Justiça), expuseram argumentos sobre a limitação da lei de anistia aos crimes políticos, sem beneficiar crimes comuns e imprescritíveis por tratados internacionais, sendo a tortura declarada crime contra a humanidade.Ao que um dos dois ministros da Defesa, Nelson Jobim, deu com presteza sua esperável e assargentada resposta: "A lei da anistia não muda", e pronto. Em tempo: o outro ministro da Defesa, Mangabeira Unger, também anteontem divulgou como ele "quer" o Exército na pretensa defesa da Amazônia, mas, de fato, os ministros da Defesa continuam sendo três: os chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, os que decidem com seu pessoal.

Dora Kramer
Estado de SP
Os torturados na democracia

O estado de completa insegurança do público e a incapacidade provada e comprovada do Estado em enfrentar o aumento inclemente da criminalidade não interditam o debate sobre o acerto de contas com os crimes da ditadura, pedido por perseguidos políticos, familiares de mortos e agora encampado pelo governo federal.A discussão é pertinente, a cobrança é legítima, o entendimento de que torturadores não são criminosos políticos, mas facínoras como outros quaisquer faz todo o sentido, mas não se trata de uma questão que requeira do poder público uma providência urgente nem que esteja a assombrar a Nação.Esta hoje se estarrece muito mais com os crimes que assiste, e sofre, no cotidiano presente, do que com as violências cometidas no passado por um Estado que avocou a si o direito de posse sobre o pensamento de seus cidadãos. Na última quinta-feira, a punição aos torturadores do regime militar e a exclusão deles da Lei de Anistia foram reabertas durante uma audiência pública do ministro da Justiça, Tarso Genro, e do secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, com a Comissão de Anistia. Até então ambíguo na abordagem do tema, com uma tendência a não reavivar atritos com os militares - posição expressa na manutenção do sigilo sobre os arquivos do período autoritário -, o governo foi explícito na defesa da punição aos torturadores.
Dora Kramer

Agricultura brasileira vai bem sem Doha
Estado de SP
Alberto Tamer

Doha se foi, mas a agricultura brasileira e mundial vão bem. Não será por causa do fracasso das eternas negociações que a produção mundial deixará de crescer. Este ano, vai bater um novo recorde e os preços das commodities agrícolas começam a entrar em fase de acomodação. Podem voltar a aumentar, sim, mas o grande salto passou. Entre 15 de junho e 22 de julho, houve até um recuo de 6,4%, em dólar, de acordo com o tradicional levantamento feito a cada semana pela revista britanica The Economist. Mas é importante ressaltar que, em 12 meses até julho, a alta dos preços das commodities agrícolas ainda é de 47,9%. Ou seja, aumentaram muito, estabilizaram-se depois e agora mostram tendência de ligeiro recuo.

Coisas da Política :: Mauro Santayana
Jornal do Brasil
Distribuir para crescer
O QUE FAZ AS REVOLUÇÕES não é o desespero, mas, sim, a esperança. Quando os povos se revoltam, revoltam-se na busca de uma vida melhor, em que haja mais pão e mais liberdade, que, juntos, significam dignidade. Mas as revoluções nem sempre se realizam com sangue e chumbo. Maria Auxiliadora Sampaio, de 28 anos, moradora de Fortaleza, foi assunto, na semana passada, do New York Times. Matéria assinada por Alexei Barrionuevo recolhe seu testemunho de vida, idêntico ao de milhões de outras pessoas, principalmente mulheres, que constituem a nova humanidade que emerge do chão do Brasil. "Eu me sinto fazendo parte do povo que está subindo no mundo. Quando você não tem nada, não tem uma profissão, não tem de que viver, você não é ninguém, você é um mosquito. Eu não era nada. Hoje, estou no céu". Maria Auxiliadora recebia ajuda do Bolsa Família. Animada, há dois anos conseguiu um empréstimo de 190 reais e comprou um estojo de manicure. Trabalhando de casa em casa, formou sua clientela e hoje ganha quatro salários mínimos ao mês. Seu próximo passo será a compra de um equipamento de esterilização de seus instrumentos de trabalho ­ o que, provavelmente, melhorará os seus rendimentos. Maria Benedita de Sousa, também de Fortaleza, que, há cinco anos arranjou um empréstimo do Banco do Nordeste, comprou duas máquinas de costura e iniciou pequena confecção de roupa íntima feminina. Hoje tem 25 empregados, produz 55 mil peças por mês, já comprou casa própria e vai comprar seu segundo carro. Antes disso, trabalhava em uma fábrica de jeans e recebia o salário mínimo. Há menos de cinco anos, o Brasil estava longe de qualquer revolução, porque os pobres estavam desprovidos de esperança. Os programas sociais do governo, ao permitir modestíssima expansão do consumo, fizeram crescer o mercado interno ­ a única garantia de prosperidade nacional segura ­ e deram empuxo ao processo geral de desenvolvimento. O governo, agindo pela pressão das circunstâncias, diante do quadro de miséria que ameaçava a boa ordem burguesa, atuou de forma a aliviar a situação. O mérito é das próprias pessoas beneficiadas pelos programas, as mais pobres do país, que, em sua maioria, decidiram usar a modesta bengala da ajuda a fim de saltar o círculo de giz e sair do desânimo para a esperança. A ajuda aos pobres não foi esmola, como muitos acreditavam que fosse, mas investimento econômico de resultados concretos. Há quem considere absurdo o fato de que alguns dos beneficiados pelo programa de Bolsa Família tenham comprado geladeiras e fogões a gás. É provável que tais críticos só admitam o benefício do conforto a alguns privilegiados e não a todas as pessoas. Durante o governo do senhor Itamar Franco ­ em reunião que discutia a idéia da privatização das estatais ­ o senhor Pérsio Arida disse que só deviam ter acesso aos benefícios da civilização os que pudessem pagar por eles. Esse raciocínio não é apenas condenável do ponto de vista humano; é um acinte à lógica do ponto de vista econômico.
Coisas da Política :: Mauro Santayana

As incertezas recomendam cautela :: Luiz Gonzaga Belluzzo
Jornal do Brasil
E C O N O M I S TA
E ntre 2003 e 2007 a economia brasileira empreendeu uma respeitável redução de sua vulnerabilidade externa. A balança comercial foi a estrela dessa façanha. Benfazeja, a situação internacional empurrou o superávit na conta de mercadorias para além dos US$ 40 bilhões em 2007. A elevação dos preços das commodities e os diferenciais de juros, numa conjuntura de rendimentos modestos, ensejaram, simultaneamente, a ampliação do saldo comercial, o rápido crescimento das importações, acumulação de reservas de US$ 200 bilhões e a valorização do real. Esses resultados animaram alguns analistas a clamar pela entronização do país na categoria de investment grade. As agências de risco responderam aos reclamos dos bra- sileiros e reconheceram as façanhas do emergente sul-americano. É recomendável, porém, cautela e modéstia quando o ambiente internacional transita de uma conjuntura excepcionalmente favorável para outra em que prevalece a incerteza. A euforia provoca o descuido. A valorização do real é uma armadilha. No começo, a cana é doce: o dinheiro externo entra fácil atraído pelo diferencial de juros e pelas expectativas de ulterior valorização da moeda local. O dólar abundante trata de desempenhar o papel que lhe emprestaram. No primeiro ato, escorrega, reduz o saldo na balança comercial e, na conta corrente, dá corda à remessa de lucros e dividendos. No segundo, exige, atemorizado, que lhe paguem mais juros para permanecer no país. Desde os anos 80, o Brasil marcou passo no que se refere à sua pauta de exportações, concentrando as receitas nos produtos cujas vendas crescem menos quando a demanda externa aumenta (commodities agrícolas e industriais) e, além disso, as exportações de manufaturados tornaram-se mais dependentes dos preços do que das quantidades. Desgraçadamente, as últimas cifras da balança comercial revelam que muitos setores industriais (borracha e plásticos, máquinas, produtos de metal, química, eletrônica, têxtil e vestuário) apresentam déficits crescentes em suas transações com o exterior. No primeiro semestre, a indústria brasileira, em seu conjunto, apresentou um déficit de US$ 18 bilhões. O superávit comercial declina. A "virada" do balanço de transações correntes será tão mais rápida quanto maior a velocidade da contração da economia mundial, com "ajustamento" de preços das commodities.
As incertezas recomendam cautela :: Luiz Gonzaga Belluzzo

Anarquistas tentam sair do túmulo
Jornal do Brasil
Corrente que é contra o governo central busca ocupar espaço abandonado pela esquerda
Raphael Bruno

Afastado do cenário político e ideológico brasileiro há décadas, o anarquismo, corrente de pensamento que defende a ausência de governo central e a auto-gestão da produção econômica pelos trabalhadores, tenta ressurgir no país apostando em movimentos sociais tradicionalmente negligenciados pela esquerda partidária. Inspirados por experiências internacionais, entidades de orientação anarquista vislumbram recuperar um pouco da força política que um dia tiveram no Brasil. As poucas centenas de militantes anarquistas que hoje atuam em meia dúzia de entidades mal lembram o peso político que o movimento já teve no país. No começo do século XX, impulsionado pela imigração de trabalhadores europeus, o anarquismo dominava os círculos operários. Por anos, esteve à frente das principais greves e mobilizações sindicais.
Anarquistas tentam sair do túmulo

Brasília está de fora :: Maurício Corrêa
Correio Braziliense

Brasília não tem eleições municipais. Para a maioria da população isso significa alívio. Campanhas eleitorais invadem, nessas ocasiões, espaços de rádio e televisão, subtraindo do usuário o direito de ouvir e ver seus programas preferidos. Quem tem televisão a cabo ou antena parabólica ainda pode se dar ao luxo de mudar de canal. Quem não tem, o recurso é amargar com as conseqüências. Ou desliga o aparelho, ou suporta o sacrifício de acompanhar a lengalenga. Faixas, cartazes e toda parafernália usada nas campanhas criam clima de agitação. Estridências de alto-falantes apoquentam os ouvidos das pessoas em casa, no trabalho e na rua.
Brasília está de fora :: Maurício Corrêa

Marcos Coimbra
Correio Braziliense
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
marcos.coimbra@correioweb.com.br
O Joio e o Trigo
Correio BrazilienseSe olharmos os candidatos a prefeito na grande maioria de nossas cidades, o que vamos encontrar, como regra, é gente séria, que encara com responsabilidade o trabalho para o qual se propõe. Quem trabalha com eleições e candidatos há muito tempo, às vezes se alegra e às vezes se entristece com o tratamento que esses temas recebem da imprensa e dos meios de comunicação. Não só eles, mas a política, de maneira geral, podem tanto ser tratados de um modo justo, como injusto. Para tomar um exemplo recente: na discussão da questão Daniel Dantas, nossa imprensa teve desempenho positivo, preservando sua capacidade crítica e mantendo visão equilibrada. Ajudou-nos a todos a entender o que estava acontecendo.
Marcos Coimbra
Visto, Lido e Ouvido :: Ari Cunha
Correio Braziliense
Subsídios no campo
Luta o Brasil com fervor contra os subsídios da Europa e Estados Unidos aos produtores agrícolas. Faz muitos anos que nos colocamos contra o fato de estrangeiros venderem barato as produções do campo. Para cortar essas contribuições, os países teriam muito a perder perante a lavoura. Vê-se que nós damos incentivos aos plantadores dos estados. A fórmula do auxílio é diferente e também poderia ser combatida. O dinheiro ou favores chegam às mãos via governo ou pelas empresas. É o caso, por exemplo, do fumo. A Souza Cruz investe em tudo e produz o fumo melhor do continente. É um setor dos que mais contribuem para com o fisco. Talvez por isso o Brasil seja contra o fumo, mas não cancela a venda. A renda cairá muito na arrecadação. Pelo que se vê, há interesses de ambos os lados. A ganância jamais deixou governos sem ação. As lutas são mais intestinas do que públicas. Cabeça fria marca a posição do governo brasileiro nesse fato. Melhor esperar que a onda suba ou desça dentro do critério que mais interesse a quem está com a vontade. Brigar é o pior. De outra vez, quem ganha pode precisar dos votos. Isso é o bastante para deixar a água passar. Melhor será ter paciência.
Visto, Lido e Ouvido :: Ari Cunha

Brasília -DF :: Denise Rothenburg
Correio Braziliense
Se depender de Lula…
denise.rothenburg@correioweb.com.br
Com Guilherme Queiroz O presidente da República pretende passar a imagem de que as disputas pela presidência da Câmara e a do Senado serão de trato exclusivo dos congressistas. Mas, no fundo, não é bem assim. Ele gostaria muito de ver o deputado Michel Temer (PMDB-SP) eleito presidente da Câmara e o senador Tião Viana (PT-AC), do Senado. Agora, só falta combinar com os russos, ou melhor, com os senadores do PMDB que, por enquanto, não se mostram dispostos a abrir mão de comandar a Casa.
Brasília -DF :: Denise Rothenburg

Nas entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
Passado é como diamanteUma “anistia ampla, geral e irrestrita” – palavra de ordem de toda a oposição –, para ser aceita pelos militares, deveria incluir o perdão a seqüestradores, torturadores e assassinos
Luiz Carlos Azedo
luiz.azedo@correioweb.com.br
(...)
Toda a esquerda brasileira se beneficiou da anistia, porém uma parte nunca aceitou a reciprocidade com relação aos militares que atuaram na repressão política. Da mesma forma como não votou a favor da eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral, não reconheceu o papel do ex-presidente José Sarney na transição à democracia e não endossou a Constituição de 1988. Ao longo dos anos, alimentou o desejo de um ajuste de contas com os torturadores e ainda vive em escaramuças com os militares na Comissão de Anistia. O ministro da Justiça, Tarso Genro, já fez parte desses setores e de vez em quando tem suas recaídas. Agora, ingenuamente, resolveu propor a mudança da Lei da Anistia para punir os torturadores e assassinos do regime militar e provocou uma onda de indignação nos quartéis. Não respeitou o histórico acordo referendado no Congresso com a aprovação da Lei da Anistia, que acelerou a democratização do país e a volta dos militares à caserna. Romper esse acordo é chamar os militares de volta à luta política, daí porque o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que acompanhou todo o debate da anistia e já presidiu o Supremo Tribunal Federal, fez muito bem em dar um chega prá lá no seu colega de Esplanada. Como dizia o Cabo Dias, “passado é como diamante, ninguém joga fora”. Afinal, a esquerda também cometeu seus “crimes de guerra” durante a luta armada.
Nas entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo

Entrevista // Tarso Genro
Correio Braziliense
Na quinta-feira, o ministro da Justiça, Tarso Genro, viveu um dia tenso. O momento mais nervoso da agenda foi um encontro com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto. A entidade está em ofensiva para impedir que o governo vete o projeto de lei que aumenta a garantia de inviolabilidade dos escritórios de advocacia. Na entrevista ao Correio, no final do dia, o ministro deixou claro que as relações entre o governo e a Ordem passam por um momento delicado. O ministro demonstrou irritação com o discurso da OAB, para quem as ações da Polícia Federal colocam em risco o Estado de Direito no Brasil. “Quando os inquéritos eram contra o governo Lula, a OAB quase pediu o impeachment do presidente”, diz. “Agora, diz que corremos o risco de um Estado policial. Isso não é verdadeiro.” Apesar disso, o governo prepara uma nova lei contra o abuso da autoridade. O ministro quer acabar com os vazamentos de informações e com a exposição de pessoas presas. “É uma pena antecipada, pela execração pública.”
Entrevista // Tarso Genro
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