O segredo para se reeleger
Maiesse Gramacho
Para continuar no cargo, candidatar-se por um grande partido faz toda a diferença, mostra estudo da UnB
Exercer um bom mandato não garante a reeleição dos governantes. Políticos identificados com a melhoria dos instrumentos da gestão pública apresentam os mesmos índices de continuidade no cargo de candidatos que mantiveram ou pioraram a gestão. O dado, surpreendente, está na pesquisa do cientista político Antonio Lassance, autor da dissertação de mestrado “Bases da Política Brasileira: um estudo das reeleições nos municípios”, defendida no Instituto de Ciência Política (Ipol) da Universidade de Brasília (UnB).
O estudo revela a existência de motivos mais relevantes para continuar no cargo, como o partido do candidato. O estudo analisou 240 variáveis, referentes a mais de 5.500 municípios, na série histórica das três últimas eleições municipais (1996, 2000 e 2004). Confrontou nove indicadores e variáveis para descobrir quais delas se destacaram na reeleição dos candidatos.
Nas eleições de 2000 e 2004, por exemplo, a porcentagem de reeleição foi de 18,3% para os políticos com melhores índices em sua gestão, e de 18,73% para aqueles com índices regular ou ruim. “O fato de melhorar os instrumentos de gestão faz diferença para o funcionamento das prefeituras, mas dialoga pouco com o público”, afirma Lassance.
Para chegar a esses dados, o pesquisador utilizou dados das Pesquisas de Informações Básicas Municipais (Munic), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entre eles, constam estatísticas sobre a relação entre o número de servidores por habitante, a existência de empresas públicas específicas para certas demandas, bem como a existência de plano diretor e elaboração de lei de diretrizes orçamentárias.
O PESO DA SIGLA – Por outro lado, a pesquisa identificou uma característica comum entre os reeleitos: o peso dos grandes partidos. As agremiações de maior influência na vida nacional apresentam as menores taxas de insucesso quando comparadas aos partidos “nanicos”. Nas votações de 2000 e 2004, pequenos partidos como o Partido Social Democrata Cristão (PSDC), Partido Trabalhista do Brasil (PT do B) e Partido Social Liberal (PSL) tiveram fracasso em 87,5%, 83,33% e 80% das tentativas, respectivamente.
Entre os grandes, a taxa de fracasso é bem mais baixa. Para o Partido dos Trabalhadores (PT), legenda do presidente da República, esse número foi de 24,59%. Para o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), de 29,78%, para o Democratas, de 33,67%, e para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), 33,64%.
Segundo o cientista político, a explicação está no relacionamento dos prefeitos de seus partidos com aliados instalados nos governos estaduais ou federal. Isso se traduz em mais recursos provenientes de emendas parlamentares ao orçamento e programas que beneficiam tais localidades, que dependem sobretudo de decisão política.
“O eleitor vota em uma determinada pessoa porque acha que ela tem atributos que o outro não tem, como implementar programas, por exemplo”, diz. Lassance enumera, ainda, dois outros motivos. Um, de que os partidos são essenciais na definição das regras do jogo e as fazem com o objetivo de fortalecer suas estratégias e a de seus correligionários. Além disso, “os partidos são referências para o debate público e economizam detalhes do julgamento feito pelos eleitores”.
REGIÕES – Outra descoberta da pesquisa foi que o perfil de reeleições é praticamente o mesmo desde as pequenas cidades rurais até as grandes metrópoles. “As diferenças existem, mas elas têm pouca relevância para as reeleições”, afirma. Lassance analisou seis grupos urbanos: pequenas cidades rurais, pequenas cidades urbanas, cidades médias (100 a 500 mil habitantes), cidades grandes (acima de 500 mil habitantes), capitais e as duas megalópoles brasileiras (Rio de Janeiro e São Paulo).
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