sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Entrevista com o "capo" Roberto Civita



Roberto Civita, da “Sujíssima Veja”, tricota com Jô Soares e faz elogio ao golpismo contra os presidentes brasileiros

No meio da semana (dia 29), o Jô Soares entrevistou Roberto Civita, o mafioso presidente do Grupo Abril. O tema era “40 anos” da revista que o mestre Helio Fernandes, sempre com razão, chama de “a Sujíssima Veja”. O gordo, ex-empregado de Civita, talvez intimidado com a presença do mafioso, guardou para si as piadas humilhantes e agressivas que costuma fazer com pessoas simples que vão ao seu programa. Simplesmente ignorou a pauta que realmente interessava e fez uma entrevista formal e enfadonha com o dono da Abril. Nada de questões embaraçosas.


Na única pergunta que poderia ser incômoda, o entrevistador fez questão de anunciar que seria "perniciosa" e indagou sobre a "grande barriga de Veja ("erro", no jargão jornalístico), na opinião de Civita. Como o editor não respondeu direito e citou o caso PC Farias, Jô, disfarsando, praticamente pediu desculpas para lembrar o célebre caso do “Boimate”, quando a revista caiu em um conto de primeiro de abril e publicou como matéria a brincadeira sobre a operação genética que teria unido um boi e um tomate. Civita não gostou muito de recordar esta barriga, mas sorriu amarelo e tentou explicar o caso.

Apologia ao golpismo

No resto do tempo, o apresentador da Globo, como um assessor de imprensa engajado, passou apenas a levantar a bola para o dono da Abril cortar. O que mais me impressionou foi a cara-de-pau dos dois numa insólita tentativa de colocar a revista como se fosse grande baluarte de defesa da democracia durante o regime militar. Acreditem se quiser, Civita, mostrando capas antigas da “sujíssima”, ficou reclamando dos censores do regime de 64. Depois de mostrar Veja como vítima da censura do Arbítrio, o auge da insensatez foi quando o mafioso foi perguntado sobre o que seria, para ele, o grande momento da revista. Não pensou duas vezes: confessou, com orgulho, brilhando os olhinhos, que foram "os treze meses" em que a revista manipulou a opinião pública para derrubar o presidente Collor. Ou seja, o maior orgulho de Civita foi apear um presidente democraticamente eleito, com mais de 30 milhões de votos, do poder. Reclamou que, durante a "façanha", passou a ser "marginalizado pelos colegas de outras revistas". Disse que não podia sair e ir a um restaurante e que as pessoas e colegas de imprensa não falavam com ele. Coitado! Com a ajuda do Jô lambão, não faltaram elogios ao "papel heróico" dos caras pintadas.

O que não foi perguntado...

Neste momento, qualquer estagiário de jornalismo teria aproveitado a situação para associar o golpe, que orgulhosamente o capo promoveu contra a democracia brasileira, com a situação atual do país, com as atuais relações do governo Lula com a imprensa, com as críticas que a Veja vem tendo ou com o fato de que a “sujíssima” vem ficando constantemente encalhada nas bancas. Jô deveria ter dado a oportunidade para o capo falar, por exemplo, sobre as graves críticas que vem sofrendo por parte do jornalista Luis Nassif (veja http://www.benderblog.com/realidade/revista-veja-a-verdade-luis-nassif-e-mais-um-bombardeio/) Ou mesmo, dveria ter estimulado o entrevistado a comentar o que aconteceu, por exemplo, na Venezuela. Afinal, tanta gente acha que Civita também quer derrubar o Lula... Sobre as ligações do Grupo Abril com o Apartheid da África do Sul, nem uma palavra. Mas, o que o Gordo não poderia deixar mesmo de perguntar é: como o senhor Civita, que se diz um democrata que “acredita nas instituições constituídas, vê o fato de que o ex-presidente Collor, depois de apeado do poder, tenha sido totalmente inocentado pela maior Corte do País: o Supremo Tribunal Federal. Jô Soares omitiu tudo isso. Ignorou solenemente os temas mais espinhosos e, sempre que pode, desviou o assunto, passando a falar das capas que poderiam ser derrubadas "se o Papa morrer" e das que de fato foram, como a que estampava o próprio apresentador.


Processo de desnacionalização da imprensa brasileira: a fonte do poder dos Civitas apátridas da vida

Mas, o que fica de importante nesta história toda é que, enquanto a grande imprensa brasileira estiver nas mãos de pessoas como Roberto Civita, ameaças à vontade popular e à democracia serão uma constante. Os Civitas, expulsos da Itália por irregularidades, se estabeleceram na Argentina. Banidos da Argentina (também por irregularidades), fugiram e foram para os EUA. Seguindo o tipo de vida que escolheram, foram "flagrados" (em enorme escândalo), fizeram acordo, vieram para o Brasil, onde montaram "arapuca jornalística" não contra, mas em benefício e por causa da ditadura. “Veja” foi fundada por um agente americano, o falecido Victor Civita, que veio para o Brasil diretamente de Washington - seu passaporte recebeu visto na capital dos EUA, apesar dele morar em Nova Iorque. Ao mesmo tempo que este Civita era enviado ao Brasil, outro, irmão deste, era enviado à Argentina, para fazer exatamente o mesmo trabalho - açambarcar o mercado local de revistas e, antes de tudo, o de publicidade. Os Civita chegaram já com um contrato da Disney, e foi assim que bancaram suas primeiras atividades: publicando as histórias dos popularíssimos personagens da Disney. Como Civita obteve esse contrato, ele nunca explicou. Falou-se, na década de 50, em influência do Departamento de Estado, o que nunca foi desmentido. Na época, tanto no Brasil quanto na Argentina, era proibido a estrangeiros a propriedade de órgãos de comunicação. Foi enviando eles para cá, os dois Civita como testas-de-ferro, devidamente naturalizados, que os monopólios ianques entraram direto na mídia do Brasil e da Argentina. Hoje em dia, o Civita atual, o Bob Civita entrevistado por Jô Soares, continua vivendo às custas de dólares vindos do exterior. No auge do Arbítrio, em 1968, colaboraram com a repressão, eram protegidos financeiramente pelas transnacionais e, politicamente, acobertaram os setores mais "linha dura" da ditadura. Fizeram fortuna, serviram aos patrões estrangeiros, sempre em detrimento do povo brasileiro. Ou seja, figurinhas como Civita sempre se deram bem com as forças que, há muito, vêm tentando colocar o Brasil de joelhos no cenário internacional. São aqueles que se beneficiam com a desnacionalização da nossa imprensa. É o oposto de verdadeiros jornalistas como Helio Fernandes, por exemplo.

Veja o esclarecedor pronunciamento de Collor ao assumir como senador nesta Legislatura:




Quando tudo começou...

Mas, porque e como chegamos a esta situação? Por que a desnacionalização da imprensa brasileira, como já advertia o professor Sebastião Geraldo Breguêz (em genial artigo publicado na revista Civilização Brasileira nos idos de 1978), já vem de longe, "estreando passos indecisos até chegar ao estado a que chegou hoje". A alienação da opinião pública brasileira começou em 1948, com a instalação de Seleções do Reader’s Digest, reforçada com a vinda do grupo Vision Inc. (revista Visão, em 1950; Dirigente Industrial, em 1959; Dirigente Rural, em 1960; Dirigente Construtor, em 1963; Direção, adquirida da MacGraw-Hill, em 1964, e o Anuário Brasil 66, em fins de 1965). Isso sem falar no grupo Time-Life, que financiou a TV Globo, conforme relatório da CPI criada, na época, para apurar a infiltração do capital estrangeiro na imprensa brasileira. Tudo se deu, como dizia o deputado Genival Rabelo, em 1966, em artigo publicado no Tribuna da Imprensa, com o título "O Exemplo Americano de ‘Liberdade’ de Imprensa", onde se lê:

"As investigações sobre a invasão ianque na imprensa brasileira, ou melhor, sobre o complexo processo de alienação da consciência brasileira, no sentido de nos levar a admitir que a ‘solução está nos Estados Unidos’, chegarão, forçosamente, às seguintes conclusões:

** a Constituição foi brutalmente burlada desde que Seleções obteve permissão para ser impressa em português no Brasil, acelerando, desde então, o processo de manipulação da opinião pública com objetivos político-ideológicos;

** depois de dominar praticamente o setor de revistas, os americanos voltam suas vistas para os jornais, estações de rádio e televisão;

** a TV Globo, inequivocamente, foi financiada pelo grupo Time-Life;

** a discriminação publicitária, exercida por agências americanas (J. W. Thompson, McCann-Erickson, Grant Adversiting, International Adversiting Srevece, MultiPropaganda etc.), compromete a grande imprensa brasileira, quase toda ela constituída de jornais que baseiam suas receitas em mais de 80% de publicidade".

É dessa época que surge o "Manifesto à Nação" denunciando a entrada do capital estrangeiro na imprensa brasileira, assinado, então, por representantes de O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, Diário de São Paulo, A Gazeta, A Gazeta Esportiva, Diário da Noite, Diário Popular, Jornal da Tarde, Última Hora, Notícias Populares, A Tribuna, O Diário de Notícias Alemãs, Sindicato dos Proprietários de Jornais e Revistas do Estado de São Paulo, Associação das Emissoras de São Paulo e Sindicato das Empresas de Rádio Difusão de SP. Também se manifestaram o Sindicato das Empresas de Radiodifusão do Estado da Guanabara, em moção especial de solidariedade, a Assembléia Geral da Associação Interamericana de Radiodifusão, entre outros. Todas estas entidades já sentiam, naquela época, o que poderia acontecer se abrissem mão de suas independências para as empresas multinacionais. Já temiam – e estavam certas – que lhes acontecesse o que hoje está acontecendo. Aliás, quase todas citadas já estão há muito em mãos estranhas à realidade brasileira. Portanto, os apologistas do sistema de poder externo já controlavam a quase totalidade da imprensa, quando a televisão engatinhava. Como diz o economista Adriano Benayon, atualmente têm o virtual monopólio da televisão, viabilizando os meios para que as Organizações Globo continuem na dianteira sobre os demais veículos. E os que atualmente tentam concorrer com aquele grupo têm que se moldar ao sistema; transmitem a mesma desinformação vinculada aos interesses do sistema financeiro internacional em geral - e americano, em especial. Para garantir e reforçar o controle sobre a opinião pública, o sistema externo parasitário estimulou o crescimento de outros grupos tendenciosos, como o Grupo Abril, do capo Civita. Conglomerado que realiza uma verdadeira lobotomia em nossa população através de sua revistinha semanal de assuntos políticos e futilidades em geral, além de publicações de pornografia, negócios, esportes, histórias em quadrinhos americanas (obviamente...) etc.. "Essa verdadeira lavagem cerebral coletiva perpetrada pela mídia alienígena está transformando nosso país numa verdadeira senzala globalizada, numa latrina cultural para as potências ocidentais. Coisas que têm minado os valores éticos, a família, o sentimento nacional, as instituições, elementos essenciais à vida em sociedade, à coesão e à solidariedade de uma verdadeira Nação". Isso tudo é um verdadeiro crime de lesa-pátria que não pode continuar.

Veja agora como os "Civitas" lá da Venezuela agiram contra a vontade popular daquele país. Aqui, os "caras pintadas" forjados por Veja e Globo. Lá, a RCTV. CONFIRAM QUE O MODUS OPERANDI FOI O MESMO. Embora Collor e Chaves tenham visões ideológicas muito diferentes (e eu fico com o segundo), tiveram duas coisas em comum: 1º) o grande apoio popular; 2º) ambos sofreram pressões ilegítimas da grande imprensa golpista tutelada pelos EUA. O primeiro caiu; o segundo caiu, mas retornou.




Única solução: Imprensa brasileira pensada e escrita por brasileiros

Mas Estadão, JB, Gazeta Mercantil, não são exceções. Há muito são integrados, apologistas da penetração transnacional. Mesmo outros, supostos mais à esquerda, fazem um jogo dúbio não muito comprometedor, porque sabem que, do contrário, se radicalizarem, podem falir, como há um tempo ocorreu com a Folha de São Paulo. O espaço tem sido fechado aos que resistem a esse modelo, como é o caso da Tribuna da Imprensa que, nos últimos anos, vem travando uma heróica batalha para manter sua linha editorial independente. Por isso, não recebe verbas publicitárias dos governos nem das transnacionais. Pelo contrário: é perseguida e, mesmo quando tem direitos "líquidos e certos" a receber, não recebe um tostão. Por exemplo: enquanto diversos ditos “perseguidos políticos”, amigos dos Greenhald da vida (não sei se é assim que se escreve), recebem milhões em indenizações do governo federal, numa verdadeira indústria da indenização, a Tribuna, que realmente teve grandes prejuízos nos tempos de chumbo, que foi fechada, que seu dono foi preso, que teve as instalações empasteladas, fica de fora. O jornal completou 58 anos com um processo que está na Justiça há 29 anos. Quando chegar aos 100 anos, o processo da indenização terá completado 60 anos. Diante do absurdo, Helio Fernandes, recentemente, sem opção, ironizou: “meus sucessores apagarão as velas da resistência? Ou continuarão olhando para as velas apagadas da displicência?”
A direção de empresas jornalísticas, graças a uma lei do tempo de João Goulart, ratificada pela atual Constituição (1988), cabe exclusivamente a brasileiros. Porém, hoje, os grandes conglomerados estrangeiros julgam desnecessário reformá-la nesse ponto, pois é fácil recrutar apátridas locais para as causas anti-nacionais. Assim, há muito as empresas alienígenas burlam tais exigências legais. Duas CPIs, uma em 1963, outra em 1966, investigaram a penetração do capital estrangeiro nos meios de comunicação. Nas conclusões da primeira, o então deputado João Dória (pai do almofadinha júnior conhecido hoje), então presidente da CPI e um patriota, afirmou: "Em 1960 os dispêndios em publicidade somavam US$ 110,8 milhões (o equivalente a mais de US$ 1 bilhão em valores atuais), 37% à televisão, 28% ao rádio e o restante a outros meios. A veiculação dessa publicidade está em agências, dominadas por apenas oito companhias estrangeiras. Reunidas na Associação Brasileira de Agências de Propaganda – Abrap. Controlam, ainda, a Agência Brasileira de Publicitários. Em 1959, os 11 principais anunciantes do país formaram a Associação Brasileira de Anunciantes – ABA, que incorporou mais 19. Dos 30, quase todos eram grupos estrangeiros. Grande número de revistas e jornais de posição nacionalista viu-se obrigado a suspender as edições por falta de publicidade, apesar de ter índices de vendagem mais altos do que órgãos brindados por frondosa publicidade. Além disso, organizaram-se no Brasil várias empresas jornalísticas subsidiárias de empresas americanas".
Estas palavras de João Dória são sobre dados de 1960. Imaginem qual não é a realidade de hoje, com todo esse processo de abertura criminosa provocado pela globalização?
O fechamento de jornais por questões econômicas, portanto, infelizmente, é a coroação de um processo perverso de controle e neutralização da nacionalidade brasileira pela mercantilização e alienação de tudo sob a égide do capital estrangeiro. Isso está inteiramente associado às tentativas constantes de se jogar o Brasil de joelhos perante um modelo econômico assassino e submisso. Modelo alimentado pelo marketing, pelo falso entretenimento, pela desinformação, pela concorrência desagregadora, pela subserviência de nossas elites tacanhas, pela macaquice do show-bussines americano; coisas trazidas pela mídia estadunidense desde JK, ampliadas pelos militares e, atualmente, transformadas em modelo de progresso pela "Idade das Trevas" da fase apátrida “FERULA”, FHC/Lula.
Hélio Fernandes é um dos raros exemplos de jornalista-empresário que conseguiu superar tal celeuma, por uma postura sempre radicalmente ética, não se locupletando com nenhum grupo econômico e mantendo sua independência jornalística inabalada; e sua língua sempre afiada contra a venda do País. E é simplesmente por isso que passa por dificuldades. É o último dos moicanos! Nós, brasileiros, deveríamos seguir seu exemplo. Deveríamos resistir. Tínhamos, todos, políticos, ABI, cidadãos, intelectuais, sociedade, que enfrentar uma luta pelo controle, não estatal, mas público, cidadão, sobre os veículos de comunicação.
A ABI e os sindicatos de jornalistas deveriam, junto com outras entidades de classe, assumir uma luta para que os poderes constituídos criem mecanismos de controle da sociedade civil que garantam o exercício realmente público das informações públicas. Além de expulsar definitivamente o capital estrangeiro de nossa imprensa, deveríamos passar todos os grandes veículos para o controle de quem produz a notícia: os jornalistas. Só assim poderá haver uma esperança para nossa Pátria. Em casos como o do Jornal de Brasília e o do Tribuna da Imprensa, que hoje passam dificuldades, os donos deveriam ceder a gestão da empresa para o sindicato da categoria ou a uma cooperativa dos empregados. É claro que apenas isso não resolveria, pois, num contexto em que os outros veículos continuariam com a mesma lógica mercadológica - e vinculados ao grande capital-, a empresa cooperada não teria como fazer novos investimentos, como sobreviver na selva capitalista. Não poderia concorrer com as demais empresas. Por isso, seria importante que instituições como o BNDES deixassem de financiar os especuladores e os "Globo Cabo" da vida e destinassem recursos para garantir a sobrevivência de empresas cooperativas de informações, controladas pelos próprios jornalistas. Estou falando de jornalistas, jamais do Estado. Mas, também não estou falando de "sociedade civil" dita "organizada" e esse discurso idiota de ONGs financiadas, também, pelo grande capital financeiro. Estou falando de JORNALISTAS. Isto para que, lógico!, os recursos jamais possm ser atrelados à independência editorial do jornal.
Afinal, pergunta que não quer calar: por que se admite os PROERs da vida para os banqueiros e não para os trabalhadores da informação e da democracia?

(*) Said Barbosa Dib é historiador e analista político em Brasília

Veja também:

Roberto Requião: “Robert Civita é o Al Capone da imprensa ...

Um comentário:

  1. Cara, acho que tu pedou um pouco pesado com o lance do Collor, porque a Veja (e boa parte da imprensa) já vinha comentando que o cara era sujíssimo antes de ele ser eleito.

    Mas enfim, cada um com a sua opinião.

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